França usa governo para inaugurar obra inacabada e equipamento já em uso
Candidato a reeleição descerrou placa de unidade de saúde de uma cidade mesmo estando em outra
Candidato à reeleição, o governador de São Paulo Márcio França (PSB) utilizou o cargo para participar de inaugurações de equipamentos que já existiam antes da visita dele ou, no extremo oposto, demoraram meses para atender a população no interior paulista após o evento oficial.
Antes vice de Geraldo Alckmin (PSDB), França assumiu o cargo em abril, quando o tucano deixou o governo para a disputar a Presidência. Hoje ele disputa o segundo turno contra João Doria (PSDB), que abandonou a Prefeitura de São Paulo após apenas 15 meses no cargo.
França, assim que assumiu o governo, já como pré-candidato à reeleição, passou a rodar o estado em inaugurações. Os atos ocorreram entre abril e o dia 7 de julho, data limite para participar de inaugurações, segundo a lei eleitoral.
Em junho, ele esteve em Registro, no Vale do Ribeira, para inaugurar quatro unidades de saúde, entre elas, uma em Ilha Comprida, que já existia, mas ganhou novo nome após lei municipal de dezembro.
A placa com o novo nome da UBS foi levada para o ato solene em Registro, onde o governador a descerrou, apesar de estar a mais de 100 quilômetros de distância da UBS.
Em Piraju, o governador cortou uma fita amarela em frente a uma UBS registrada no Ministério da Saúde desde 2003. O endereço, segundo o governo, foi reformado com repasse de verba estadual.
Em Lindoia, a unidade do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) funcionava havia cerca de sete meses quando França descerrou a placa. O evento ocorreu em Campinas, com a presença de líderes políticos de Lindoia.
Rápidos e simples, eventos para descerrar placas apare- cem em diferentes agendas oficiais do governador. Outros exemplos foram os de uma escola municipal infantil em Jales e de um Centro de Convivência do Idoso em Matão.
O prédio do último estava pronto desde dezembro de 2017, mas a inauguração oficial, com o descerramento da placa pelo governador, ocorreu quase seis meses depois, em maio. A escola já funcionava havia algumas semanas.
Em Matão, no mesmo evento, o governador participou da entrega da reforma de uma escola técnica estadual.
A obra, contratada com repasses do governo do estado, teve contrato assinado em 2016 e tinha previsão de entrega para outubro de 2017, sete meses antes da visita de França. Segundo o governo, o contrato sofreu um aditivo em 2017, e a obra foi entregue em maio conforme previsto.
Ainda durante essa passagem por Matão, antes do primeiro turno, o candidato do PSB anunciou repasse de R$ 12 milhões para a construção de uma unidade da Fatec.
A Faculdade de Tecnologia de SP é demanda antiga da cidade. Um arquiteto do Centro Paula Souza, que administra as Fatecs, visitou o terreno onde a unidade seria construída em 2016, mas a licitação só foi anunciada no fim de maio deste ano por França.
Em vídeo gravado pela Prefeitura de Matão, durante a visita, ele se lembrou de parentes que ainda moram na cidade. “Meus avós não tinham condição financeira lá no litoral e mandavam para cá para as filhas para poderem estudar”, disse.
A familiaridade com a cidade, porém, não rendeu tantos eleitores. No primeiro turno, ele ficou em terceiro lugar no município, com 16% dos votos.
Já Penápolis, onde França ficou em primeiro lugar, com 38% dos votos, recebeu sua visita em junho.
Entre uma agenda e outra, como o anúncio da construção de um ambulatório de especialidades, França participou da inauguração do curso de medicina de uma faculdade privada. Sua assessoria informou que se tratou de convite da prefeitura aceito pelo governador.
O prefeito, Célio de Oliveira é tucano e foi suspenso do partido após anunciar apoio à candidatura de França.
Em junho, em Lençóis Paulista, o governador inaugurou o novo Terminal Rodoviário Intermunicipal, que só passou a receber as empresas de viação mais de dois meses depois, no final de agosto.
Advogados da campanha de Doria, seu opositor nas eleições,