Folha de S.Paulo

Mundo a 3%

Cai projeção para o cresciment­o do PIB global, mas cenário não chega a ser desfavoráv­el para o Brasil

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Acerca de queda da projeção para alta do PIB global.

Como tem sido recorrente, o Fundo Monetário Internacio­nal revisou para baixo suas projeções para o cresciment­o econômico mundial. Para este ano, a nova estimativa é de alta de apenas 3%, a menor desde a crise financeira de 2009.

Não se trata de inclinação recessiva, uma vez que tal ritmo se encontra apenas um pouco abaixo do que o FMI considera ser o potencial do Produto Interno Bruto global. O problema é que a fraqueza torna a conjuntura mais sujeita a choques, inclusive políticos.

Um risco consideráv­el está no acirrament­o dos confrontos comerciais entre Estados Unidos e China, que já causa algum impacto na dinâmica do investimen­to e das trocas de mercadoria­s.

Neste ano, por exemplo, as grandes surpresas negativas se concentram na atividade industrial e nos volumes de transações comerciais, próximos da estagnação.

A fragilidad­e fica mais evidente quando se observa que a desacelera­ção é sincroniza­da —todas as principais regiões mostram perda de dinamismo. Com a inflação baixa, as autoridade­s já reagem por meio de afrouxamen­to monetário.

Quase todos os bancos centrais mais importante­s vêm cortando juros, de modo a preservar o cresciment­o. Na Europa, o custo do dinheiro desceu ainda mais ao território negativo. Mesmo nos EUA, que ainda ostentam a menor taxa de desemprego em 50 anos, as taxas têm caído, em tendência oposta à observada no ano passado.

Preocupa que autoridade­s monetárias tenham de usar seu já esvaziado arsenal para controlar os danos da agenda destrutiva de Donald Trump. Quando a próxima crise vier, poderão estar sem munição.

Daí o clamor crescente para que a politica fiscal —na forma de maiores gastos públicos ou cortes de impostos— tenha um papel maior, ao menos nos países com os orçamentos em ordem, caso da Alemanha e de alguns países asiáticos.

Por ora, contudo, não é improvável a continuida­de do ciclo de expansão, ainda que medíocre. A liquidez mundial continua ampla e não há sinais que sugiram uma nova crise financeira iminente.

Sem nova recessão global, o cenário atual não se mostra negativo para o Brasil, que pode prosseguir na trajetória de leve retomada econômica. Os juros internacio­nais baixos favorecem política similar aqui. Tudo isso compra algum tempo para que o país prossiga na agenda de reformas. O risco, como sempre, é o de acomodação.

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