Catarina Rochamonte
Deltan Dallagnol irritou os poderosos
fortaleza O quadro jurídico-político do nosso país é desolador. Estamos imersos em um pântano de mentiras, interesses escusos, cegueira ideológica, fanatismo e inversão de valores. Os esperançosos acenos para uma nova política naufragaram nas práticas fisiológicas da aliança de Bolsonaro com o centrão. Na relação dos Poderes, rege agora, como dantes, a lei da acomodação de interesses, o toma lá dá cá, uma mão lava a outra. Em todos os Poderes desse arremedo de República, acordos indecorosos são feitos no interesse dos poderosos e na blindagem dos que protagonizam a peça tragicômica da política brasileira.
Na Câmara, o presidente Maia senta em cima de quantos projetos e processos incomodem seus aliados; no Senado, o presidente Alcolumbre segura pedidos de impeachment de ministros do STF e impede a CPI da Lava Toga enquanto espera que esse mesmo STF avalize sua indecente pretensão a uma reeleição inconstitucional.
No STF, Dias Toffolli —aquele que favoreceu a traficância do colarinho branco na decisão sobre o Coaf e instaurou o ilegal inquérito das fake news— despediu-se da presidência desqualificando a Lava Jato. Já o suspeitíssimo Gilmar Mendes, que trama a suspeição de Sergio Moro, revogou a decisão que suspendia o processo movido por Renan Calheiros contra Deltan Dallagnol.
Aras, o PGR cavalo de Troia, foi tenaz na perseguição ao procurador, agora afastado do comando da força-tarefa de Curitiba. Dallagnol cumpriu seu dever com eficiência e denodo, tendo, por isso mesmo, atraído contra si a fúria dos poderosos interessados na impunidade.
Apesar de tudo, há resistência, embora difusa e desarticulada. O grupo Muda Senado, por exemplo, tem sido espinho na garganta dos defensores de corruptos e, na Câmara, resistem uns poucos e destemidos deputados.
É ver agora se a sociedade reage contra quem ergueu falsamente a bandeira da defesa da Lava Jato para, em seguida, entregá-la de bandeja aos lobos vorazes que anseiam pela sua destruição.