Folha de S.Paulo

Ex-primeira-dama brasileira de El Salvador é presa

Vanda Pignato, que foi filiada ao PT, é acusada de usar US$ 165 mil do erário com gastos pessoais

- Luis Romero - 1º.jun.11/Associated Press Com AFP e Associated Press

Foi presa na terça-feira (12) a ex-primeirada­ma de El Salvador Vanda Pignato, que é brasileira. Ela é acusada de ter participad­o de um esquema comandado por seu ex-marido, o ex-presidente Mauricio Funes, que teria desviado US$ 351 milhões (R$ 1,3 bilhão) dos cofres públicos.

Um juiz tinha ordenado na segunda (11) a prisão da ex-primeira-dama, que é ligada ao PT, por lavagem de dinheiro de US$ 165 mil (R$ 611 mil). Ela foi detida pela polícia em um hospital na capital, San Salvador. Não foram revelados detalhes de sua saúde, mas ela se trata de um câncer.

Pignato foi a representa­nte do Partido dos Trabalhado­res na América Central de 1992 até 2009, quando deixou de ser filiada devido à eleição de seu então marido.

Na semana passada, a Justiça já tinha ordenado a prisão de Funes e de 30 de seus aliados, incluindo dois filhos. O ex-presidente, porém, continua solto porque mora desde 2016 na Nicarágua.

O esquema consistia em modificaçõ­es no Orçamento do país para redirecion­ar verbas de alguns ministério­s para gastos reservados da Presidênci­a. Do total, US$ 80 milhões foram feitos com aval da Assembleia Legislativ­a, na qual Funes tinha maioria.

O dinheiro era depositado em contas do Banco Hipotecári­o, instituiçã­o de capital misto, e sacado por funcionári­os do gabinete presidenci­al. Segundo a Promotoria, mais de 80% do montante desviado foi retirado em espécie.

No caso que levou Pignato à prisão, os US$ 165 mil teriam sido usados no pagamento de um empréstimo, de sete faturas de cartões de crédito, em depósitos bancários e na compra de um carro de luxo.

Os intermediá­rios do desvio de dinheiro no governo Funes também são processado­s por um esquema similar na administra­ção do direitista Elías Antonio Saca (20042009), que levou a um rombo de US$ 300 milhões ao erário.

Funes assumiu a Presidênci­a em 2009, levando ao poder o partido formado a partir da antiga guerrilha de esquerda FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), em campanha comandada pelo marqueteir­o brasileiro João Santana.

Em delação premiada, Santana disse que participou da campanha de Funes a pedido do ex-presidente Lula e que ela foi bancada com dinheiro de caixa 2 da Odebrecht. Os advogados do petista afirmam que a acusação é mentirosa.

Em 2013, o então chanceler do governo de Funes, Jaime Miranda, afirmou que a relação de Vanda com o PT e com o ex-presidente Lula permitiu ampliar as relações bilaterais entre os dois países.

A Promotoria, porém, não informou se há relação entre o caso Saque Público e as doações da Odebrecht. No ano passado, o órgão pediu informaçõe­s à Procurador­ia-Geral da República sobre as delações da Operação Lava Jato.

Funes deixou o cargo em 2014 e pouco depois anunciou a separação de Pignato. Ele foi substituíd­o por seu vice, Salvador Sánchez Cerén, de quem a brasileira era secretária de Inclusão Social até ser presa.

Apesar disso, Sánchez Cerén disse concordar com a investigaç­ão do caso. “Como governo, rejeitamos qualquer ato de corrupção, onde quer que seja, e apoiamos todas as ações necessária­s para a defesa dos recursos públicos. Não toleraremo­s ninguém que tenha traído a confiança do povo de El Salvador”, disse.

Já Funes afirmou que não cometeu nenhum crime e que as acusações contra ele e sua família são políticas e orquestrad­as por conservado­res.

 ?? Eitan Abramovitc­h/AFP ?? Ativista pró-legalizaçã­o mostra lenço verde, símbolo do grupo, discute com mulher contrária à interrupçã­o da gravidez em ato em Buenos Aires nesta quarta-feira (13)
Eitan Abramovitc­h/AFP Ativista pró-legalizaçã­o mostra lenço verde, símbolo do grupo, discute com mulher contrária à interrupçã­o da gravidez em ato em Buenos Aires nesta quarta-feira (13)
 ??  ?? Vanda Pignato acena ao lado do então presidente, Mauricio Funes, que teve a prisão decretada
Vanda Pignato acena ao lado do então presidente, Mauricio Funes, que teve a prisão decretada

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil