Lançado há 120 anos, ‘Mágico de Oz’ ainda cativa leitores e continua atual
Autodescoberta, independência e empoderamento são peçaschave na jornada de Dorothy ao lado de seus amigos diferentes
são paulo Já se vão 120 anos desde que Dorothy pisou pela primeira vez a estrada de tijolos amarelos e, mesmo depois de tanto tempo, sua história ainda é uma referência na literatura.
Mas por que será que, entre tantos contos de fada escritos desde então, “O Maravilhoso Mágico de Oz” ainda permanece vivo no coração de adultos e crianças?
Criado por L. Frank Baum e lançado em maio de 1900, o livro narra a aventura de uma menina que, depois de um ciclone, é levada pelo vento junto com seu cãozinho Totó. Os dois pousam em uma terra desconhecida e descobrem que, para conseguir voltar ao Kansas, onde moram, precisarão pedir a ajuda do Mágico de Oz.
Em sua jornada até o mágico, Dorothy conhece o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde —eles também querem uma força do feiticeiro e então seguem juntos rumo à Cidade das Esmeraldas. Tudo se complica quando o mágico decide que, para atender aos pedidos, é preciso que, antes, os quatro antes matem a Bruxa Malvada do Oeste.
Laura Thorpe Pernambuco, 6, conheceu a história assistindo ao filme “O Mágico de Oz”, de 1939, que se tornou um marco no cinema. Escolhido como uma das cinco melhores produções dos EUA pelo American Film Institute, o longa também foi considerado “cultural, histórica, visual e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso americano.
Dorothy é vivida por Judy Garland, que na época tinha 17 anos. “Ela fez e aconteceu no papel”, lembra o crítico de cinema da Folha Inácio Araújo. “A MGM queria a Shirley Temple, mas a Fox não a cedeu. Foi este o filme que a consagrou”.
“Tudo começou quando eu ia fazer o aniversário de um ano de Laura. Sempre gostei muito da história e queria usála como tema”, conta Simone Pernambuco, 40. “Não deu certo naquela época. Quando ela fez cinco anos, retomei a ideia. Porém, uma criança dessa idade já tem autonomia para escolher”.
Simone, então, apresentou “O Mágico de Oz” para a filha. O resultado não poderia ser melhor: Laura ficou encantada e quis assistir ao filme várias vezes seguidas. “A gente via juntas, e ela também via com o irmão. Foi criando uma magia pelo filme, e então eu propus fazermos a festa”, lembra a mãe.
“Minha parte preferida é quando o mágico fala que o Espantalho, o Leão e o Homem de Lata já têm tudo que eles querem”, diz Laura.
Para a tradutora, escritora e doutoranda em letras Carol Chiovatto, que teve “O Mágico de Oz” como tema de seu mestrado, é justamente esse aspecto que faz da história um clássico.
“É incrível a jornada ser também de autodescoberta. Todo mundo já tinha em si o que buscava”, avalia. “É um livro de 1900 que coloca uma criança de seis anos como protagonista e ainda uma menina que não se encolhe e chora, mas age com independência para resolver os próprios problemas.”
Assim, não é viagem pensar que a história tem um pé com sapatinhos de rubi (sabia que no livro eles são prateados?) no feminismo. Carol explica que a escolha por uma protagonista muito diferente daquelas de outros contos de fada é um grande indicativo disso.
“Ela não fica pensando em casamento, como a Wendy em ‘Peter Pan’. Não é tratada como uma tonta, como a Alice de Lewis Carroll, e não é punida, como Chapeuzinho Vermelho e herdeiras, mas encorajada em sua jornada pelo desconhecido. É uma obra bem à frente de seu tempo”, diz a tradutora.
Carol sugere que quem se aventura pela primeira vez em Oz fique atento às diferenças. “O filme de 1939 transforma a aventura num sonho, e isso faz o impacto se perder. A Judy Garland já é grande, e no livro Dorothy é criança. No livro, Oz existe e a jornada de Dorothy aconteceu, então todo o empoderamento da criança se perde”.
No Brasil, há pelo menos seis traduções deste primeiro Mágico de Oz —sim, porque a história é na verdade uma série, com 40 livros escritos por L. Frank Baum.
Alguns deles estão disponíveis em português, como “Ozma de Oz” e “Dorothy e o Mágico em Oz”, ambos pela editora Vermelho Marinho.