Folha de S.Paulo

Em crise, CUT negocia venda de sede para igreja evangélica

Sem imposto sindical, central recebe oferta de R$ 40 milhões por prédio

- Catia Seabra

Em crise financeira, a CUT (Central Única dos Trabalhado­res) está negociando a venda de sua sede, no Brás, região central de São Paulo, para a Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo pastor Valdemiro Santiago.

A Folha apurou que a oferta é de R$ 40 milhões, sendo metade à vista e o restante em quatro parcelas.

A CUT não quis se manifestar sobre a negociação nem confirmar esses valores.

A Igreja Mundial do Poder de Deus funciona na mesma rua da CUT e já comprou propriedad­es ao redor da central, mantendo até mesmo dois restaurant­es na região.

O prédio da CUT tem instalaçõe­s modernas, como cabeamento de rede e sistema de refrigeraç­ão.

Essa é a segunda vez que a agremiação religiosa propõe a compra do edifício de sete andares com o intuito de instalar nele sua sede administra­tiva.

Há dois anos, a CUT recusou a proposta. Mas o fim do imposto sindical obrigatóri­o, associado ao alto índice de desemprego, derrubou a receita da entidade. Procurada novamente, a central reabriu as negociaçõe­s.

Celebrado o negócio, a CUT deverá ser transferid­a para o edifício que abriga o Sindicato dos Bancários, no centro histórico de São Paulo.

Com a crise, os sindicatos deixaram de repassar recursos —sendo 10% de sua recei- ta— para a central. Só em São Paulo, hoje 70% dos sindicatos estariam inadimplen­tes.

No ano passado, a CUT Nacional fez um PDV (programa de demissão voluntária) para reduzir o quadro de funcionári­os.

Agora é a vez de a CUT Estadual —braço da Nacional— cortar gastos com pessoal.

O programa em elaboração inclui não apenas o desligamen­to de aposentado­s e funcionári­os mas a contrataçã­o de pessoas jurídicas, a chamada pejotizaçã­o.

A folha de pagamento da sede CUT/SP consumiu R$ 171 mil em março. Somado ao gasto de 19 subsedes —que é de cerca de R$ 138 mil—, o custo com pessoal ultrapasso­u R$ 300 mil naquele mês.

A Folha apurou que 15 das 19 subsedes têm saldo mensal negativo.

A subsede de Ribeirão Preto arrecadou, por exemplo, cerca de R$ 400 em março, mas gastou R$ 10,1 mil com folha de pagamento.

A de Presidente Prudente tem receita de cerca de R$ 3.000 e gasto de R$ 10 mil.

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Eduardo Anizelli/ Folhapress Sede da CUT no Brás, região central de São Paulo, tem sete andares e está na mira de igreja
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