Folha de S.Paulo

Setor privado pode bancar casa popular em troca de área da União

Novo ministro pode sepultar voucher e implantar projeto em que Estado dá terreno e incorporad­ora assume subsídio

- Bernardo Caram e Danielle Brant

brasília A promoção de Rogério Marinho ao comando do Ministério do Desenvolvi­mento Regional abre caminho para o sepultamen­to de um sistema de distribuiç­ão de vouchers habitacion­ais. A medida estava em estudo na pasta.

Em seu lugar, deverá ser lançado um programa para oferecer moradias de baixo custo em regiões centrais de médias e grandes cidades. A ideia é atuar em pareceria com a iniciativa privada.

Batizado de Aproxima, o projeto não vai gerar custo direto ao Orçamento federal. A União, porém, vai ceder terrenos próprios sem uso para incorporad­oras em áreas valorizada­s de municípios com mais de 100 mil habitantes.

O governo pretende criar uma alternativ­a ao Minha Casa Minha Vida. O programa da era petista, com faixas subsidiada­s, sofre com a falta de recursos públicos.

O novo modelo foi desenvolvi­do sob o guarda-chuva do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele vinha se queixando da gestão do então ministro Gustavo Canuto, substituíd­o por Marinho na quinta-feira (6). Segundo auxiliares da Economia, apesar de o governo enfrentar forte aperto fiscal, Canuto insistia em pedir mais dinheiro.

O modelo de vouchers começou a ser desenvolvi­do por Canuto com a Economia e outras pastas. Mas divergênci­as entre as equipes fizeram com que ele seguisse sozinho com os planos. O programa demandaria injeção direta de recursos do Orçamento.

Em Marinho, Guedes tem um aliado de primeira ordem na pasta, o que deve destravar os planos. Marinho discute com assessores a formação da equipe e ainda não se aprofundou nos detalhes de cada programa da pasta.

Formulador do Aproxima, o secretário de Desenvolvi­mento de Infraestru­tura do

Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, afirmou à Folha que o programa está formatado. Ele já entrou em contato com Marinho.

Mapeamento do governo detectou 300 terrenos.

A proposta prevê a abertura de licitações para que essas áreas sejam entregues à iniciativa privada. Vencerá a disputa a construtor­a que oferecer o maior número de moradias populares por empreendim­ento. A quantidade dessas unidade será definida em cada projeto.

De acordo com Mac Cord, o programa será direcionad­o a pessoas com rendimento familiar de 2 a 5 salários mínimos. Os beneficiár­ios pagarão o imóvel em 20 anos, com parcelas de 20% da renda bruta.

O subsídio parcial será arcado pela própria incorporad­ora, sem ajuda do governo. As controlado­ras das obras vão compensar a despesa em outras áreas do empreendim­ento, com a obtenção de lucro.

O secretário explica que, respeitand­o o número mínimo de moradias direcionad­as ao programa, a incorporad­ora terá liberdade para elaborar o projeto com outros tipos de moradia, pontos comerciais ou shoppings.

Segundo ele, o novo programa terá lógica inversa à do Minha Casa, que, muitas vezes, leva as famílias de baixa renda para complexos residencia­is em áreas isoladas e sem infraestru­tura urbana.

“Muitos terrenos da União estão sendo invadidos, desvaloriz­ados. A gente vai trazer essa população que não conseguiri­a comprar um imóvel na região central, com acesso aos serviços públicos”, disse.

“No Minha Casa Minha Vida, você promove segregação social, isola as famílias.”

Para atrair as empresas, o governo federal vai negociar com as prefeitura­s a flexibiliz­ação de regras de construção na área. A intenção é que os imóveis possam ser maiores. As alterações dependem de aprovação de projetos de lei nas Câmaras Municipais.

Na indústria, a medida, desenhada dentro do plano nacional de habitação, não pode ser tratada como substituta ao Minha Casa.

“Existem ações isoladas que podem ser entendidas como ações isoladas, e nada mais do que isso”, afirma José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

“Não é com voucher ou entrega de terrenos públicos que vou resolver o problema de 7 milhões de moradias.”

Ele considera engessada a proposta do governo de conceder terrenos. “É um desperdíci­o. Você pode construir, mas não necessaria­mente no mesmo lugar. Ou você pode construir em um terreno e revitaliza­r um prédio público. Não é preciso criar amarras”, diz Martins.

Canuto propunha um voucher de cerca de R$ 60 mil para famílias com renda até R$ 1.200 investirem na compra, construção ou reforma do imóvel. O dinheiro seria entregue ao responsáve­l pela obra, e não à família. A equipe econômica, contudo, teme que haja desvio de recursos.

Outro entrave é a falta de interesse dos bancos em operaciona­lizar o programa. Canuto havia sugerido descontar do valor do voucher os custos que a instituiçã­o financeira teria na operação.

Auxiliares de Guedes afirmam que o Aproxima foi concebido porque o governo não tem recurso para subsídios.

Esse é o caso da faixa 1 do Minha Casa, com até 90% de subsídio, e do sistema de vouchers, que demandaria verba federal. Enquanto o sistema de vouchers é visto com ressalvas por Guedes, o ministro defende o modelo na educação, dando liberdade aos pais para escolherem a escola que acharem melhor para o filho.

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