Queda da construção puxa retração de 1,8% dos investimentos
O recuo da construção contaminou os números da indústria e também os dos investimentos, que responde por mais da metade desse item dentro do cálculo do PIB. Assim, depois de quatro trimestres seguidos no positivo, o investimento voltou a cair de abril a junho deste ano.
O IBGE informou que o investimento caiu 1,8% no segundo trimestre, em comparação com os primeiros três meses do ano. Em relação ao mesmo período de 2019, quando o país começava a sair da recessão, houve uma alta de 3,7%, em razão da baixa base de comparação.
O investimento é uma variável volátil, pois depende da disposição do empresário e de sua confiança no futuro.
A paralisação dos caminhoneiros, porém, derrubou os indicadores de confiança tanto de empresários quanto de consumidores.
Em julho, houve até uma leve melhora, mas o baque teve efeito determinante no potencial de crescimento da economia brasileira neste ano, segundo os economistas Aloísio Campelo e Viviane Seda, do Ibre/FGV, afetando investimentos e de contratações.
Um dos retratos da retração da indústria está em Franca (a 400 km de São Paulo).
Denominada capital nacional do calçado, o município viu as vagas nessa indústria cair de 30 mil há cinco anos para 19.727 em julho. É o pior quadro para o mês desde 2002. Só entre maio e julho, foram fechadas 1.302 vagas.
A produção das indústrias, desde então, também só despenca: dos 39,5 milhões de pares fabricados em 2013, a previsão é que neste ano sejam feitos apenas 28 milhões.
A empresa de Téti Brigagão, diretor das marcas Sândalo/ Clave de Fá, chegou a produzir 600 pares de calçados por dia, mas agora tem feito 400, dos quais 20% para exportação.
“Não tem como tapar o sol com peneira. Estaríamos nadando em braçadas maiores se a economia ajudasse”, disse ele, cuja família foi uma das primeiras a exportar para os EUA, nos anos 1970.
A fábrica não consegue manter o quadro ideal de funcionários. Emprega cem de dezembro a maio, quando há mais pedidos. No resto do ano, são apenas 80.
Psicóloga e coordenadora de RH da Agiliza, empresa que atua em recrutamento, Rosângela Baldini Silva disse que em 19 anos na atividade nunca viu um cenário tão ruim. Recebe de 60 a 70 currículos por dia, ao menos 80% para o setor que não tem vagas.