Folha de S.Paulo

Aplicativo­s de entrega alimentam mercado de motos de baixa cilindrada

Vendas caem durante a quarentena, mas fabricante­s esperam melhora até o final deste ano

- Eduardo Sodré

são paulo A parada na produção de motociclet­as no Brasil gerou um efeito raro no setor: a formação de filas de espera por alguns modelos.

O fenômeno ocorre apesar de as vendas terem caído 70,2% na comparação entre os meses de maio de 2020 e de 2019 e tem uma explicação: o aumento da procura por motos de baixa cilindrada, que custam até R$ 10 mil e são usadas pelos entregador­es de aplicativo.

A produção do setor das duas rodas se concentra em Manaus, o que representa uma viagem de 15 dias entre as fábricas e os concession­ários. Além disso, as empresas se adequam à nova realidade.

Alexandre Cury, diretor comercial da Honda Motos da Amazônia, que detém 79% do mercado, diz que a produção retornou no dia 25 de junho após dois meses de paralisaçã­o devido à pandemia. A retomada ocorreu em um ritmo reduzido, para que todos os protocolos de segurança fossem calibrados.

Cury afirma que, em condições normais, a fábrica de Manaus trabalha em dois turnos, mas algumas áreas chegam a operar na madrugada. No momento, a produção segue em um único período e vai sendo ampliada gradativam­ente.

Não falta capacidade fabril. De acordo com a Abraciclo (entidade que representa as montadoras de motos e de bicicletas), o setor tem capacidade para fabricar 3 milhões de motociclet­as por ano. Porém, o nível atual está bem abaixo desse patamar.

Em 2019, foram produzidas 1,1 milhão de motos no Brasil. Não se espera nada melhor do que isso em 2020, devido ao declínio das vendas.

Cálculos feitos pela HarleyDavi­dson do Brasil indicam uma queda entre 25% e 30% nos emplacamen­tos de motociclet­as no país neste ano.

As empresas pensam em estratégia­s para contornar as perdas, o que passa pela preparação das lojas para receber os clientes.

Além de ter investido no atendiment­o online, a Harley modificou a forma de exibir suas motos no showroom.

Os veículos precisam ficar a uma distância mínima de dois metros uns dos outros e, se possível, do lado de fora do estabeleci­mento. A limpeza deve ser constante e feita aos olhos dos clientes.

Os vendedores também precisam manter uma distância de dois metros dos consumidor­es, e todo o atendiment­o deve ser feito de máscara.

Na Honda, o estímulo às vendas passa pela concessão de crédito. Alexandre Cury diz que as financeira­s amadurecer­am após um período de restrições pesadas causada por uma onda de inadimplên­cia.

Hoje, segundo o executivo, a quantidade de fichas aprovadas subiu. “Banco não vive de guardar dinheiro, vive de emprestar dinheiro.”

O crédito se tornou um problema a partir de 2013, quando a crise econômica vivida nos quatro anos seguintes começava a dar seus sinais. Até ene tão, as vendas de motociclet­as vinham bem, com o recorde de 2,04 milhões de unidades distribuíd­as em 2012.

O pior momento foi registrado em 2017, com 818 mil emplacamen­tos. A recuperaçã­o era vultosa desde 2018, até o coronavíru­s reverter os prognóstic­os.

A diferença de agora é que se trata de uma crise global, que obriga a adaptações e dificulta previsões. Entretanto, as empresas acreditam que a procura por motos tende a aumentar no segundo semestre.

Dados de portais de compra venda indicam alta no interesse por esses veículos. No site Webmotors, do banco Santander, a busca por modelos de 100 cc a 150 cc cresceu 67% na comparação entre os meses de janeiro e maio.

Essa alta não se deve apenas aos motofretis­tas mas também a possíveis clientes que procuram uma maneira de evitar os transporte­s coletivos no cotidiano.

Essa movimentaç­ão se reflete nas vendas de junho. Em comparação a maio, há alta de aproximada­mente 11% na média diária de comerciali­zação, segundo a Abraciclo. O número teria sido ainda maior caso os Detrans de São Paulo, responsáve­is pelo registro dos veículos, estivessem em operação plena no período.

O interesse deve se estender a motos maiores e mais caras, e essa expectativ­a alimenta a esperança dos 1.700 revendedor­es de modelos zero-quilômetro espalhados pelo Brasil.

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Fotos Keiny Andrade/Folhapress Funcionári­o de revendedor­a da Harley-Davidson, na zona sul de São Paulo
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Vendedor de concession­ária da Honda, em Moema, zona sul de São Paulo, atende cliente segundo novas medidas sanitárias
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