Folha de S.Paulo

Culta e decidida, Ed alicerçou a família e fez carreira na Câmara

EDMÉA DE LIMA PEREIRA (1922-2018)

- Paulo Gomes

Edméa ria quando alguém perguntava sobre suas habilidade­s com o tricô ou o crochê. Ela não sabia costurar. Não só não gostava como fazia troça com quem assumisse que ela fosse o estereótip­o de mulher da época. Tal aversão talvez tenha duas origens distintas na formação de Ed.

Uma vem dos primeiros anos de vida no Rio, quando estudava violino em casa com um professor austríaco, que também dava aula para seus dois irmãos. A atividade musical desde cedo imbuiu nela um apreço por enriquecim­ento cultural. O tempo livre seria então para leitura e cinema.

A outra, um amadurecim­ento forçado. Aos 17, já em São Paulo, perdeu o pai. Aos 19, a mãe. Sem sustento, os irmãos foram trabalhar, e ela iniciaria carreira na Câmara Municipal de São Paulo. Entrou como escriturár­ia e se aposentou como assistente de diretor.

Na Câmara, tornou-se janista —foi Jânio quem abriu concursos públicos para a Casa após ela voltar a funcionar, com o fim do Estado Novo de Getúlio. Ganhou a admiração de Ed por ser mais democrátic­o e coibir apaniguado­s.

Casou-se com Rubens, com quem teve dois filhos e ficou por mais de 30 anos, até a morte dele por câncer, aos 58. A estabilida­de no trabalho fazia com que fosse ela quem segurasse a onda na família quando o marido passava por atribulaçõ­es com o trabalho. Nunca reclamou disso.

Mas era uma pessoa franca, e que queria as coisas do seu jeito. A família por perto era uma delas. Quando, há alguns anos, teve uma queda e ma- chucou o braço, só foi para o hospital depois que o médico conversou com a filha —que estava em Portugal. Morreu no último dia 31, aos 95, após uma parada cardíaca. Deixa os filhos Rubens e Beatriz.

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