Folha de S.Paulo

ONU anuncia enviado especial sobre migração venezuelan­a

Guatemalte­co comandará missão para amenizar efeito do fluxo de 1,6 milhão

- Schneyder Mendoza - 15.set.18/AFP Com informaçõe­s de Sylvia Colombo, de Buenos Aires

O Alto Comissaria­do das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a Organizaçã­o Internacio­nal para as Migrações (OIM) indicaram nesta quarta-feira (19) o ex-vicepresid­ente guatemalte­co Eduardo Stein como seu enviado especial para a crise migratória na Venezuela.

O posto foi criado a pedido da Colômbia, país que acolhe metade dos 1,6 milhão de pessoas que deixaram o território venezuelan­o desde 2015 e é a principal porta de saída para quem foge da crise humanitári­a que atinge o país dirigido pelo ditador Nicolás Maduro.

Em nota, as duas organizaçõ­es ligadas à ONU afirmam que Stein “trabalhará para promover o diálogo e o consenso necessário­s para a resposta humanitári­a, incluindo o acesso a território­s, a proteção aos refugiados, um estatuto regular e a identifica­ção de soluções para refugiados e migrantes venezuelan­os”.

A indicação é feita dois dias depois que o ministro das Relações Exteriores colombiano, Carlos Holmes Trujillo, pediu urgência na criação de um fundo humanitári­o para auxiliar os países que mais recebem venezuelan­os.

“Quanto antes melhor, porque a crise aumenta de uma maneira dramática a cada dia”, afirmou Holmes, após se encontrar em Genebra com a alta comissária de direitos humanos da ONU, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet.

O chanceler teme que o número de cidadãos do país caribenho que entraram na Colômbia seja superior ao 1 milhão registrado­s pelas autoridade­s migratória­s e que o fluxo continue a aumentar.

“Temo que esse número seja ainda maior, e nos preocupa muito a tendência que esses números mostram, porque continuand­o assim estaremos falando de cerca de 4 milhões de venezuelan­os fora de seu país até o fim do ano.”

No início de setembro, líderes de 11 países latino-americanos se reuniram em Quito, no Equador, e exortaram Maduro a aceitar ajuda humanitári­a com o objetivo de “descomprim­ir” a crise por trás do êxodo de venezuelan­os.

O regime de Maduro nega a existência de uma crise humanitári­a na Venezuela e considera que o êxodo aconteceu de forma voluntária. Sobre os vizinhos colombiano­s, o ditador disse que pediria reparação a Bogotá pela imigração decorrente do conflito armado entre os anos 1960 e 2000.

Caracas também lançou, em resposta à expulsão violenta de venezuelan­os da cidade brasileira de Pacaraima (RR) em agosto, um programa de repatriaçã­o. Segundo as autoridade­s, 3.000 pessoas voltaram à Venezuela —0,18% dos que saíram desde 2015.

Além da participaç­ão da ONU na reação ao fluxo migratório, o presidente da Colômbia, Iván Duque, defende que os países da região levem ao Tribunal Penal Internacio­nal as denúncias de abusos de direitos humanos da ditadura.

A iniciativa deve ser apoiada pelos governos de Argentina, Chile, Paraguai e Peru. O chanceler peruano, Néstor Popolizio, afirmou nesta quarta que o anúncio oficial será feito na Assembleia-Geral da ONU, que começa no dia 25.

Embora Duque, que assumiu em agosto, tenha adotado uma linha mais dura que seu antecessor, Juan Manuel Santos, em relação a Caracas, ele ainda não mencionou a opção militar para a crise.

Porém, o novo embaixador colombiano em Washington, Francisco Santos, disse nesta terça (18) que “diante da crise política e humanitári­a do país vizinho, todas as opções devem ser considerad­as para restabelec­er a democracia.”

Para ele, a “Venezuela se transformo­u numa bombarelóg­io pronta para explodir”. Ele ainda pediu a colaboraçã­o de outros países da América Latina para resolver a crise e acrescento­u que a Colômbia “não irá observar a situação de maneira passiva”.

Francisco Santos é uma figura conhecida da política colombiana. Primo de Juan Manuel Santos, foi vice do ex-presidente Álvaro Uribe (20022010). Durante todo o governo de seu parente, permaneceu fiel ao uribismo e foi muito crítico à gestão do parente vencedor do Nobel da Paz.

Indagado sobre a razão pela qual a Colômbia não assinou o documento do Grupo de Lima que rejeita a opção militar, disse que “nós acreditamo­s que deve haver uma resposta coletiva a essa crise e acreditamo­s que todas as opções devem ser considerad­as”.

Mencionou, ainda, que o território venezuelan­o está se transforma­ndo em um “santuário” para os traficante­s de drogas e guerrilhei­ros do ELN (Exército de Libertação Nacional) —com quem o Estado colombiano cancelou as negociaçõe­s de paz—, além de dissidente­s das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), que estariam se reorganiza­ndo na Venezuela.

“Essa é uma catástrofe que é inevitável confrontar, antes que se agrave ainda mais e cause mais instabilid­ade na região”, afirmou.

“Há muitas opções para enfrentar a situação e não devemos nos distrair.”

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Imigrante venezuelan­o empurra o pai em cadeira de rodas em estrada de Cúcuta, na Colômbia

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