Estrelas do tênis articulam futuro comfundoe fusão de entidades
Federer, Nadal e Djokovic lideram conversas sobre fundo e fusão de entidades
são paulo Poucos esportes têm mostrado bastidores tão efervescentes na paralisação causada pela pandemia de Covid-19 quanto o tênis.
Há dois movimentos principais em andamento. Um deles, mais sólido, é a criação de um fundo para dar assistência a jogadores que ocupam posições inferiores no ranking, que estão longe de acumular fortunas e precisam de socorro financeiro para não abandonarem suas carreiras.
Desde o início de março, nenhum torneio profissional de tênis foi disputado no mundo. Os circuitos estão oficialmente suspensos até o meio de julho, e o torneio de Wimbledon precisou ser cancelado pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
Na terça-feira (21), os líderes das entidades que comandam o esporte anunciaram que, após semanas de negociação, o fundo se tornará realidade.
Serão anunciados em breve os detalhes sobre sua composição, mas a expectativa é que ele reúna mais de US$ 6 milhões (R$ 32,8 milhões) a partir de contribuições dos quatro torneios que formam o Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), além de ATP e WTA, entidades que gerem os circuitos masculino e feminino, respectivamente.
Também são esperadas contribuições voluntárias de atletas que estão entre os primeiros colocados do ranking, após uma proposta com faixas determinadas de doações dependendo da posição não prosperar. Ela havia sido apresentada pessoalmente por Djokovic, presidente do conselho de jogadores da ATP e um dos líderes da articulação.
Devem se beneficiar das verbas do fundo atletas que estão entre as posições 250 e 700, exceção feita àqueles que já ganharam um volume mais alto em premiação ao longo da carreira e perderam posições por serem veteranos ou terem sofrido lesões.
“A turma que está nessa faixa de ranking batalha demais, joga torneio interclubes, dá aula para poder investir na carreira, mas agora está impossibilitada de fazer qualquer coisa. A gente não quer que essa turma pare de jogar tênis por causa disso”, diz à Folha o duplista Bruno Soares.
O brasileiro é um dos dez atletas que compõem o conselho de jogadores da ATP. “Sabemos que é uma verba muito limitada, não dá para salvar, mas pode fazer diferença.”
Federer e Nadal, que também participam do conselho da entidade, passaram a defender na quarta (22) que a paralisação do esporte sirva para articular a fusão de ATP e WTA numa única entidade. É o segundo movimento, este ainda no início da gestação.
“Será que sou o único a pensar que já chegou o momento para que o tênis masculino e feminino se unam e se tornem um?”, questionou o suíço em sua conta no Twitter.
“Estou totalmente de acordo que seria excelente sair desta crise mundial com a união do tênis masculino e feminino em uma única entidade”, apoiou o espanhol, num movimento aparentemente articulado que também ganhou apoio de estrelas da WTA.
A ex-tenista americana Billie Jean King, uma das responsáveis pela criação da entidade que mudou a história do tênis feminino, em 1973, também endossou a ideia.
Um dos poucos a criticarem publicamente foi o australiano Nick Kyrgios, conhecido pelas controvérsias que protagoniza em quadra e fora dela.
Diante da repercussão, o presidente da ATP, Andrea Gaudenzi, que assumiu o cargo em janeiro deste ano, confirmou que a ideia já vinha sendo estudada pela entidade.
“Claro que quando Federer e
Nadal falam dá um peso muito maior, um tuíte deles parou o mundo do tênis, mas o novo presidente já apresentou essa proposta há muito tempo e vem trabalhando em cima disso. Não é algo novo, ele inclusive foi eleito com a proposta de unificar o tênis”, diz Bruno Soares.
O brasileiro afirma que, apesar de manter contato com os astros, não saberia precisar o motivo de eles terem decidido levar o debate a público neste momento, mas que esse fato pode acelerar as conversas sobre a possível fusão.
“Se unificar realmente for o melhor caminho, eles terão tido um papel fundamental nisso, mas temos que entender primeiro se será um negócio bom para os dois lados”, diz o duplista. “A gente acredita que sim, mas tem que entrar a fundo nos estudos.”
Sobre a possibilidade de retorno dos torneios de tênis nos próximos meses, ele ainda vê como algo distante.
“O cenário é muito incerto. Começa a se discutir, por exemplo, a possibilidade de campeonatos locais, para movimentar o esporte e gerar algum conteúdo, mas o circuito não pode voltar se o mundo inteiro não estiver liberado. Seria injusto com quem não pudesse jogar”, finaliza.