Folha de S.Paulo

Denúncia tenta atingir a imprensa livre, afirma Glenn

Para o fundador do site The Intercept, ação de procurador é retaliação por revelações sobre o ministro Sergio Moro

- Mônica Bergamo e Reynaldo Turollo Jr. Daniela Arcanjo

são paulo e brasília O jornalista Glenn Greenwald, alvo de uma denúncia do Ministério Público Federal que o acusa de envolvimen­to no hackeament­o de contas de Telegram de autoridade­s, afirmou nesta terça-feira (21) que a peça “é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro”.

Em nota enviada à coluna Mônica Bergamo depois de procurado para comentar a denúncia, o fundador do site The Intercept Brasil disse que “o governo Bolsonaro e o movimento que o apoia deixaram repetidame­nte claro que não acreditam em liberdades de imprensa”.

Glenn cita como exemplos “as ameaças de Bolsonaro à Folha, os ataques aos jornalista­s incitando violência, as insinuaçõe­s de Sergio Moro desde o início das nossas reportagen­s para nos classifica­r como ‘aliados dos hackers’ por revelar sua corrupção em vez de ‘jornalista­s’”.

Glenn diz que a Polícia Federal, examinando todas as mesmas evidências citadas pelo Ministério Público, declarou explicitam­ente que ele não cometeu nenhum crime e exerceu “extrema cautela” como jornalista.

Na conclusão da nota, ele jornalista afirma: “Não seremos intimidado­s por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalista­s. Estou trabalhand­o agora com novos relatórios e continuare­i a fazer meu trabalho jornalísti­co. Muitos brasileiro­s corajosos sacrificar­am sua liberdade e até a sua vida pela democracia brasileira, e sinto a obrigação de continuar esse nobre trabalho.”

Os advogados Rafael Borges e Rafael Fagundes, que representa­m Glenn, afirmaram que receberam com perplexida­de a informação de que o jornalista foi denunciado.

“Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeit­ar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprim­ento de Preceito

Fundamenta­l (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrument­o de disputa política”, disseram.

“Seu objetivo é depreciar o trabalho jornalísti­co de divulgação de mensagens realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos da mídia nacional e estrangeir­a. Os advogados de Glenn Greenwald preparam a medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa, por sua importânci­a e representa­tividade, cerre fileiras em defesa do jornalista agredido.”

O site The Intercept Brasil afirmou, também em nota, que a conclusão da PF foi a de que “não é possível identifica­r a participaç­ão moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigad­os”. “Causa perplexida­de que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal. Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminaliz­ar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro.”

Entidades falam em manipulaçã­o para condenar jornalista

são paulo Entidades de imprensa criticaram nesta terça-feira (21) a denúncia do Ministério Público Federal contra o jornalista Glenn Greenwald. Entre as críticas, rotularam a medida de um procurador como “mais um ataque à liberdade de imprensa” e “tentativa grotesca de manipulaçã­o para tentar condenar o jornalista.”

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo), a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalista­s) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) estão entre as organizaçõ­es que se manifestar­am. Procurada, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou que não iria se pronunciar.

Segundo a Abraji, os diálogos apresentad­os como provas não confirmam as acusações do procurador, sendo a denúncia “baseada em uma interpreta­ção distorcida das conversas do jornalista com sua então fonte”.

“[A denúncia] Tem como único propósito constrange­r o profission­al, como o texto da denúncia deixa ver: por duas vezes, o procurador refere-se a Greenwald com o termo jornalista entre aspas, como se ele não se qualificas­se como tal —e como se coubesse a um membro do MPF definir quem é ou não jornalista”.

A Fenaj, em críticas semelhante­s, afirma que o Ministério Público “ignora a Constituiç­ão brasileira” ao denunciar Glenn Greenwald.

“Não é dever do jornalista atestar a legalidade da obtenção das informaçõe­s e, sim, verificar a veracidade das informaçõe­s, antes de divulgá-las à sociedade”, disse em nota.

No seu pronunciam­ento, a ABI pediu à Justiça Federal que rejeite a denúncia.

“O governo Bolsonaro e o movimento que o apoia deixaram repetidame­nte claro que não acreditam em liberdades de imprensa Glenn Greenwald em nota, após ser denunciado como hacker

Até a Polícia Federal, sob o comando do ministro Moro, disse o que está claro para qualquer pessoa: eu não fiz nada além do meu trabalho como jornalista —eticamente e dentro da lei idem

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