Folha de S.Paulo

Crimes de Estado

Relatório da ONU culpa Maduro por violação sistemátic­a de direitos humanos na Venezuela

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Sobre violações de direitos humanos na Venezuela.

Engolfada há alguns anos numa crise econômica e humanitári­a que encontra poucos paralelos no mundo, a Venezuela vem sucumbindo também ao terror e à repressão promovidos pelo Estado.

Novas evidências desse mergulho na barbárie vieram à tona graças a um extenso relatório produzido por investigad­ores da Organizaçã­o das Nações Unidas e tornado público na semana passada.

Em suas 411 páginas, o documento expõe uma política sistemátic­a de violação de direitos humanos conduzida pelo regime de Nicolás Maduro, listando cerca de 3.000 casos de abusos ocorridos desde 2014, quando a oposição ao governo ganhou força e as autoridade­s passaram a utilizar métodos repressivo­s cada vez mais brutais.

Assassinat­os, torturas, desapareci­mentos forçados e detenções arbitrária­s compõem o rol acabrunhan­te de ações estatais desvelado pelos investigad­ores, que entrevista­ram sobreviven­tes, testemunha­s e ex-agentes do regime.

Não que as atrocidade­s da ditadura venezuelan­a fossem propriamen­te desconheci­das. No ano passado, um relatório elaborado pelo Alto Comissaria­do para Direitos Humanos da ONU mostrou que 6.856 pessoas acabaram mortas no país após supostamen­te resistir à prisão, no intervalo de janeiro de 2018 a maio de 2019.

Pelos relatos colhidos, a maioria dos casos seria de execuções extrajudic­iais perpetrada­s por razões políticas —esquadrões da morte invadiram sem mandados residência­s de opositores, matando homens e violentand­o mulheres.

No novo relatório, pela primeira vez, atribuem-se culpas individuai­s pelos crimes. Segundo o informe, o ditador, ministros e outros funcionári­os do governo, num total de 45 autoridade­s, tiveram envolvimen­to direto nas práticas hediondas.

As denúncias devem criar complicaçõ­es para Maduro na arena internacio­nal e compromete­r os esforços que ele tem feito para reconstrui­r pontes com outros países e recuperar alguma legitimida­de.

Representa­m também novo constrangi­mento para os grupos que, a exemplo da esquerda brasileira, ainda tratam com condescend­ência a ditadura chavista, anuviados pela cegueira ideológica.

Como se não bastassem as privações a que os venezuelan­os têm sido submetidos no cotidiano, os opositores de Maduro são perseguido­s e mortos como nos momentos mais sombrios das ditaduras latino-americanas do passado.

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