Tensão com extrema direita cresce após morte na Alemanha
Michael Kretschmer, o chefe de governo do estado alemão da Saxônia, sabia que estava entrando na toca do leão. Mas mesmo assim ele parecia despreparado para as vaias, os assobios e miados que o receberam em Chemnitz, cidade que está fervendo de raiva e dor.
Dirigindo-se a uma reunião de moradores revoltados pelo assassinato de um homem de 35 anos na cidade no último fim de semana, Kretschmer insistiu que eles deveriam se distanciar dos extremistas de direita que sequestraram seu protesto pacífico pelo assassinato, que as autoridades suspeitam ter sido cometido por um sírio e um iraquiano.
“Não é bom estar numa demonstração onde as pessoas fazem a saudação de Hitler”, disse ele. “Então é hora de dizer: ‘Não queremos nada com essa gente’.” A reação foi furiosa: “Vocês estão fingindo que a pior coisa que aconteceu foi a saudação nazista”, retrucou um homem. “O pior foi que um homem foi morto.”
Chemnitz, terceira maior cidade da Saxônia, tornouse um símbolo da ascensão incansável da extrema direita na Alemanha.
Em uma série de manifestações nesta semana, jovens entoaram “Alemanha para os alemães” e “fora estrangeiros”. Um país que há muito tempo pensava ter descartado o nazismo foi confrontado com seu triste renascimento.
Mas as pessoas reunidas na tarde de quinta-feira (30) para ouvir Kretschmer, um astro em ascensão na União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel, acusaram os políticos locais e nacionais de pintar a todos com o mesmo pincel infame do nazismo. Eles também disseram que estavam ignorando seus problemas e minimizando a ameaça dos crimes de imigrantes.
Os choques desta semana foram provocados pelo assassinato de um homem no domingo (26). Enquanto circulavam rumores de que os assassinos eram muçulmanos que solicitavam asilo, uma multidão entrou em frenesi, perseguindo qualquer um que parecesse estrangeiro. Houve choques entre manifestantes de direita e de esquerda. A polícia parecia impotente para conter a violência. Dois homens estão em custódia pela morte no fim de semana.
As tensões fervilhantes sobre imigração, identidade, raça e religião têm corroído a Alemanha desde que Merkel permitiu a entrada de mais de 1 milhão de migrantes no auge da crise dos refugiados.
Isso deu força à ascensão da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de direita ultranacionalista que hoje é a maior força opositora no Parlamento alemão.
Essas tensões explodiram em Chemnitz. A cidade de 250 mil habitantes próxima da fronteira com a República Tcheca provavelmente continuará sendo ponto de choque.
A AfD planejou uma marcha para este sábado (1º), juntamente com o movimento anti-islâmico Pegida, enquanto grupos antifascistas também convocaram seus seguidores.
O partido foi o único que não condenou os excessos da direita em Chemnitz. Seu líder, Alexander Gauland, disse que quando se cometem assassinatos “é normal que as pessoas fiquem furiosas”.
Os apoiadores da AfD foram à frente no comício organizado pela aliança de direita “Pro Chemnitz” na quinta-feira.
Matthias Henke, um dos manifestantes, segurava uma placa acusando a CDU de “traidores”. “Merkel fala em manter a lei e a ordem, mas as pessoas estão sendo mortas nas ruas”, disse ele. “Se as coisas continuarem assim, vamos rumar para a guerra civil.”