Folha de S.Paulo

Do belo ao perfeito, traduziu seus sentimento­s em telas

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

TEREZA COSTA RÊGO (1929-2020)

SÃO PAULO A artista plástica Tereza Costa Rêgo tinha obsessão por vermelho. A predileção trazia alguns significad­os, como o calor do Nordeste e o tom da vida que levou em 91 anos.

Tereza usava as frases que gostava de pronunciar para se definir. Em uma delas, dizia que havia nascido para decorar o piano da sala de sua casa, mas que muitas vezes foi obrigada a quebrá-lo.

Sua história é digna de conquistar as telonas dos cinemas. Tereza nasceu no Recife, no seio de uma família pertencent­e à tradição açucareira. Recebeu educação rígida e foi reprimida. Quando adolescent­e, foi autorizada a matricular-se na Escola de Belas Artes do Recife, porque já mostrava talento para desenho. Tereza casou-se cedo para se livrar do ambiente que tanto a sufocava. A união durou 14 anos, período em que já se dedicava à pintura.

Aos 21 expôs pela primeira vez no Museu do Estado de Pernambuco e passou a ser reconhecid­a nacionalme­nte.

Um dia, conheceu o grande amor de sua vida, Diógenes Arruda Câmara, líder do Partido Comunista do Brasil.

Tereza abandonou o casamento e mudou-se com Diógenes para São Paulo. Cursou história na USP e trabalhou como paisagista.

Diógenes foi preso e torturado durante a ditadura militar. Em 1972, quando o libertaram, o casal ficou exilado no Chile e em Paris, na França.

“Tereza viu de perto grandes fatos do século XX, como as ditaduras de Vargas, de Pinochet e a Revolução dos Cravos. A pintura de Tereza incorpora a história do século XX que ela presenciou”, afirma o jornalista e biógrafo da artista, Bruno Albertim.

Sete anos depois, voltam ao Brasil, mas Diógenes morre. A partir daí, sua arte ganha força e corpo. O nu feminino e a história de Pernambuco começam a aparecer em suas telas, como a série “7 Luas de Sangue”, que retrata fatos históricos do Brasil. “Os críticos de arte dizem que é uma das obras mais importante­s da arte moderna no Brasil”, explica Bruno. Outras caracterís­ticas apareciam em suas obras: telas enormes e a presença de animais, como gatos.

Tereza estava feliz. Havia comprado uma casa em Olinda (PE). Era novamente a artista de destaque no estado.

O amor que sentia pela vida contagiava todos. A elegância e a simplicida­de da artista tinham um casamento harmonioso. Foi a heroína popular do Recife e o maior nome feminino da pintura modernista pernambuca­na.

Tereza Costa Rêgo morreu dia 26 de julho, aos 91 anos, por complicaçõ­es de um AVC. Deixa duas filhas, três netos e uma bisneta.

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