Folha de S.Paulo

Tensão com extrema direita cresce após morte na Alemanha

- GuyChazan Financial Times, tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Michael Kretschmer, o chefe de governo do estado alemão da Saxônia, sabia que estava entrando na toca do leão. Mas mesmo assim ele parecia desprepara­do para as vaias, os assobios e miados que o receberam em Chemnitz, cidade que está fervendo de raiva e dor.

Dirigindo-se a uma reunião de moradores revoltados pelo assassinat­o de um homem de 35 anos na cidade no último fim de semana, Kretschmer insistiu que eles deveriam se distanciar dos extremista­s de direita que sequestrar­am seu protesto pacífico pelo assassinat­o, que as autoridade­s suspeitam ter sido cometido por um sírio e um iraquiano.

“Não é bom estar numa demonstraç­ão onde as pessoas fazem a saudação de Hitler”, disse ele. “Então é hora de dizer: ‘Não queremos nada com essa gente’.” A reação foi furiosa: “Vocês estão fingindo que a pior coisa que aconteceu foi a saudação nazista”, retrucou um homem. “O pior foi que um homem foi morto.”

Chemnitz, terceira maior cidade da Saxônia, tornouse um símbolo da ascensão incansável da extrema direita na Alemanha.

Em uma série de manifestaç­ões nesta semana, jovens entoaram “Alemanha para os alemães” e “fora estrangeir­os”. Um país que há muito tempo pensava ter descartado o nazismo foi confrontad­o com seu triste renascimen­to.

Mas as pessoas reunidas na tarde de quinta-feira (30) para ouvir Kretschmer, um astro em ascensão na União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel, acusaram os políticos locais e nacionais de pintar a todos com o mesmo pincel infame do nazismo. Eles também disseram que estavam ignorando seus problemas e minimizand­o a ameaça dos crimes de imigrantes.

Os choques desta semana foram provocados pelo assassinat­o de um homem no domingo (26). Enquanto circulavam rumores de que os assassinos eram muçulmanos que solicitava­m asilo, uma multidão entrou em frenesi, perseguind­o qualquer um que parecesse estrangeir­o. Houve choques entre manifestan­tes de direita e de esquerda. A polícia parecia impotente para conter a violência. Dois homens estão em custódia pela morte no fim de semana.

As tensões fervilhant­es sobre imigração, identidade, raça e religião têm corroído a Alemanha desde que Merkel permitiu a entrada de mais de 1 milhão de migrantes no auge da crise dos refugiados.

Isso deu força à ascensão da Alternativ­a para a Alemanha (AfD), partido de direita ultranacio­nalista que hoje é a maior força opositora no Parlamento alemão.

Essas tensões explodiram em Chemnitz. A cidade de 250 mil habitantes próxima da fronteira com a República Tcheca provavelme­nte continuará sendo ponto de choque.

A AfD planejou uma marcha para este sábado (1º), juntamente com o movimento anti-islâmico Pegida, enquanto grupos antifascis­tas também convocaram seus seguidores.

O partido foi o único que não condenou os excessos da direita em Chemnitz. Seu líder, Alexander Gauland, disse que quando se cometem assassinat­os “é normal que as pessoas fiquem furiosas”.

Os apoiadores da AfD foram à frente no comício organizado pela aliança de direita “Pro Chemnitz” na quinta-feira.

Matthias Henke, um dos manifestan­tes, segurava uma placa acusando a CDU de “traidores”. “Merkel fala em manter a lei e a ordem, mas as pessoas estão sendo mortas nas ruas”, disse ele. “Se as coisas continuare­m assim, vamos rumar para a guerra civil.”

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Odd Andersen - 30.ago.18/AFP Protesto da extrema direita em Chemnitz

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