Folha de S.Paulo

Alta no ICMS é esforço coletivo por áreas prioritári­as, afirma SP

Secretária do governo Doria descarta novas revogações de mudança em alíquotas, apesar da pressão de setores

- Fernanda Brigatti

são paulo O corte de benefícios fiscais de ICMS no estado de São Paulo deve ser visto como um esforço coletivo para garantir investimen­tos em áreas prioritári­as, como saúde, educação e segurança pública, diz a secretária de Desenvolvi­mento Econômico Patricia Ellen.

Além disso, afirma, a suspensão nas isenções ou reduções de alíquota tem data para acabar, diz.

“Importante lembrar que todas as suspensões de benefícios foram feitas em caráter emergencia­l e temporário, de até 24 meses, justamente para que todos possam contribuir”, afirmou Ellen à Folha.

Nesse período, a expectativ­a da gestão paulista é que o governo federal avance com as reformas administra­tiva e tributária, que poderão mexer na estrutura de impostos nos estados e no volume de despesas com o funcionali­smo.

Se essas mudanças não ocorrerem nos próximos dois anos, os benefícios fiscais voltarão a ser aplicados no formato em vigor até dezembro de 2020. Segundo Ellen, esse foi um compromiss­o do governador João Doria (PSDB).

As novas alíquotas do ICMS entraram em vigor no dia 15. No mesmo dia, o governo publicou a revogação das mudanças para produtos hortifruti­granjeiros, insumos agrícolas, energia elétrica rural e medicament­os genéricos.

Para esse último, a alíquota de 12% foi mantida —passaria a ser de 13,3%. Os três primeiros continuarã­o isentos do imposto estadual.

Entidades de diversos setores ainda tinham a expectativ­a de conseguir manter seus benefícios. No agro, o leite pasteuriza­do deixou de ser isento, e as carnes vendidas para supermerca­dos enquadrado­s no Simples Nacional têm novas alíquotas.

Essas mudanças, porém, não deverão ser revogadas. Segundo Ellen, todas as revisões que seriam realizadas já foram anunciadas. “Nós estamos no limite da capacidade de investimen­to para as áreas prioritári­as. Nesta semana mesmo tivemos de adicionar 300 leitos [hospitalar­es] para garantir atendiment­o [durante a pandemia de Covid-19].”

A renúncia fiscal do governo de São Paulo passa dos R$ 30 bilhões ao ano. O ajuste fiscal aprovado no ano passado pretendia gerar uma receita de R$ 7 bilhões ao ano para o caixa do estado. O valor ainda não cobriria o rombo de R$ 10 bilhões causado pela crise econômica em decorrênci­a da pandemia.

A manutenção dos benefícios para a produção de alimentos e medicament­os genéricos custará cerca de R$ 520 milhões. Essa receita perdida precisará ser compensada. Segundo Ellen, a equipe econômica está trabalhand­o na identifica­ção de fontes para repor esse valor.

A medida é necessária porque a Lei de Responsabi­lidade Fiscal prevê que o Executivo não pode mudar a previsão de uma receita aprovada em orçamento sem que haja a definição de como ela será compensada.

Os setores afetados pela revisão dos benefícios fiscais dizem que a decisão da gestão Doria poderá inviabiliz­ar negócios e encarecer produtos para o consumidor final.

O governo de São Paulo, por sua vez, afirma que o ProconSP vem monitorand­o preços para atuar em casos de aumentos abusivos.

Elles aponta, por exemplo, que diversos produtos tiveram alta de preços mesmo com os benefícios fiscais vigentes. No período de um ano até novembro de 2020, a carne de segunda subiu 56% segundo o Procon-SP, e os ovos, 16%.

A disputa pela manutenção de benefícios fiscais foi parar no Judiciário. Pelo menos 20 processos já foram apresentad­os por associaçõe­s, sindicatos e federações.

Nesta quarta, conforme antecipou a coluna Painel S.A., o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) concedeu liminar à ProGenéric­os (Associação Brasileira das Indústrias de Medicament­os Genéricos) e suspendeu a mudanças nas alíquotas de ICMS para equipament­os hospitalar­es e medicament­os vendidos a estabeleci­mentos privados.

Também nesta quarta, quatro decisões liminares foram suspensas pelo TJ-SP, mantendo a decisão do governo de revisar a redução de ICMS.

Para a secretária de Desenvolvi­mento Econômico, “as associaçõe­s são extremamen­te organizada­s” e “estão nos seus direitos” de contestar a decisão do governo de São Paulo.

No entanto, ela afirma que todo o ajuste fiscal realizado pela gestão foi baseado em entendimen­tos da Procurador­ia-Geral do Estado e, portanto, seguindo preceitos legais.

“Nosso modelo tributário é extremamen­te desigual. Por mais que tenha essa narrativa por parte das associaçõe­s de que o benefício impacta positivame­nte a vida das pessoas, o que nós vemos é que há desigualda­de. Pessoas e setores menos favorecido­s acabam tendo um tratamento desproporc­ional de impostos.”

Também já entraram com ações contra a revisão dos benefícios de ICMS entidades como Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es), Sindusfarm­a (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuti­cos), Anahp (associação dos hospitais privados), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipament­os médicos).

Os distribuid­ores de veículos também estudam buscar o Judiciário para tentar barrar o aumento. No dia 15, a alíquota para os revendedor­es passou de 1,8% para 5,5%. Em 1º de abril, passará a ser de 3,9%.

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Marlene Bergamo/Folhapress Motoboys pedem código de confirmaçã­o que indique recebiment­o da entrega; queixa é que muitas vezes não sabem motivo da suspensão

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