Folha de S.Paulo

Saques com cartões de lojas são empréstimo­s com altos juros

- Arthur Cagliari

Por não exigir análise de crédito rigorosa para obtê-los, os cartões de marcas próprias se populariza­ram em postos de combustíve­l, supermerca­dos e lojas de departamen­tos.

Além de descontos e vantagens que oferecem, esses cartões também permitem que o cliente faça saques (em alguns casos até fora do Brasil).

Especialis­tas alertam, porém, que esse tipo de transação pode colocar a saúde financeira do consumidor em risco.

Análise da Proteste (associação de defesa do consumidor) mostra que o saque feito pelo cartão de loja funciona como um empréstimo pessoal, mas com juros mais elevados e taxa de serviço.

“Os cartões tradiciona­is já possuem altas taxas de juros no Brasil, e os de loja são mais caros ainda”, afirma Rodrigo Alexandre, analista de mercado da Proteste.

“Aconselham­os o consumidor a não fazer esse tipo de saque em hipótese alguma.”

Apesar de esse tipo de saque ser cobrado em uma fatura, como uma compra feita no cartão, a transação é semelhante a de um empréstimo pessoal feito em banco.

Levantamen­to feito pela Folha mostra que, enquanto as taxas de juros dos cartões de lojas são de até 765,23%ao ano, o empréstimo pessoal feito por bancos costuma ter taxa média de 107,69% ao ano.

De acordo com o analista da Proteste, a alta taxa de juros desses cartões se explica pelo fato de que as lojas não fazem uma análise de risco rigorosa sobre o cliente que recebe o produto.

Além disso, em geral não há um banco por trás das operações, mas uma financeira.

Reinaldo Domingos, educador financeiro, explica que se, por algum motivo, o consumidor fez esse tipo de saque, o ideal é pagar corretamen­te e evitar atrasos para que o valor não aumente.

“Se a pessoa usou essa linha de crédito, com juros elevados, ela precisa ter a convicção de que precisa honrá-la dentro do vencimento para não colocar sua saúde financeira em risco”, diz o especialis­ta.

“Por isso, esse tipo de operação é quase suicida se a pessoa não tem domínio de quanto ela ganha e de quanto gasta”, afirma Domingos.

Ele diz ainda que, caso o consumidor já tenha feito a operação e esteja com dificuldad­e para pagar a conta, precisa, além de cortar gastos, não fazer outras compras para que essa dívida, que corre com juros altos, seja paga o mais rápido possível.

O consumidor também deve ficar atento aos serviços que as lojas oferecem com os cartões de crédito, como títulos de capitaliza­ção, seguro-desemprego e seguro de vida.

Todos eles são pagos, e se o consumidor não tiver interesse e não achar necessário o pagamento por eles, pode optar por não contratá-los. Por isso, é preciso ler atentament­e as propostas feitas pelas grandes redes varejistas nos contratos dos cartões.

Caso a loja insista ou diga que o cartão só será oferecido com esses serviços, o consumidor pode procurar uma associação de defesa do consumidor para denunciar a prática, uma vez que a venda casada é ilegal.

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