‘Quanto mais malho o PT, mais vendo’, diz dono de rede de lojas
SÃO PAULO Nos cálculos do empresário catarinense Luciano Hang, dono da rede de varejo Havan e apoiador obstinado do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), atacar a esquerda e o PT é um bom negócio.
Hang foi multado em R$ 10 mil pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no mês passado por ter contratado um serviço de impulsionamento de publicações no Facebook para expandir o alcance de um vídeo favorável ao candidato.
Ele alega desconhecimento da lei, diz que agora está ciente e promete não voltar a usar ferramentas para turbinar conteúdo, iniciativa que só pode ser tomada por candidatos, partidos e coligações.
Hang continuou produzindo vídeos pró-Bolsonaro, mas sem o empurrão tecnológico.
Superado o prejuízo, o empresário estima que as mais de cem unidades de sua rede de lojas de departamento devem alcançar R$ 7 bilhões de faturamento este ano — em 2017, foram R$ 4 bilhões.
“A Havan neste mês vai crescer 45%. Sabe por quê? Porque eu falo a verdade. Quanto mais eu malho o PT, a esquerda, mais eu vendo, entendeu?”, afirma.
Desde que se desfiliou do MDB no ano passado, Hang adotou postura pró-ativa nas redes sociais. Junto das mensagens publicitárias que ele mesmo grava em vídeos para promover suas lojas, passou a incluir conteúdo político.
Ele defende que o Brasil é atualmente um país “comunista socialista” e pede a privatização de todas as estatais.
“O governo está inchado, obeso. É uma pessoa com 150 quilos. Tem que fazer lipoaspiração, uma operação de estômago. Tem que reduzir, e não aumentar impostos”, afirma.
Para Hang, o Exército brasileiro é “do bem”, diferentemente dos de países “cucarachas” como Cuba e Venezuela.
Em linha com declarações do presidenciável, diz que prefere o voto em papel e não acredita em pesquisas que não coloquem o candidato como vitorioso em primeiro turno.
Na tarde da facada contra Bolsonaro, foi de Hang um dos desagravos mais ferrenhos: em sua opinião, o atentado foi cometido pela “esquerda maldita”.
Questionado se não teme perder consumidores, diz que não, lembrando que sua empresa não tem capital aberto em Bolsa e, portanto, não precisa dar satisfação a acionistas. “Sou proprietário único da Havan e não tenho sócio. A maioria dos empresários não pode se manifestar porque atrapalha a empresa deles na Bolsa”, diz.
A linguagem implacável e a aproximação ao ideário bolsonarista rendeu rumores de que Hang poderia ser convocado para vice do candidato.
Durante a campanha, as incursões políticas do empresário têm trazido mais resultados no campo do marketing. Neste mês, o candidato à Presidência Cabo Daciolo (Patriota) decidiu atacar, por meio de um vídeo, o modelo arquitetônico das lojas da Havan.
As fachadas das lojas imitam traços da Casa Branca e possuem réplicas da Estátua da Liberdade.
O estilo foi escolhido pelo próprio empresário, inspirado em viagens que fez aos EUA nos anos 1990, quando começou a trabalhar com importação.
A arquitetura da Havan, segundo ele, também simboliza a “liberdade” que a rede oferece ao consumidor diante de um portfólio de produtos muito vasto, que vai de edredom a máquina de lavar roupa.
Com o mesmo tom estridente com que se notabilizou nos debates entre os presidenciáveis, Daciolo diz no vídeo que as Estátuas da Liberdade são sinal da colonização do Brasil e deveriam, portanto, ser removidas. Viralizou.
“Foi a melhor propaganda que ele poderia ter feito para mim. Se eu o encontrar pessoalmente, quero ver quanto custa o cachê dele porque eu adorei”, disse Hang.
A conta de Hang no Facebook supera 1,5 milhão de seguidores, mas a fama trouxe custos, além da multa do TSE.
Com a maior exposição de seu nome, reemergem agora fatos antigos como a da busca e apreensão determinada pela Procuradoria da República em Blumenau (SC), há quase 20 anos, que resultou em uma autuação da empresa em R$ 117 milhões pela Receita Federal.
“Isso foi em 1990. A Havan tem 32 anos de história. O governo gosta de se agigantar e fazer com que todo mundo dependa dele para que você não possa nunca falar o que quer”, diz Hang.