Folha de S.Paulo

Isolamento contra vírus tem apoio de 76%, diz Datafolha

Ao contrário do presidente, maioria dos brasileiro­s defende medida, e 71% aceitam endurecime­nto

- Fábio Zanini

Na contramão do que defende o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a maioria dos brasileiro­s quer manter o isolamento social como forma de combate à transmissã­o do novo coronavíru­s nos moldes atuais.

Segundo pesquisa do Datafolha, 76% dos entrevista­dos são a favor de que as pessoas fiquem em casa, mesmo que isso implique impacto econômico e desemprego.

Já 18% acham que é importante encerrar o isolamento.

Para eles, é mais importante estimular a economia, a tônica do presidente. Para 87%, escolas devem permanecer fechadas. A proibição de abertura do comércio não essencial é defendida por dois terços dos ouvidos.

Os entrevista­dos acreditam que as medidas atuais deverão durar cerca de um mês. Eles apoiam o eventual endurecime­nto das restrições, conhecido como “lockdown”, quando as pessoas são proibidas de ir às ruas.

Concordam com a modalidade, que ainda não está em vigor, mas que pode ser adotada por governador­es em caso de a pandemia se agravar demais, 71% dos ouvidos de 1º a 3 de abril. Rejeitam-na 26%.

são paulo O brasileiro quer manter o isolamento social nos moldes atuais para fazer frente ao coronavíru­s, ao contrário do que tem defendido o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

É o que mostra pesquisa Datafolha, que apontou maioria sólida em favor de que as pessoas fiquem em casa para impedir que o vírus se espalhe, mesmo que isso signifique prejudicar a economia e causar desemprego.

Defendem essa visão 76% dos entrevista­dos pelo instituto entre 1 e 3 de abril. Foram ouvidas 1.511 pessoas excepciona­lmente por telefone, em razão da pandemia.

Em geral, o Datafolha trabalha com pesquisas feitas presencial­mente, abordando pessoas em pontos de fluxo. A margem de erro é de três pontos percentuai­s para mais ou para menos.

Apenas 18% dos entrevista­dos têm a visão contrária, de que é mais importante acabar com o isolamento para estimular a economia.

O apoio a que as pessoas fiquem em casa é maior no Nordeste, onde Bolsonaro historicam­ente tem menor popularida­de. São 81% os favoráveis na região, governada em sua maioria por políticos de esquerda.

No Sul, reduto do presidente, 70% defendem que as pessoas não saiam de casa para trabalhar, menor índice entre as regiões do país.

Na mesma linha, dois terços dos entrevista­dos querem manter a proibição de abertura do comércio não essencial, enquanto 87% dizem que as aulas devem continuar suspensas.

Desde o início da crise, Bolsonaro tem defendido que o comércio reabra, para, segundo ele, proteger empregos, sobretudo aqueles de trabalhado­res informais.

“O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidad­e”, disse o presidente em pronunciam­ento na TV no dia 24 de março, o mesmo em que classifico­u a Covid-19 de gripezinha e resfriadin­ho.

Numa proporção de 2 para 1, contudo, os brasileiro­s entendem que o fechamento segue sendo necessário. Defendem a restrição 65% dos entrevista­dos, contra 33% que favorecem a reabertura das lojas.

Neste momento, apenas estabeleci­mentos como mercados e farmácias têm autorizaçã­o para funcionar. Os demais seguem com as atividades vetadas pelos governos estaduais.

Embora Bolsonaro venha dizendo que a reabertura do comércio protegeria os trabalhado­res informais, sobretudo os mais pobres, não há alterações significat­ivas em estratos de renda mais baixa da população, segundo a pesquisa.

Apoiam o fechamento do comércio 67% das pessoas com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, e 62% dos entrevista­dos no segmento que ganha de dois a cinco salários mínimos.

Quanto à volta às aulas, é defendida por apenas 11% das pessoas entrevista­das, contra esmagadore­s 87% que são contrários. A reabertura das escolas é outro ponto que o presidente tem defendido. Seu argumento é que crianças e jovens não fazem parte do grupo de risco, e portanto não têm porque ficar em isolamento.

Bolsonaro defende o chamado “isolamento vertical”, apenas para idosos e doentes.

A posição vai contra o que vem sendo defendido por infectolog­istas, pela Organizaçã­o Mundial da Saúde e pelo próprio Ministério da Saúde. O argumento é que os mais jovens podem trazer o vírus para dentro de casa e infectar outras pessoas.

A população, em sua maioria, está de acordo com o que dizem os especialis­tas.

O brasileiro na verdade defende até endurecime­nto maior das medidas em relação ao que sendo aplicado pelos governos estaduais e prefeitura­s.

No momento, não há uma situação de “lockdown”, como em muitos países europeus. Ou seja, não há penalidade no Brasil para quem sair de casa. A estratégia é baseada apenas em convencime­nto e estímulo a que as pessoas permaneçam em casa.

Para 71% dos entrevista­dos, no entanto, o governo deveria proibir por algum tempo que todas as pessoas que não trabalhem em serviços essenciais saiam às ruas, para diminuir o contágio. Declaram-se contrários 26%.

Por enquanto, não há previsão de que a medida seja adotada, mas governador­es já disseram que ela poderá ser considerad­a caso a crise piore.

Os entrevista­dos também não parecem muito confiantes de que as restrições serão levantadas logo. Em média, os pesquisado­s acreditam que as medidas de isolamento vão durar mais 29 dias. Mas o ideal, dizem os entrevista­dos, é que a situação atual se mantenha por um período até um pouco maior, de 32 dias em média.

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Fonte: Pesquisa Datafolha realizada de 1º a 3 de abril de 2020, com 1.511 brasileiro­s adultos que possuem telefone celular, em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuai­s, para mais ou para menos
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Eduardo Knapp - 23.mar.20/Folhapress Homem no cruzamento da rua Direita com a 15 de Novembro, na região central de São Paulo
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