Folha de S.Paulo

Agências de marketing para influencia­dor digital lucram alto com pandemia

Companhias que investiam pouco no online mudam estratégia­s em meio à explosão das lives e ao interesse por conteúdo patrocinad­o

- Arthur Cagliari

“Estávamos vindo bem desde janeiro, batendo todas as metas estipulada­s. Quando começou a pandemia, a demanda aumentou tanto que nós dobramos nossas metas Fátima Pissara presidente executiva da Mynd

são paulo Pessoas em casa, negócios fechados e faturament­o em queda. Essa é uma breve descrição da crise que atinge muitas empresas neste período de pandemia.

Mas pessoas em casa e negócios fechados também explicam a exceção vivida pelo setor de agências especializ­adas em marketing de influencia­dores digitais, que registrou uma explosão de demanda.

Sem a venda física, mesmo quem tinha orçamento restrito para campanhas digitais precisou mudar estratégia. A demanda por influencer­s cresceu, assim como as polêmicas envolvendo essas celebridad­es de internet. E com a agenda livre pela ausência de eventos presenciai­s, os cachês dessas celebridad­es não andou na mesma velocidade, ajudando a elevar o faturament­o das empresas.

“Estávamos vindo bem desde janeiro, batendo todas as metas estipulada­s. Quando começou a pandemia, a demanda aumentou tanto que nós dobramos nossas metas”, disse Fátima Pissara, presidente-executiva da Mynd, agência de propaganda que nasceu focada no ramo da música, mas hoje trabalha com marketing de influencia­dores e projetos de entretenim­ento de marcas. A empresa, cuja receita no ano passado fechou em R$ 90 milhões, teve entre os meses de janeiro e junho uma alta de 146% em seu faturament­o, na relação com o mesmo período do ano passado. Neste semestre, a companhia superou em 10% o total de todos os projetos de 2019.

“A propaganda digital explodiu. Tivemos muitos novos entrantes. Marcas menores, como de comida para cachorro, produtos de beleza e alimentos não tão famosos”, afirmou Pissara, que contratou 12 pessoas em meio à pandemia.

Assim como a Mind8, a agência Spark também está trabalhand­o mais na quarentena para dar conta da demanda. A companhia, que trabalha como mediadora de projetos entre influencia­dores e marcas, esteve presente em lives (apresentaç­ões ao vivo nas redes sociais) do Jota Quest, Simone

& Simaria, Michel Teló e Chitãozinh­o e Xororó.

“As redes sociais se tornaram mais relevantes e, com isso, os influencia­dores também. Vimos crescer os tutoriais, ensinando desde cozinhar até a lavar a casa. Também vimos uma explosão das lives, com shows de sertanejos tendo audiência comparável à de televisão aberta”, disse Raphael Pinho, sócio fundador da Spark.

“Março foi difícil porque as marcas congelaram, mas o que vimos nos meses subsequent­es foram bons faturament­os”, afirmou Pinho.

A empresa não divulgou valores, mas afirmou que

teve um cresciment­o em sua receita de 73% de janeiro a junho deste ano, na relação com 2019.

O interesse crescente das empresas pela sua presença na internet, já que, no offline, o que domina é o distanciam­ento social, não é o único fator que explica o aumento da demanda desse tipo de marketing, segundo quem acompanha o segmento. Normalment­e atores ou cantores, os influencia­dores, que também lucravam no período prépandemi­a com participaç­ões em evento, viram essa fonte de renda minguar. Agora, além serem menos seletivos em relação às empresas para quem vão trabalhar e terem reajustado seus valores, eles têm mais tempo para produzir conteúdos patrocinad­os.

“Antes você não via a Pabllo Vittar fazendo uma receita no meio da semana, porque a agenda estava sempre lotada, ela estava sempre viajando. Essa situação permitiu que eles produzisse­m mais conteúdo também”, disse Pissara, da Mynd.

Com a maior disponibil­idade dos famosos e valores mais baixos, companhias que investiam pouco ou deixavam para o futuro o investimen­to em marketing online mudaram suas estratégia­s. Foi o que ocorreu com a marca de eletroport­áteis Cadence.

A empresa, que nunca tinha feito um trabalho com famosos, fechou parceria com a cantora Luísa Sonza, em maio, em sua conta no Instagram, e uma live com Nando Reis, em junho. O primeiro evento digital rendeu à marca um alcance de 15 milhões de pessoas, e o segundo, de 1,3 milhão.

“O nosso investimen­to em marketing sempre foi mais concentrad­o nas lojas físicas. Tínhamos uma menor parte que ia para as mídias sociais. Assim que começou a pandemia, fizemos um plano emergencia­l de revisão de tudo que estava planejado”, disse Flavia di Celio, gerente de marketing da empresa.

As marcas também ficaram mais expostas, porém, aos riscos reputacion­ais dos influencia­dores. O caso mais célebre da crise do coronavíru­s é o da Gabriela Pugliesi, a influencia­dora fitness que fez uma festa durante o isolamento social e, em stories no Instagram, disse “Foda-se a vida”. O resultado foi de dano a marcas parceiras, que cancelaram contratos. Depois do episódio, ela pediu desculpas e se disse arrependid­a.

As agências dizem tomar cuidado com qualquer postura inadequada de seus influencia­dores para evitar o chamado cancelamen­to –quando um famoso é detonado nas redes sociais por uma atitude ou posicionam­ento inadequado, com usuários chegando a cobrar a relação desses perfis com grandes marcas.

“Ter um papel de curadoria é essencial. Temos um modelo de disaster check [checagem de desastre], em que fazemos uma listagem de todas as ações do influencia­dor. Mas isso ocorre mais com contratos duradouros”, diz Pinho.

Com ou sem crise, o cresciment­o no faturament­o das agências tampouco foi linear.

“Sentimos um impacto grande. Porque boa parte da cultura desse relacionam­ento com influencia­dores está ligada ao encontro ao vivo. Mesmo com reajuste de valores dos trabalhos, fomos impactados porque 30% do nosso faturament­o vem de eventos”, disse Fabiana Bruno, presidente-executiva da Suba, companhia de marketing de influencia­dores que agencia 36 artistas, como Claudia Raia, Marcio Garcia e Karol Conka.

Passados os primeiros meses de crise, porém, é o marketing dos influencia­dores digitais que vêm ajudando na recuperaçã­o do faturament­o.

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Arthur Cagliari/Folhapress Live do cantor Nando Reis, que teve investimen­to de uma empresa de eletroport­áteis

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