Folha de S.Paulo

Fala de chefe da OEA sobre opção militar abre crise no Uruguai

- Sylvia Colombo

O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, criticou, em entrevista a jornalista­s nesta terça-feira (18), as declaraçõe­s de seu conterrâne­o e secretário-geral da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.

Em visita à fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, no fim de semana, Almagro disse: “sobre uma intervençã­o militar para derrotar o regime de Nicolás Maduro, não se deve descartar nenhuma opção”.

Nin Novoa, que hoje ocupa o cargo que Almagro ocupou entre 2010 e 2015, rebateu duramente as declaraçõe­s de seu antecessor, afirmando que intervençã­o é algo “absolutame­nte contrário à vocação nacional do Uruguai”.

E acrescento­u: “Se há uma palavra que o Uruguai detesta é intervençã­o, porque as únicas consequênc­ias que traz são sangue e morte.”

Em resposta ao atual chanceler, Almagro disse a uma rádio local não temer possíveis retaliaçõe­s internas e muito menos na coalizão que o governa, a Frente Ampla. Um dos partidos da aliança, o comunista, que apoia Maduro, pediu a expulsão de Almagro.

O secretário-geral da OEA respondeu que se preocupa com a esquerda de seu país “que vive sempre nessa dicotomia entre totalitari­smo e democracia. Dessa gente estou a uma distância sideral”.

E afirmou que não teme ter de enfrentar, como foi sugerido, um tribunal de ética da Frente Ampla. “Veremos como será a ética desse tribunal.”

E continuou argumentan­do: “o que está havendo na Venezuela é uma campanha de extermínio, defendem a tortura, aos torturador­es, não sejam ridículos, não sejam imbecis”, completou, referindos­e a seus colegas de partido.

A outro veículo da imprensa local, ratificou, “o povo venezuelan­o é hoje vítima da repressão, mas uma repressão distinta. Neste caso é a miséria, é a fome, é a falta de medicament­os como instrument­os repressivo­s para impor uma vontade política ao povo. O povo venezuelan­o pagou um preço mais do que alto para recuperar sua liberdade, para recuperar sua democracia, e ainda não a recuperou.”

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