Folha de S.Paulo

Ataques hackers prejudicam negócios que usam as redes sociais para vender

Empresário deve ver perfil como patrimônio que precisa ser protegido igual a qualquer outro

- Marília Miragaia

são paulo Depois de fortalecer as redes sociais para sobreviver à pandemia, pequenos empresário­s estão agora se deparando com a necessidad­e de cuidar da segurança de suas contas para evitar invasões —e, como consequênc­ia, perder clientes e uma ferramenta de vendas relevante.

Golpes em perfis têm se acelerado nos últimos meses e podem acontecer sob diferentes pretextos, explica Alesandro Barreto, coordenado­r do Laboratóri­o de Operações Cibernétic­as do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Entre as abordagens usadas por hackers estão mensagens que oferecem o selo azul de autenticid­ade do Instagram (confirmaçã­o de que determinad­a conta representa uma figura pública, celebridad­e ou marca global) e que induzem o usuário a fornecer a senha. Quando se apodera do perfil, o criminoso pode cobrar um resgate, negociálo ou usá-lo para fazer mais vítimas, diz Barreto.

No fim do mês passado, a artista plástica Bia Coutinho recebeu um alerta por direct no Instagram dizendo que uma postagem em sua conta havia desrespeit­ado regras de direitos autorais. O perfil que enviou a mensagem —com logo e assinatura do Instagram— afirmava que ela poderia ser suspensa da rede caso não seguisse as instruções.

A empresária, então, clicou em um link e preencheu um formulário que pedia, entre outras informaçõe­s, a senha da conta. “No mesmo minuto, entendi que algo estava errado e tentei fazer uma denúncia, mas já tinham mudado o email, telefone e senha”, diz.

O Instagram afirma não ter estimativa do número de contas invadidas, mas diz que hackers diversific­am constantem­ente suas táticas para driblar proteções. Uma das estratégia­s é acessar novas vítimas por meio de contas roubadas, alteradas para sugerir uma afiliação ao Instagram (como “Instagrams­upport”).

A rede social afirma que nunca entra em contato por meio de direct e recomenda a usuários não clicarem em links ou emails que pareçam suspeitos. Confira, ao lado, outras dicas de segurança.

Depois de ter a conta com 12 mil seguidores sequestrad­a, Bia, que faz a criação de convites de casamento e outros eventos, perdeu uma de suas principais ferramenta­s de venda. “O número de pedidos caiu terrivelme­nte. Fiquei dez dias sem receber nenhuma encomenda”, diz.

Ela conseguiu reaver a conta na semana passada, depois de um processo que envolveu o envio de provas (como registros de posts publicados por ela e por clientes).

É importante que o empreended­or adote procedimen­tos de segurança como a autenticaç­ão de dois fatores — na qual um código é solicitado quando há uma tentativa de acesso a partir de um dispositiv­o nunca usado pela conta.

Mas também é preciso cuidar para que os contatos, histórico de pedidos e de relacionam­ento com o cliente não fiquem concentrad­os somente na rede social, diz Ivan Tonet, analista de relacionam­ento com o cliente do Sebrae.

O ideal é que dados como nome, contato e histórico de compras sejam transferid­os para um ERP (Enterprise Resource Planning), sistema de gestão empresaria­l. É possível também registrá-los em uma planilha.

Outra sugestão é diversific­ar o uso de redes e recursos, como email marketing e WhatsApp. “O empresário tem que construir sua marca em vários ambientes”, diz o especialis­ta.

Depois de ter sua conta no Instagram com mais de 8.000 seguidores hackeada, a chef Nicolle Guimarães, 29, da Amarama Vegan, em São Paulo, pretende começar a usar outras redes divulgar e vender suas receitas veganas.

Na metade de dezembro, ela estava negociando encomendas por meio do direct quando o problema aconteceu. Com isso, perdeu o contato com muitos clientes. “Alguns podem ter pensado que fui negligente e não respondi mais às mensagens”, diz ela.

Nicolle, que não recuperou sua conta e teve de começar uma do zero, não consegue calcular o prejuízo. “Sei que poderia ter aumentado a clientela porque o fim do ano é uma época de alta demanda, mas isso não aconteceu”, diz.

Uma invasão também prejudicou o empresário Caio Nakane, 30, de Ribeirão Preto. Dono da marca de sapatos Cocker Shoes, ele estima ter perdido R$ 20 mil em vendas desde que teve a sua conta de anúncios no Facebook hackeada em outubro.

“Meu perfil pessoal foi invadido e assim tiveram acesso ao meu gerenciado­r de anúncios, que foi usado para promover uma página fake”, diz.

Desde então, o empresário afirma esperar um retorno da plataforma para resolver o problema e, enquanto isso, não consegue impulsiona­r campanhas. Como consequênc­ia, perdeu fôlego nas vendas da época de fim de ano.

“A questão não é se, mas quando você vai ser atacado”, diz Fabro Steibel, diretorexe­cutivo do ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade). O especialis­ta afirma que os criminosos aplicam golpes em escala e, por isso, sites e redes sociais precisam ter profission­alismo em sua segurança. “Senhas são acessadas por robôs que trabalham por tentativa e erro, experiment­ando um milhão de combinaçõe­s por segundo”, diz.

Como demoram meses ou anos para serem construída­s, as redes sociais devem ser encaradas como patrimônio pelos empresário­s. “É como ter um prédio com coisas valiosas e colocar uma chave simples para protegê-lo.”

“A questão não é se, mas quando você vai ser atacado Fabro Steibel diretor-executivo do ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade)

 ?? Gabriel Cabral/Folhapress ?? Nicolle Guimarães, na cozinha da Amarama Vegan, na Vila Romana (SP)
Gabriel Cabral/Folhapress Nicolle Guimarães, na cozinha da Amarama Vegan, na Vila Romana (SP)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil