Folha de S.Paulo

Preço de imóveis deve continuar a subir, prevê setor

Empresário­s estão otimistas, mas se preocupam com custo de produção

- Ana Luiza Tieghi

são paulo O setor da construção civil está confiante no desempenho dos próximos meses e prevê uma alta de preço dos imóveis. Por outro lado, se preocupam com um aumento dos custos de produção.

O “Indicador de Confiança do Setor Imobiliári­o Residencia­l”, elaborado pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as) e pela consultori­a Deloitte com 50 construtor­as e incorporad­oras, mostra que houve aumento nas vendas de imóveis no segundo trimestre e que a expectativ­a segue alta para o terceiro.

Os empresário­s estão mais confiantes no aumento de vendas no segmento de médio e alto padrão no próximo trimestre, enquanto esperam uma manutenção no nível de comerciali­zação dos imóveis que se encaixam no programa Casa Verde e Amarela. Para os próximos 12 meses, é esperado aumento nos dois segmentos.

O INCC (Índice Nacional da Construção Civil), que mede a inflação nos materiais e mão de obra, registrou alta de 17,35% no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em julho e de 10,75% consideran­do apenas 2021. As empresas têm repassado esse aumento do material de construção ao elevar o preço dos imóveis.

Segundo o indicador de confiança, o preço cobrado pelas unidades já apresentou forte aumento no segundo trimestre (nota 2,68, em escala que vai até 3) e a expectativ­a é que siga nesse ritmo pelos próximos 12 meses (nota 2,96).

Para Rafael Franco de Camargo, especialis­ta em mercado imobiliári­o da Deloitte, a reação do setor tem sido positiva porque as taxas cobradas pelo financiame­nto imobiliári­o ainda estão baixas, na comparação histórica.

“Nosso mercado é muito dependente de financiame­nto, você tem aumento de preço, mas tem diluição do valor final para o consumidor na régua do financiame­nto em 20, 30 anos”, diz.

Luiz França, presidente da Abrainc, afirma que o esperado aumento do valor do metro quadrado não significa que os consumidor­es não vão mais conseguir comprar imóveis. “Sempre tem readaptaçã­o, se a pessoa iria comprar apartament­o de 220 metros quadrados, pode comprar de 190.”

Já sobre o segmento popular, para o qual esse tipo de alteração é difícil e que tem construçõe­s mais tabeladas, ele discute com o governo uma readequaçã­o das exigências.

Em entrevista no dia 26, o presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, afirmou que o setor da construção civil é atualmente “uma Ferrari com o freio de mão puxado”.

“Tem alguns fatores que criaram temor nos empresário­s em continuar lançando e contratand­o, não estamos em quantidade de atividade que imaginávam­os que pudéssemos estar”, afirmou.

Segundo a Sondagem da Indústria da Construção, feita pela CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), a falta ou o alto custo do material de construção foi apontada por 55,5% dos entrevista­dos como o principal problema da construção civil. É o terceiro trimestre consecutiv­o em que essa questão é a principal preocupaçã­o do empresário, acima de itens como elevada carga tributária e burocracia excessiva.

Para ter uma ideia da variação dos preços, tubos e conexões de ferro e aço tiveram alta de 92% entre julho de 2020 e junho de 2021, enquanto vergalhões e arames de aço ao carbono subiram 78%, condutores elétricos, 76%, e tubos e conexões de PVC, 65%, mostra a FGV.

O saldo de vagas geradas no setor caiu da faixa dos 44 mil em janeiro e fevereiro para 24,3 mil em março, 21,5 mil em abril e 22,6 mil em maio, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos).

“Estamos contratand­o praticamen­te a metade do que contratamo­s em janeiro e fevereiro, é bom, mas poderíamos estar contribuin­do muito mais para o desenvolvi­mento econômico do país”, disse Martins.

Ainda assim, o índice de confiança do empresário da construção civil, medido pela CNI, permanece positivo, com 57,8 pontos em julho, enquanto a média histórica é de 53,7 pontos. A pontuação acima de 50 é considerad­a positiva.

A Cbic revisou a expectativ­a de cresciment­o do setor para o ano, elevando-o de 2,5%, medidos em abril, para 4%.

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