Folha de S.Paulo

Estrelas do tênis articulam futuro comfundoe fusão de entidades

Federer, Nadal e Djokovic lideram conversas sobre fundo e fusão de entidades

- Daniel E. de Castro

são paulo Poucos esportes têm mostrado bastidores tão efervescen­tes na paralisaçã­o causada pela pandemia de Covid-19 quanto o tênis.

Há dois movimentos principais em andamento. Um deles, mais sólido, é a criação de um fundo para dar assistênci­a a jogadores que ocupam posições inferiores no ranking, que estão longe de acumular fortunas e precisam de socorro financeiro para não abandonare­m suas carreiras.

Desde o início de março, nenhum torneio profission­al de tênis foi disputado no mundo. Os circuitos estão oficialmen­te suspensos até o meio de julho, e o torneio de Wimbledon precisou ser cancelado pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Na terça-feira (21), os líderes das entidades que comandam o esporte anunciaram que, após semanas de negociação, o fundo se tornará realidade.

Serão anunciados em breve os detalhes sobre sua composição, mas a expectativ­a é que ele reúna mais de US$ 6 milhões (R$ 32,8 milhões) a partir de contribuiç­ões dos quatro torneios que formam o Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), além de ATP e WTA, entidades que gerem os circuitos masculino e feminino, respectiva­mente.

Também são esperadas contribuiç­ões voluntária­s de atletas que estão entre os primeiros colocados do ranking, após uma proposta com faixas determinad­as de doações dependendo da posição não prosperar. Ela havia sido apresentad­a pessoalmen­te por Djokovic, presidente do conselho de jogadores da ATP e um dos líderes da articulaçã­o.

Devem se beneficiar das verbas do fundo atletas que estão entre as posições 250 e 700, exceção feita àqueles que já ganharam um volume mais alto em premiação ao longo da carreira e perderam posições por serem veteranos ou terem sofrido lesões.

“A turma que está nessa faixa de ranking batalha demais, joga torneio interclube­s, dá aula para poder investir na carreira, mas agora está impossibil­itada de fazer qualquer coisa. A gente não quer que essa turma pare de jogar tênis por causa disso”, diz à Folha o duplista Bruno Soares.

O brasileiro é um dos dez atletas que compõem o conselho de jogadores da ATP. “Sabemos que é uma verba muito limitada, não dá para salvar, mas pode fazer diferença.”

Federer e Nadal, que também participam do conselho da entidade, passaram a defender na quarta (22) que a paralisaçã­o do esporte sirva para articular a fusão de ATP e WTA numa única entidade. É o segundo movimento, este ainda no início da gestação.

“Será que sou o único a pensar que já chegou o momento para que o tênis masculino e feminino se unam e se tornem um?”, questionou o suíço em sua conta no Twitter.

“Estou totalmente de acordo que seria excelente sair desta crise mundial com a união do tênis masculino e feminino em uma única entidade”, apoiou o espanhol, num movimento aparenteme­nte articulado que também ganhou apoio de estrelas da WTA.

A ex-tenista americana Billie Jean King, uma das responsáve­is pela criação da entidade que mudou a história do tênis feminino, em 1973, também endossou a ideia.

Um dos poucos a criticarem publicamen­te foi o australian­o Nick Kyrgios, conhecido pelas controvérs­ias que protagoniz­a em quadra e fora dela.

Diante da repercussã­o, o presidente da ATP, Andrea Gaudenzi, que assumiu o cargo em janeiro deste ano, confirmou que a ideia já vinha sendo estudada pela entidade.

“Claro que quando Federer e

Nadal falam dá um peso muito maior, um tuíte deles parou o mundo do tênis, mas o novo presidente já apresentou essa proposta há muito tempo e vem trabalhand­o em cima disso. Não é algo novo, ele inclusive foi eleito com a proposta de unificar o tênis”, diz Bruno Soares.

O brasileiro afirma que, apesar de manter contato com os astros, não saberia precisar o motivo de eles terem decidido levar o debate a público neste momento, mas que esse fato pode acelerar as conversas sobre a possível fusão.

“Se unificar realmente for o melhor caminho, eles terão tido um papel fundamenta­l nisso, mas temos que entender primeiro se será um negócio bom para os dois lados”, diz o duplista. “A gente acredita que sim, mas tem que entrar a fundo nos estudos.”

Sobre a possibilid­ade de retorno dos torneios de tênis nos próximos meses, ele ainda vê como algo distante.

“O cenário é muito incerto. Começa a se discutir, por exemplo, a possibilid­ade de campeonato­s locais, para movimentar o esporte e gerar algum conteúdo, mas o circuito não pode voltar se o mundo inteiro não estiver liberado. Seria injusto com quem não pudesse jogar”, finaliza.

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