Distanciamento social afeta consumo, e serviços despencam
rio de janeiro e são paulo Principal motor da atividade econômica brasileira e maior empregador do país, o setor de serviços amargou queda de 9,7% no segundo trimestre, o primeiro totalmente sob efeito da pandemia do novo coronavírus.
Foi o maior recuo desde o início da série histórica, iniciada em 1996, segundo o IBGE. O setor é responsável por 75% do cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) e seu desempenho é fundamental para a retomada.
O impacto foi maior nos segmentos que mais necessitam de atendimento presencial, como alimentação, hospedagem e lazer. O subsetor em que elas se encaixam teve queda de 19,8%.
Já o subsetor “transporte, armazenagem e correio”, que inclui de motoristas por aplicativo a companhias aéreas, recuou 19,3%, o segundo pior desempenho do setor de serviços.
O comércio, que no cálculo do PIB é incluído no setor de serviços, fechou o trimestre em queda de 13%, também sob impacto do fechamento das lojas no país.
“A queda do comércio varejista foi menor”, diz a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. O setor de supermercados, por exemplo, cresceu durante a pandemia, como mostram as pesquisas mensais do instituto.
“Quando olhamos a série histórica, o PIB tem comportamento bastante relacionado com consumo das famílias, pela ótica da demanda, e com serviços, pela ótica da produção”, diz Palis.
Ela ponderou, porém, que as atividades econômicas são correlacionadas e o desempenho da indústria e da agropecuária também tem impacto nos serviços.
Dentro do setor, o maior peso está nos serviços públicos, que no segundo trimestre caíram 7,6%, impactados pela suspensão de atividades que demandam atendimento presencial, como museus e parques, e de aulas presenciais em universidades federais.
Entre os três grandes setores da economia, o de serviços é o que tem apresentado menor dinamismo com o relaxamento das medidas de isolamento. Enquanto indústria e comércio começaram já em maio a se recuperar dos tombos recordes de abril, os serviços tiveram a primeira taxa positiva em junho, mas perto do piso histórico.
Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o setor concentra 47% dos trabalhadores formais do país, o que leva economistas a relacionar a recuperação do emprego à recuperação mais vigorosa nesse setor.
A retomada enfrenta como obstáculos as restrições ao funcionamento de parte dos locais —restaurantes com capacidade reduzida e cinemas e teatros fechados—, o desemprego, que reduz o poder de compra da população, e o temor de contaminação, que leva muita gente a evitar o risco de aglomeração.
Mudanças de hábito devem dificultar ainda mais para setores como o de turismo corporativo, cujas vendas caíram quase 90% e continuarão sofrendo efeitos do maior uso de reuniões online; ou dos serviços profissionais e administrativos, que incluem limpeza e segurança predial e devem sofrer com o trabalho remoto mais disseminado.
Por outro lado, sofreram menos no segundo trimestre atividades como intermediação financeira ou imobiliárias, que tiveram alta de 0,8% e 0,5%, respectivamente.
No primeiro caso, segundo Palis, houve impacto positivo das transferências de renda, compensado pelo menor uso de planos de saúde. No segundo, houve ajuda de grande atividade de aluguel, com pessoas buscando locais para o período de isolamento, além de novas incorporações —embora a indústria de construção tenha caído 5,7% .