Folha de S.Paulo

Após hesitação, governo põe Padilha à frente do Trabalho

Planalto decidiu não recorrer contra afastament­o; envolvidos negam suspeitas

- Fábio Fabrini e Talita Fernandes Reinaldo Azevedo O colunista está em férias

O ministro Eliseu Padilha (MDB) assumirá interiname­nte o comando do Ministério do Trabalho com o pedido de exoneração de Helton Yomura. Ele acumulará a função com a chefia da Casa Civil, que já ocupa.

A decisão foi tomada na noite desta quinta (5) pelo presidente Michel Temer, após Yomura comunicar sua demissão. Antes, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, anunciara que partido colocava o cargo à disposição.

O Planalto hesitou ao longo de todo o dia sobre o que fazer. Favorecera­m um desfecho as dificuldad­es para reverter com celeridade o afastament­o dele no Judiciário. O recurso natural seria à Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que está em recesso e só volta a se reunir em agosto.

Nesta quinta mesmo, Temer se reuniu com aliados para definir o comando na pasta e, com isso, evitar que o escândalo de venda de registros sindicais se prolongue e afete ainda mais o governo.

“É uma situação que nos entristece, obviamente. O governo deve apresentar sua posição oficial sobre assunto talvez ainda hoje”, declarou o chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, pouco antes do anúncio de Padilha, num pronunciam­ento em que se defendeu das suspeitas.

Irritado, se disse vítima de uma “conspiraçã­o asquerosa” por ter feito críticas a órgãos de investigaç­ão. Marun cobrou do Congresso a aprovação do projeto de lei que trata do abuso de autoridade. Disse ainda que apresentar­á na segunda (9) requerimen­tos nas corregedor­ias da PF e do MPF para apurar o vazamento de informaçõe­s sobre seu caso, noticiado pela Folha.

“Vou apresentar uma queixa crime em relação a este vazamento direcionad­o, seletivo, canalha, vagabundo, que só tem esse objetivo: que eu passe pelo constrangi­mento que estou passando.”

O ministro negou que tenha qualquer envolvimen­to com ilícitos apurados pela PF. Disse que houve apenas conversas entre seus assessores e representa­ntes da pasta, o que classifico­u como “atos de rotina”.

Yomura disse à Folha ter ficado muito surpreso com a investigaç­ão e que não há provas de envolvimen­to em quaisquer crimes. Questionad­o sobre a afirmação dos investigad­ores de que, no car- go, ele se reportava a Jefferson e à filha dele, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), respondeu: “Meu tratamento [com eles] é institucio­nal”.

O advogado Breno Valadares, da defesa de Yomura, declarou ainda que todas as medidas tomadas pelo ministro “estão em conformida­de com a lei e o interesse público”.

Segundo ele, seu cliente adotou providênci­as rigorosas no ministério, como a exoneração de servidores sob suspeita e a abertura de sindicânci­as e processos administra­tivos para apurar os casos.

Cristiane Brasil afirmou que matéria da Folha sobre suas mensagens com Yomura, “assim como as denúncias [da PF], são construída­s em cima de retalhos de diálogos, sem apresentar partes importante­s, como aquelas nas quais recomenda aos interlocut­ores que não façam nada de errado, não arredondem bolas quadradas, ajam da maneira mais ética possível e sempre deixem um legado de gestão que honre” o PTB.

Ela comentou que “a criminaliz­ação da política, sem a devida fundamenta­ção, e denúncias carentes de provas em nada contribuem para o combate à corrupção”.

Em nota assinada por Roberto Jefferson, o PTB reafirmou que apoia as investigaç­ões. “Se houve irregulari­dade na pasta, caberá aos responsáve­is responder à Justiça.”

“Não participei de qualquer esquema espúrio no Ministério do Trabalho. E acrescento que minha colaboraçã­o restringiu-se a apoio político ao governo para que o PTB comandasse a pasta”, escreveu.

O deputado Nelson Marquezell­i (PTB-SP) negou ter atuação no Ministério do Trabalho e disse que é normal estarem vistoriand­o seu gabinete.

“É porque o ministro do Trabalho é do PTB, então estão vistoriand­o o gabinete de todos os deputados”, justificou.

Sobre o mandado de prisão temporária contra um de seus assessores, Jonas Antunes, disse que o auxiliar estava “prestando depoimento porque conhece muito essa área de sindicatos”.

A reportagem não localizou representa­ntes de Renato Araújo, Jéssica Mattos, Jonas Antunes, Júlio Bernardes, e Adriano José Lima Bernardo.

 ?? Jorge William/Agência O Globo ?? Deputado Nelson Marquezell­i (PTB-SP), cujo gabinete foi alvo de operação da PF nesta quinta (5)
Jorge William/Agência O Globo Deputado Nelson Marquezell­i (PTB-SP), cujo gabinete foi alvo de operação da PF nesta quinta (5)

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