Tucano Perillo, candidato ao Senado, é alvo de ação que apura corrupção
Ex-governador de Goiás é apontado como chefe de grupo; tucano afirma que ação foi ‘eleitoreira’
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (28) operação que apura suposto esquema de pagamento de propinas ao ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), candidato ao Senado nas eleições deste ano, e alguns de seus principais aliados.
Aliado do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), Perillo, apontado como chefe da organização investigada, foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa.
Em documento obtido pela Folha, a PF diz que só não requereu a prisão de Perillo por causa de restrições da lei eleitoral. Candidatos não podem ser presos entre 15 dias antes e dois dias após o pleito.
A operação Cash Delivery se baseou em delações de executivos da Odebrecht na Lava Jato. Eles relataram que, em troca de favorecer a empreiteira em contratos, Perillo recebeu R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014. Os recursos teriam ido para campanhas.
Nesta sexta (28), foram apreendidos R$ 940 mil na casa de Márcio Garcia de Moura, policial militar suspeito de envolvimento no esquema.
Segundo investigadores, as notas estavam numa caixa no endereço do PM. Ele é motorista de Jayme Rincon, ex-tesoureiro de Perillo e ex-secretário da Agetop (Agência Goiana de Transportes e Obras).
Na casa de Jayme, havia outros R$ 79 mil. Atualmente coordenador da campanha do candidato tucano ao governo, José Eliton, ele foi citado como agente que operava o esquema em nome de Perillo.
Nas planilhas de propina da Odebrecht, Perillo era identificado pelos codinomes Master, Padeiro, Calado ou Patati. Os recursos ilícitos seriam enviados a ele pelo doleiro Álvaro Novis, da Hoya Corretora de Valores e Câmbio, que trabalhava para a empreiteira.
Novis admitiu à PF que era encarregado de providenciar a entrega do dinheiro e que, para isso, usava as transportadoras Transnacional, em São Paulo, e TransExpert, no Rio.
Ele forneceu planilhas de controle e extratos dos pagamentos, além de gravações das conversas telefônicas.
Essas provas, segundo o Ministério Público Federal, reforçam os indícios de efetivo pagamento da propina.
A investigação começou no Superior Tribunal de Justiça em 2017. Com a renúncia de Perillo ao governo para concorrer ao Senado, o caso foi para primeira instância. Em julho deste ano, a Justiça Federal autorizou acesso de investigadores a emails e ligações telefônicas de investigados.
Ação da polícia foi eleitoreira, afirma ex-governador
OUTRO LADO
goiânia e brasília O ex-governador e candidato ao Senado Marconi Perillo (PSDB) chamou de “eleitoreira” a operação deflagrada pela
Polícia Federal. Ele fez a declaração em vídeo gravado por um de seus simpatizantes enquanto cumpria agenda de campanha em Crixás, a 320 km de Goiânia.
“Faltam nove dias para a eleição. Está claro que é uma ação eleitoreira, e eu repudio veementemente. É uma ação para tentar derrubar alguém que trabalhou por Goiás”, afirmou o ex-governador.
“Ando em qualquer canto de Goiás com a cabeça erguida, porque ninguém fez tanto como nós fizemos. Esse pessoal, para querer nos criticar, precisa fazer pelo menos 5% do que fizemos em cada canto de Goiás”, afirmou.
“O que o adversário, o coronelzão, que está por trás dessa operação, porque o promotor é amigo, procurador é ligado a ele, o que ele já fez por Goiás? Nada”, afirmou Perillo, sem citar nomes.
O advogado de Perillo, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, repudiou a ação da PF e a classificou como “violência inexplicável ao estado democrático de direito”.
“O ex-governador foi citado na delação da Odebrecht por fatos ocorridos em 2010 e 2014. É evidente que os fatos devem ser apurados e a defesa não tem nenhuma preocupação com a investigação. A palavra do delator é isolada e não há, sequer en passant, qualquer fiapo de indício contra o Marconi Perillo”, disse, por meio de nota.
Segundo ele, a busca e apreensão na residência do ex-governador assume “um caráter claramente eleitoreiro e demonstra um abuso por parte do Ministério Publico e do Poder Judiciário”.
Em nota, a coligação do governador candidato a reeleição José Eliton (PSDB), partido do qual faz parte Perillo, disse que fatos em apuração “não possuem qualquer vinculação com a nossa campanha”. “Tratam de fatos pretéritos que não têm relação com o atual momento eleitoral”.
“Confiamos na integridade do ex-governador Marconi Perillo, sabendo que ele terá a oportunidade de, nas regras constitucionais e processuais, demonstrar a lisura dos seus atos. Acreditamos nas instituições e no Estado de Direito”, afirma.
A nota diz também que as atividades de campanha serão mantidas.