Folha de S.Paulo

PIB atropelado

Paralisaçã­o dos caminhonei­ros leva produção da indústria a desabar e acentua pessimismo com a alta da economia, associado à incerteza eleitoral

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Sobre impacto da paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

Com a divulgação de indicadore­s relativos a maio e junho, já se pode começar a medir os impactos da paralisaçã­o dos caminhonei­ros na atividade econômica do país. Eles não se mostram pequenos.

Os mais evidentes decorrem dos problemas logísticos que perturbara­m as cadeias produtivas. De abril para maio, a indústria contabiliz­ou queda de 10,9% —a maior desde dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacio­nal.

O desempenho do mês ficou 6,1% abaixo do verificado em dezembro de 2016, quando chegou ao fim uma brutal recessão de 11 trimestres.

Fabricação e vendas de automóveis recuaram, respectiva­mente, 25,9% e 7,8%, feitos os ajustes de sazonalida­de. Em junho, expectativ­as de alguma melhora no setor foram frustradas.

Como resultado, acentuaram-se as revisões das estimativa­s para o cresciment­o do Produto Interno Bruto neste ano. Embora os analistas consultado­s pelo Banco Central ainda calculem uma alta em torno de 1,5%, já existem simulações que mostram números abaixo de 1%. O próprio BC reduziu sua expectativ­a de 2,6% para 1,6%.

O comportame­nto da inflação também se alterou. A interrupçã­o do fluxo de chegada de alimentos ao mercado fez a cesta básica subir quase 8% no espaço de um mês. O IPCA-15 de junho ficou em 1,11%, maior taxa para o mês desde 1995.

Mesmo que graves, tais efeitos deveriam ser passageiro­s. Entretanto a paralisaçã­o de certa forma foi catalisado­ra de temores que estavam latentes na economia.

A incerteza eleitoral é um deles. O amplo apoio popular ao movimento foi lido por empresário­s e investidor­es como um mau presságio para o pleito. Nesse cenário, decisões de investimen­to tendem a ser adiadas até que haja maior clareza em relação à agenda do país.

Segundo a Fundação Getulio Vargas, os indicadore­s setoriais de confiança de construção, comércio, consumidor­es e serviços retroceder­am a patamares do final do ano passado. Juros de mercado mais altos e dólar valorizado também são sintomas do mau humor.

Infelizmen­te, há pouco o que o governo possa fazer no momento. Ao BC cabe evitar ao máximo um endurecime­nto da política monetária, de modo a não agravar a ociosidade nas empresas e o desemprego. Já os presidenci­áveis darão grande contribuiç­ão se apresentar­em propostas claras e exequíveis.

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