Bergman e Welles inauguram Coleção Folha com grandes diretores do cinema
‘Monika e o Desejo’, do diretor sueco, e ‘Soberba’, do americano, são os primeiros dos 30 volumes
Há fórmulas fáceis para encarar a realidade? É melhor agarrar-se com soberba a uma era de ouro da vida que já se foi ou simplesmente fugir para uma praia? A questão atravessa os dois primeiros filmes da Coleção Folha Grandes Diretores no Cinema, que chegam às bancas neste domingo (5).
No primeiro dos 30 volumes, “Monika e o Desejo” (1953), do sueco Ingmar Bergman (19182007), um jovem casal tenta escapar das responsabilidades da vida adulta.
No segundo, “Soberba” (1942), de Orson Welles (19151985), uma família aristocrática usa festas para se esquivar tanto da decadência como da modernidade.
Na compra do primeiro, por R$ 19,90, o segundo sai grátis. Além do filme, os volumes trazem análises e ficha técnica.
A filmografia de Bergman, diretor de clássicos como “O Sétimo Selo” (1957) e “Gritos e Sussurros” (1972), é marcada por temas como metafísica e o aprisionamento de desejos, que são apresentados por meio de elementos como closes e longos diálogos (influência do teatro, área em que também atuava).
“Monika e o Desejo” trata-se de um estudo sobre a juventude, a impulsividade e a irracionalidade que dominam essa fase da vida. No longa, Harry e Monika vivem um verão de ilusões em uma praia, onde tudo é novo e aparentemente pode ser conquistado.
Ao fim do verão, a fantasia se esvai com a descoberta da gravidez de Monika e a necessidade de o casal se adequar a papéis adultos.
No segundo volume da Coleção Folha, a realidade chega aos personagens de “Soberba” de carona com a modernidade, que leva uma família à decadência no final do século 19 e outra, à ascensão.
Isabel Amberson e Eugene Morgan vivem um desencontro amoroso que ganha novos capítulos anos depois. Ela e o filho George estão presos a um passado glorioso, às heranças que os sustentam.
Eugene e a filha Lucy buscam um futuro de industrialização e desprendimento.
O filme, indicado a quatro Oscars, é símbolo das disputas entre o gênio autoral e a indústria cinematográfica que tanto marcaram a carreira de Welles, um dos maiores diretores de todos os tempos.
Ele chegou a Hollywood aos 24 anos e recebeu uma rara carta branca do estúdio RKO, um dos principais naquela época. Welles bebeu em diversas fontes antes de filmar “Cidadão Kane” (1941), que subverte a estrutura começo, meio e fim, a exemplo da escola expressionista alemã, com ângulos e movimentos de câmera particulares.
Em “Soberba”, feito um ano depois, a relação entre Welles e RKO já era outra. Grande parte do material rodado foi descartado pelo estúdio a fim de tornar o filme mais palatável ao espectador. A última sequência, inclusive, destoa do tom pessimista concebido por Welles.