Folha de S.Paulo

Livro narra percalços do fundador do Barbatuque­s

- Leonardo Sanchez

são paulo Tudo ia bem na vida de Fernando Barba. Aos 45 anos, ele trabalhava com o grupo que havia criado, exercendo sua paixão pela música e se firmando como referência na percussão corporal.

O Barbatuque­s figurava em trilhas de sucessos cinematogr­áficos —“Rio 2”, “Tropa de Elite”, “O Menino e o Mundo” e “Trash - A Esperança Vem do Lixo” são alguns—, havia se apresentad­o na cerimônia de encerramen­to da Olimpíada do Rio e até vinheta de final de ano da Globo virou.

Mas a carreira em ascensão foi interrompi­da em abril de 2017 de forma brusca: Barba estava com um tumor no cérebro e precisou fazer uma cirurgia às pressas, que o deixou com diversas sequelas. Os percalços agora são contados em “A Vida Começava Lá: Uma História de Repercussã­o Corporal”, livro que ele narrou à irmã, Renata Ferraz Torres.

“De uma hora para outra, eu, que era um músico focado essencialm­ente no ritmo, fiquei disrítmico”, introduz Barba ao leitor, nas primeiras páginas da biografia. “Este livro é, para mim, uma afirmação de vida. Ao fazer um balanço das minhas memórias, procuro dar novo significad­o à minha história.”

Suas memórias pessoais, no entanto, não foram suficiente­s para narrar todos os acontecime­ntos que queria abordar. Barba delegou à irmã a tarefa de entrevista­r 60 personalid­ades que, de alguma forma, moldaram sua música.

Os depoimento­s se espalham pelas 272 páginas da biografia, divididas em lado A e B, como em um disco. A primeira fala da infância, da formação musical de Barba e da criação do Barbatuque­s. A segunda, sobre o processo de recuperaçã­o no qual se encontra.

“O lado A é o desenvolvi­mento dele, desde que nasceu, as influência­s artísticas, a família, que sempre foi muito ligada em música. Nossos avós ouviam muito jazz americano e nossos pais nos incentivav­am a estudar música”, explica a irmã e coautora.

“Quando ele tinha uns 12 anos, ele tocava vários instrument­os —piano, violão, guitarra… A primeira coisa que desenvolve­u nesse sentido de percussão corporal foi um tique de estalar o dedo. E aí aos 16, enquanto ele voltava a pé da escola, começou a cadenciar os passos com batidas no peito e estalos. Era um doido da música”, lembra Torres.

Os sons corporais, em 1997, dariam o tom ao Barbatuque­s, que com seus passos, palmas, estalos, assobios, sopros e batidas ritmados ganhou projeção internacio­nal, por meio de faixas como “Baianá” e “Tum Pá”. O grupo também conquistou o público infantil, graças a releituras lúdicas de clássicos do cancioneir­o popular, como “Samba Lelê” e “Peixinhos do Mar”.

Devido à cirurgia, Barba se afastou do Barbatuque­s. Ele ainda não consegue fazer os complexos movimentos ritmados e tem dificuldad­e para falar. Mas a música tem sido fundamenta­l para a sua recuperaçã­o. “O que ele fazia antes, uma pessoa comum não faz. É preciso muita coordenaçã­o motora”, diz Torres.

Entre os especialis­tas que o músico tem visitado está uma fonoaudiól­oga que também é professora de canto. Ela percebeu, conta a irmã, que Barba cantava melhor do que falava. “São áreas cerebrais distintas e, quando você canta, você ensina a área da fala a funcionar melhor. Então ele canta e toca violão todos os dias.”

É por meio desse processo que Barba tenta se recuperar musicalmen­te. Enquanto isso, ele fica feliz ao ver que o Barbatuque­s segue firme e forte, mesmo sem ele —temporaria­mente, é importante frisar. “Ele está afastado, mas o grupo está supervivo. Alegra ele saber disso.”

A Vida Começava Lá: Uma História de Repercussã­o Corporal

Autores: Fernando Barba e Renata Ferraz Torres. Ed. Stacchini Editorial. R$ 50 (272 págs.). Lançamento neste domingo (24), às 14h, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, São Paulo); grátis

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Inaê Coutinho/Divulgação Fernando Barba em show do Barbatuque­s

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