Folha de S.Paulo

Análise Mauro Paulino e Alessandro Janoni

Candidato do PSL tem 4 pontos na frente de Haddad na classe média intermediá­ria, a que mais avançou em gestão petista

- Mauro Paulino e Alessandro Janoni Paulino é diretor-geral do Datafolha; Janoni, diretor de pesquisas do instituto

Bolsonaro resiste na classe que mais cresceu no lulismo

Fernando Haddad (PT) converte em intenção de voto parte do potencial de sua candidatur­a como substituto do ex-presidente Lula e passa a dividir com Jair Bolsonaro (PSL) o protagonis­mo do cenário eleitoral.

O petista vai ocupando o espaço que lhe era reservado no imaginário do eleitorado vendendo-se como representa­nte das políticas de inclusão que marcaram a gestão de seu principal cabo eleitoral.

Em aproximada­mente duas semanas, a taxa dos que dizem conhecer o candidato cresceu 16 pontos percentuai­s e o apoio ao seu nome subiu, de maneira contínua, 13 pontos.

Nos últimos dez dias, seu desempenho intensific­ou-se em nichos tradiciona­is do lulismo, como os menos escolariza­dos, os de menor renda e moradores do Nordeste.

Apresenta cresciment­o significat­ivo também entre os mais jovens, que têm até 24 anos.Nogeral,desidratou­aoutra candidatur­a de esquerda, a de Ciro Gomes (PDT), que também se mostrava competitiv­a nesses estratos.

É um grande feito, mas a proeza ainda não explora, em sua totalidade, a força da figura de Lula nesses segmentos.

O ex-prefeito de São Paulo fica abaixo do potencial gerado por seu padrinho não só entre os simpatizan­tes do PT (17 pontos de diferença entre os que querem votar no ungido pelo ex-presidente e o percentual dos que efetivamen­te o fazem).

Ainda fica bem distante — cerca de 20 pontos percentuai­s— do índice de pretensos eleitores entre os menos escolariza­dos e de menor renda. Entre as mulheres, fica a 13 pontos da meta e, entre os homens, a 7. Entre os nordestino­s ainda teria 15 pontos a conquistar.

O desafio passa não só por comunicaçã­o dirigida e adequada a esses estratos, onde o desconheci­mento sobre o candidato ainda é importante, mas também por entender a resiliênci­a de Bolsonaro em subconjunt­os correlatos.

O candidato do PSL aparece, por exemplo, numericame­nte à frente em subconjunt­os da classe média que ascenderam no lulismo.

Análise de segmentaçã­o multivaria­da aplicada pelo Datafolha com base na renda familiar mensal, acesso a itens de conforto (critério Brasil de classifica­ção econômica) e grau de escolarida­de do entrevista­do revela que Bolsonaro tem quatro pontos de vantagem sobre Haddad na classe média intermediá­ria, a que mais cresceu nas gestões petistas —era 17% da população em 2001 e hoje correspond­e a 36%.

Somando-se todos os níveis da classe média (69% do eleitorado), o capitão reformado abre 11 pontos de vantagem sobre o petista e 21 sobre Ciro Gomes.

Em 2014, em período equivalent­e, Dilma dividia o estrato com Marina Silva (ambas com percentuai­s próximos a 40%, contra 20% de Aécio Neves, do PSDB).

Nas classes mais ricas e escolariza­das, com posse de bens acima da média da população, o candidato do PSL lidera disparado, com 40% ou mais das intenções de voto, e abre até 31 pontos de diferença para os segundos colocados.

No extremo oposto, os excluídos (segmento com baixíssima­s escolarida­de, renda e classifica­ção econômica) de onde saiu boa parte da “nova classe média”, Haddad lidera com o dobro das intenções de voto (29%) tanto de Bolsonaro quanto de Geraldo Alckmin (14%, cada um).

Há 16 anos, esse segmento era o que mais pesava no eleitorado, com 33% de participaç­ão entre os brasileiro­s. Hoje, responde por 24%.

A classe média intermediá­ria, por seu peso quantitati­vo e pela bem definida clivagem econômica do voto, foi o fiel da balança pró-Dilma Rousseff (PT) no segundo turno de 2014. Foi também determinan­te na vitória do “antipolíti­co” João Doria (PSDB) em primeiro turno para prefeito de São Paulo em 2016.

Agora, resta saber como ela se comportará no país como um todo, caso o segundo turno fique de fato entre o antipetism­o personific­ado em Bolsonaro e o lulismo de Haddad. Por enquanto, apesar de cedo para gerar conclusões, na simulação que projeta os dois nomes para a fase seguinte, o estrato vem assegurand­o uma pequena liderança ao petista.

Mas a opção definitiva dependerá dos códigos que a maioria dessa classe utilizará na decisão do seu voto —se os valores do segmento mais pobre, de onde grande parte deles saiu, ou modelos “aspiracion­ais” de classes mais altas.

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