Para evitar nova onda, desembarcar na China tem três etapas e pode levar até 15 horas
xangai “Por favor, não levantem e esperem sentados à avaliação dos nossos médicos e enfermeiros.”
É com essa ordem que começa, na China, o longo processo de desembarque em Xangai. Um voo de Paris ou Nova York para a cidade chinesa leva em média 12 horas, mas o processo de entrada no país pode chegar a outras 15 —numa conta que soma quase 30 horas de ponta a ponta.
Na luta para conter a expansão da Covid-19, nenhum país montou uma estrutura de contenção como a China.
O processo tem três etapas: triagem no avião, entrevistas e testes em terra e quarentena obrigatória monitorada.
A triagem inicial na aeronave demora de duas a três horas, se a fila de voos não for grande, pois técnicos de saúde, em seus trajes especiais cobertos da cabeça aos pés, checam a temperatura e outros potenciais sinais de infecção de cada passageiro.
Enquanto espera, o viajante preenche vários formulários, incluindo a indicação de endereço fixo em Xangai —o apartamento deve estar vazio para a quarentena ser possível.
Se houver qualquer suspeita de infecção, o viajante é removido para uma ambulância e vai direto para o hospital.
Só então os outros passageiros desembarcam e são distribuídos por funcionários, sempre em trajes de proteção, em várias salas.
Todos terão suas temperaturas checadas outra vez e darão detalhes sobre onde estiveram antes de chegar à China.
Funcionários dos condomínios são avisados que o morador deve se isolar por 14 dias. Só então cada passageiro recebe um adesivo, verde ou amarelo, para pegar suas malas.
No raro caso de sinal verde, o viajante pode ir para a casa. Amarelo? Vai para um hotel ou centro de inspeção para que seja testado, laboratorialmente, para a Covid-19.
Só após os testes de cada passageiro ficarem prontos é que eles podem entrar em ônibus que deixam cada um no endereço de quarentena. A maioria fará o isolamento em hotel designado pelo governo.
Para os que vão para a casa, a recepção é bem simples. Vai direto para o apartamento enquanto funcionários do condomínio lacram com plástico ou instalam um dispositivo eletrônico que informa toda vez que a porta é aberta.
Ela só pode ser aberta em duas situações: para receber comida e jogar o lixo, que vai ser desinfetado.
Como disse a síndica do meu condomínio: há oito famílias em quarentena e estamos muito preocupados com o bem-estar deles —ou seja, estão mesmo é preocupados com a segurança dos outros moradores.
Esse processo todo é extremamente custoso. Eram cerca de 10 mil passageiros chegando aos aeroportos de Xangai por dia, do exterior ou de outras províncias. O sistema chinês não aguentou.
Não há quartos de hotel para todos. Em Nova York, os voos para a China partiam completamente lotados, com muita gente tentando escapar do epicentro da crise nos EUA.
O país decidiu fechar as fronteiras: estrangeiros, mesmo com residência permanente, como é o meu caso, estão proibidos de entrar no país, até segunda ordem.
A prioridade é evitar uma segunda onda. Para que seja possível reabrir o país, é preciso testar quase todo mundo e rastrear cada caso. Como mostra o complexo processo de entrada na China, são necessários recursos e infraestrutura. Será que outro país conseguiria fazer o mesmo?