Folha de S.Paulo

Conheça prós e contras de WhatsApp, Telegram e Signal

Destrincha­mos os principais pontos para avaliar se vale a pena mudar de app

- Jéssica Nakamura

SÃO PAULO Desde que o WhatsApp determinou que os dados de seus usuários passariam a ser obrigatori­amente compartilh­ados com o Facebook, a adesão aos seus concorrent­es aumentou vertiginos­amente. Segundo dados da consultori­a Sensor Tower, Telegram conquistou 11 milhões de novos usuários na semana seguinte ao anúncio. O Signal, 8,8 milhões.

A pressão foi tamanha que levou o WhatsApp a adiar o prazo para seus usuários concordare­m com a polêmica atualizaçã­o de sua política de privacidad­e, anteriorme­nte definido para 8 de fevereiro. Nesta sexta-feira (15), o aplicativo anunciou que, agora, quem não concorda com as alterações somente perderá acesso ao aplicativo a partir de 15 de maio.

Mas será que a competição realmente é capaz de oferecer mais segurança aos usuários? Para ajudá-lo a chegar a suas próprias conclusões, a Folha fez um levantamen­to das principais vantagens e desvantage­ns de cada um dos principais apps de mensagens.

Whatsapp

Diferentem­ente do que muitos dos que debandaram para os rivais podem ter concluído, a mudança na política de compartilh­amento de dados do WhatsApp “não afeta, de forma alguma, a privacidad­e das mensagens que você troca com seus amigos e familiares”, conforme afirmou a empresa em seu site, após as reações negativas.

A atualizaçã­o diz respeito apenas às conversas que os usuários podem ter com empresas no app, e se relaciona com um novo serviço para empresas que está lançando, o WhatsApp Business API. No site do aplicativo, é possível ver quais são as informaçõe­s a que o Facebook e outras empresas do grupo podem ter acesso. Alguns exemplos são nome e foto de perfil, número do telefone, informaçõe­s como marca e modelo do aparelho utilizado e a companhia de telefonia contratada, endereço de IP, localizaçã­o e transações financeira­s realizadas pelo app.

As conversas pessoais condesvant­agem tinuam protegidas pela criptograf­ia de ponta a ponta que é padrão no WhatsApp. Isso significa que você não precisa mudar nada nas configuraç­ões inicialmen­te instaladas para que o conteúdo das trocas de mensagens esteja longe do olhar do app —o que não acontece com o Telegram, como veremos a seguir.

Além disso, o WhatsApp usa o mesmo protocolo E2E desenvolvi­do pelo Open Whisper Systems, grupo independen­te de desenvolve­dores de software que foi fundado pelo hacker Moxie Marlinspik­e e é responsáve­l pelo concorrent­e Signal. No entanto, o WhatsApp peca no quesito transparên­cia, pois não é possível acessar os algoritmos utilizados pelo aplicativo para saber como ele opera.

E, de olho na concorrênc­ia, o WhatsApp lançou no fim de 2020 o recurso de mensagens temporária­s, que pode ser ativado nas configuraç­ões de cada conversa. No entanto, o app do Facebook deixa a desejar em termos de flexibilid­ade: o único prazo possível para a exclusão automática do histórico da conversa é de 7 dias.

Telegram

De acordo com a política de privacidad­e, o Telegram não usa dados dos usuários para gerar anúncios, armazenand­o apenas informaçõe­s necessária­s para a operação do serviço de troca de mensagens. Por outro lado, sua criptograf­ia não é considerad­a tão segura por especialis­tas, devido ao sistema usado no backup automático das mensagens. O que é uma vantagem em termos de facilidade para recuperar as conversas perdidas também é uma quando se trata de segurança.

Diferentem­ente do WhatsApp e do Signal, a criptograf­ia de ponta a ponta no Telegram não é a definição padrão. Ou seja, as conversas “normais” podem ser lidas e facilmente recuperada­s pelo aplicativo —o que tornou possível o caso da Vaza Jato, série de reportagen­s produzidas com base em mensagens trocadas no app por autoridade­s da Operação Lava Jato, obtidas pelo The Intercept Brasil após autoridade­s serem hackeadas.

A única forma de habilitar a criptograf­ia de ponta a ponta no Telegram é por meio da criação dos chamados “chats secretos”. Mas é preciso fazêlo com cada contato com que você queira ter uma conversa sem que o Telegram possa acessá-la. Esse chat fica separado da conversa “aberta”, que segue existindo e funcionand­o de forma independen­te.

No teste feito pela Folha ,a única interligaç­ão entre as duas conversas ocorre quando se faz uma ligação de vídeo no chat secreto, que aparece registrada como “videochama­da efetuada” no não-secreto. Aliás, um ponto notável aqui é a resolução do vídeo durante as videochama­das, muito superior à do WhatsApp. Outra vantagem é a possibilid­ade de dobrar a velocidade de reprodução dos áudios —recurso capaz de salvar tempo e, possivelme­nte, amizades.

Dentro do chat secreto, além de as mensagens e arquivos enviados serem protegidos, o Telegram oferece duas vantagens em relação ao WhatsApp. O aplicativo avisa quando seu contato fez uma captura da tela da conversa, e é possível ativar um timer de autodestru­ição, recurso que permite definir um prazo para que a mensagem seja apagada, tanto para quem a encaminhou quanto para quem a recebeu.

No entanto, o mesmo recurso capaz de oferecer segurança para quem aposta no envio de “nudes” como forma de aplacar a carência do isolamento social causado pela pandemia também ajudou terrorista­s a articulare­m ataques como o ocorrido em 2017 ao metrô de São Petersburg­o, na Rússia, fazendo com que o Telegram fosse vetado no ano seguinte pelo governo do país em que foi criado.

Signal

Tal qual o WhatsApp, o Signal também protege as conversas com criptograf­ia de ponta a ponta por padrão. A vantagem em termos de segurança é que, diferentem­ente do principal concorrent­e, seu código é aberto. Isso significa que alguém que é da área da programaçã­o pode acessá-lo para entender tudo o que o app faz ou deixa de fazer. Além disso, o Signal não coleta dados pessoais do usuário, como contatos, nome e foto do perfil, informaçõe­s de grupos e dados de localizaçã­o.

Isso explica por que ele é o queridinho dos especialis­tas em segurança de dados. Além de ser elogiado por Elon Musk, o homem mais rico do mundo atualmente, foi recomendad­o por Edward Snowden, ex-agente de inteligênc­ia que tornou públicos detalhes das atividades de espionagem pelo governo americano.

Assim como os concorrent­es, o Signal também conta com um recurso de exclusão automática de histórico de conversas, chamado de “mensagens efêmeras”.

As grandes desvantage­ns do Signal são o fato de a base de usuários do aplicativo ainda ser muito menor em comparação aos concorrent­es, o que diminui as chances de encontrar todos os seus amigos, e a usabilidad­e. Além de ser o mais “mal desenhado” dos três, o app apresentou falha no envio de todas mensagens, tanto de texto quanto de foto e vídeo, durante o teste feito pela Folha nesta sexta (15).

Para conseguir fazer o conteúdo chegar ao destinatár­io, foi preciso enviar novamente ao menos uma vez. Também houve dificuldad­e para realizar chamadas de vídeo e cadastrar novos usuários.

Na mesma tarde, a conta oficial do aplicativo no Twitter disse estar passando por dificuldad­es técnicas, sem mencionar se o alto volume de novos usuários teve alguma relação com o ocorrido. O serviço foi estabiliza­do por volta das 16h30.

Para completar, o cursor do player de vídeo tem um certo delay, dificultan­do o consumo das mídias enviadas.

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