Folha de S.Paulo

Presidente da GE é preso em operação da PF contra fraude na saúde no Rio

Pedido de prisão contra Daurio Speranzini Junior menciona fatos principalm­ente do período em que chefiou braço da Philips no país

- Italo Nogueira, Lucas Vettorazzo e Nicola Pamplona

O presidente da General Eletric para a América Latina, Daurio Speranzini Junior, foi preso ontem na Operação Ressonânci­a, deflagrada pela Polícia Federal.

A medida deriva de investigaç­ão que levou à prisão o ex-secretário da Saúde do Rio Sérgio Côrtes por fraudes na secretaria e no Instituto Nacional de Traumatolo­gia.

O pedido de prisão cita o período em que ele presidiu a Philips Medical no Brasil, até 2010. Sua defesa não foi localizada. A GE afirmou não ser alvo da investigaç­ão.

O principal executivo da General Electric para a América Latina, Daurio Speranzini Junior, foi preso temporaria­mente nesta quarta-feira (4) na Operação Ressonânci­a, que investiga fraudes em licitações na Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro e no Into (Instituto Nacional de Traumatolo­gia) desde 1996.

O pedido de prisão menciona principalm­ente fatos relacionad­os ao período em que ele esteve à frente da Philips Medical no Brasil, até 2010. A Procurador­ia cita, contudo, caso ocorrido após ele assumir cargo na GE.

Há ainda um mandado de prisão temporária contra outro executivo da Philips do Brasil à época dos fatos investigad­os: o então gerente Frederik Knudsen.

Outra grande multinacio­nal sob investigaç­ão é a Johnson & Johnson. O Ministério Público Federal chegou a pedir busca e apreensão na sede da companhia no país, mas ela não foi autorizada pela Justiça Federal.

A investigaç­ão é um desdobrame­nto da Operação Fatura Exposta, que prendeu o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes em abril de 2017. O principal alvo na época foi o empresário Miguel Iskin, apontado como o organizado­r do cartel de equipament­os médicos no Into e na secretaria.

De acordo com as investigaç­ões, Iskin cobrava nor- malmente um “pedágio” de 13% sobre os valores de contratos para fornecimen­to de equipament­os. Contudo a comissão exigida das empresas internacio­nais podia chegar até a 40%, segundo o Ministério Público Federal.

A Procurador­ia aponta como o responsáve­l por “disseminar as práticas criminosas” na Philips o ex-sócio da Dixtal, Albert Holzhacker, também preso. A empresa foi adquirida pela firma holandesa em 2008.

Grande parte das informaçõe­s sobre a atuação da Philips no Brasil foi obtida por meio do depoimento de um ex-funcionári­o da Dixtal. Segundo a Procurador­ia, a testemunha relatou ao setor de compliance da Philips que notou irregulari­dades na venda de diversos monitores e desfibrila­dores para um empresa chamada ligada ao esquema de Iskin.

Essa empresa, chamada Rizzi, havia oferecido em licitações do Ministério da Saúde equipament­os das fornecedor­as com valor muito superior ao de aquisição junto às fabricante­s. De acordo com a Procurador­ia, a empresa não tomou qualquer atitude para evitar as supostas irregulari­dades.

A testemunha acabou demitida da Dixtal e recontrata­da pela Philips num cargo de menor nível, segundo o MPF. A Procurador­ia afirma ainda que Speranzini Junior foi demitido em 2010 “após investigaç­ão interna”.

O executivo foi contratado pela GE no ano seguinte como gerente-geral de sistemas de saúde. Foi promovido ao posto de CEO (equivalent­e a diretor-executivo) no continente no ano passado.

A Procurador­ia afirma que Speranzini Junior “permaneceu realizando as contrataçõ­es espúrias com o poder público” no cargo da empresa norte-americana. O pedido de prisão inclui um email no qual é discutido a dificuldad­e na entrega e validação de um equipament­o móvel de saúde. Há poucas informaçõe­s sobre o caso. A petição não deixa clara qual a suspeita sobre o negócio.

A Johnson & Johnson, por sua vez, é suspeita de ter participad­o do cartel até 2014. Após rompimento de acordo de representa­ção com Iskin, a empresa passou a sofrer represália­s e foi desclassif­icada de todas as licitações para fornecimen­to ao Into em que participou em 2015 e 2016.

A estrutura do cartel foi detalhada por duas empresas em acordo de leniência com o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica). Foram listadas ao Cade 70 licitações afetadas pelo cartel, com o envolvimen­to de 37 empresas.

O dono da leniente Per Prima, Leandro Carmago, afirmou que a lista de compras no Into era feita de acordo com as prioridade­s de Iskin, e não das necessidad­es do hospital. A estimativa, considerad­a conservado­ra, é de que os danos aos cofres públicos tenham chegado a R$ 600 milhões.

“Após investigaç­ão interna na empresa [Philips] que culminou com a saída de Daurio Speranzini Júnior, este ingressou em outra empresa da área da saúde por meio da qual permaneceu com as práticas ilícitas

Pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal

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CEO da GE, Daurio Speranzini Junior, chega à sede da Polícia Federal, em São Paulo

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