A Copa além da bola
Pobre de quem acha ser a Copa do Mundo apenas um torneio de futebol. É muito mais do que isso.
Além de ser a oportunidade de conhecer cidades para as quais você jamais iria como, por exemplo, Sochi e Rostov.
Não que Sochi seja um horror, ao contrário, mas balneário por balneário, francamente, outros há muito mais interessantes e nos quais as pessoas, ao menos, arriscam outra língua que não a nativa.
Já Rostov, esqueça. Não há motivo algum para ir para lá, a não ser Brasil x Suíça, e olhe lá.
Em compensação, repita-se, em compensação, São Petersburgo vale muito mais que uma missa. Vale mil, 1 milhão, como diria Julia ao declarar amor ao avô, “infinito além”.
Que cidade espetacular, fruto do maluco chamado Pedro 1º como o nosso, só que deles, os russos, com acréscimo de “o Grande”, que inventou de erguer, no começo de 1700, a cidade sobre um pântano para ter saída pelo mar Báltico, como Juscelino Kubitschek, na segunda metade do século 20, fez outra no planalto central do país.
Suas pontes, catedrais, o Hermitage, o Palácio de Inverno onde o czarismo encontrou seu fim trágico com a invasão bolchevique, o céu quase roxo, as noites brancas, prescindem de Brasil x Costa Rica ou qualquer outro jogo de futebol, até mesmo se for a revanche do 7 a 1.
Certamente a antiga Leningrado não ficará conhecida pelos brasileiros como a cidade em que Douglas Costa se machucou —assim como o folclore diz que Mané Garrincha se referia à Paris como “aquela cidade em que o doutor Paulo levou um tombo” (Paulo Machado de Carvalho, o “Marechal da Vitória”, chefiou as delegações brasileiras que venceram os Mundiais na Suécia e no Chile).
Agora, Moscou.
Ainda a ser descoberta, mas, pelo pouco já visto, também de cair o queixo.
E a Copa do Mundo excede o futebol a tal ponto que permite à psicanalista Vera Iaconelli contar aqui o porre que tomou em Zagreb, junto aos croatas que torciam contra o time dela, o nosso, na Copa passada.
Ou acompanhar de perto uma repórter fera chamada Camila Mattoso, máquina célere na arte de investigar, da estirpe de Dorrit Harazim, Daniela Pinheiro, Mônica Bergamo e Patrícia Campos Mello, algumas das mulheres que elevam o jornalismo nacional.
A Copa está de bola cheia.