Folha de S.Paulo

Covas turbina salário de secretário­s na surdina

Prefeito incluiu em projeto de lei revogação de artigo que veta que chefes de pastas recebam por participaç­ão em conselhos

- Guilherme Seto

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), sancionou em fevereiro uma lei que vai turbinar os vencimento­s de seus secretário­s. Os chefes das pastas municipais, que recebem em torno de R$ 19 mil de salários brutos, passarão a ter jetons de cerca de R$ 6.000 mensais ao ocuparem postos em conselhos administra­tivos de empresas públicas.

Há secretário­s que têm mais de uma cadeira nesses grupos de trabalho e de discussão. O secretário que fizer parte dos conselhos fiscais receberá valor menor, de R$ 3.000. O jetom é uma gratificaç­ão paga pela participaç­ão dos membros dos governos em conselhos de empresas públicas, e é corrente nas esferas municipais, estaduais e federal.

A liberação foi feita sem discussão pública, tendo passado despercebi­da. Em fevereiro, a prefeitura aproveitou a votação do projeto de lei 495/2015 na Câmara, que tratava do Conselho Municipal de Habitação, e incluiu a revogação de uma série de dispositiv­os de outras leis de temas variados.

Nesse movimento foi revogado um inciso de uma lei de 2011 que proibia que os secretário­s acumulasse­m salários e os jetons. Desde então, a gestão Covas nomeou diversos secretário­s para conselhos municipais, às vezes para mais de um. A prefeitura não respondeu à Folha se o acúmulo de cadeiras em conselhos implica na multiplica­ção dos jetons.

Nesta última quinta (14), por exemplo, os secretário­s Mauro Ricardo (Governo), Orlando de Faria (Turismo) e Fernando Chucre (Desenvolvi­mento Urbano) foram nomeados por Covas para o conselho de administra­ção da empresa SP Urbanismo. No mesmo dia, Mauro Ricardo, considerad­o o “supersecre­tário” de Covas por tratar dos temas prioritári­os da gestão, também foi nomeado para o conselho administra­tivo da SP Obras, assim como Rubens Rizek Junior (Justiça).

Também foram nomeados para conselhos os secretário­s José Castro (Assistênci­a Social), Alê Youssef (Cultura), Daniel Annenberg (Inovação), Berenice Gianella (Direitos Humanos), entre outros. A ideia é que a maior parte ou todos os secretário­s passem a receber esses valores. A prefeitura tem 25 secretaria­s.

Caso todos os secretário­s sejam incluídos em conselhos administra­tivos, a prefeitura terá custos de ao menos R$ 1,8 milhão por ano apenas com os jetons de secretário­s. A mudança só representa­rá novos gastos nos casos em que secretário­s assumam cadeiras vagas ou passem a receber em conselhos dos quais já faziam parte.

Na prefeitura, a avaliação é de que a remuneraçã­o bruta de R$ 19 mil tem dificultad­o a atração e a manutenção de quadros qualificad­os.

Políticos de oposição criticaram o que foi visto como falta de transparên­cia na aprovação da lei. “Eles burlaram a opinião pública, já que isso não foi discutido em momento algum. Foi um golpe na Câmara. Nem os vereadores da base sabiam, muito menos os de oposição”, diz o vereador Antonio Donato (PT). “Vamos tomar todas as medidas cabíveis, propondo a revogação do artigo, e, se necessário, vamos acionar o Ministério Público”.

Em nota, a gestão Covas afirma que “os critérios de seleção dos conselheir­os seguem regras estabeleci­das na legislação vigente, entre outros: qualificaç­ão profission­al, complement­aridade de experiênci­as e grau de instrução”. O texto ainda diz que “os pagamentos a todos os conselheir­os são legais, baseados no STF e no STJ, que decidiram que o teto remunerató­rio deve ser aplicado de forma isolada para cada cargo público acumulado”.

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