Folha de S.Paulo

Banco central dos EUA eleva juros e sinaliza novas altas

Atuação do Banco Central brasileiro no mercado limitou a valorizaçã­o do dólar, que fechou o dia a R$ 3,72

- -Danielle Brant e Tássia Kastner

O Fed elevou os juros americanos e sinalizou novos aumentos. O anúncio, que pode levar a mais altas do dólar no Brasil, teve impacto moderado no mercado após atuação do BC brasileiro. A moeda subiu 0,10% (R$ 3,72).

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou a taxa de juros dos EUA nesta quarta-feira (13) e sinalizou que vê melhora na economia do país para novos aumentos.

O impacto da decisão sobre o mercado de câmbio no Brasil, no entanto, foi moderado por causa da atuação do BC (Banco Central) brasileiro. O aumento nos juros dos Estados Unidos tende a fazer com que investidor­es tirem recursos de economias emergentes para investir em títulos da dívida americana, mais seguros.

Os juros americanos subiram para a faixa entre 1,75% e 2% ao ano, a sétima alta desde o início do ciclo de aperto monetário. E o comunicado do Fed indica que há espaço para mais duas altas neste ano. Até então, apenas uma elevação era dava como certa, na reunião de setembro.

O motivo para a mudança foi a percepção de que a economia americana está mais forte e a inflação se acelera depois de dez anos da crise que levou as taxas de juros a quase zero.

Em relação ao documento de março, quando o Fed aumentou os juros pela primeira vez no ano, a atividade econômica passou a ser descrita como sólida, em vez de moderada.

A projeção de taxa de desemprego para o final do ano declinou de 3,8% para 3,6%. O Fed também indicou que toleraria uma inflação acima da meta de 2% ao ano por um período tempo.

Análise feita por Bruno Braizinha, da área de alocação global de ativos do banco Société Générale, mostra que o comitê de política monetária do Fed tem a avaliação de que aumentos graduais na meta das taxas de juros são coerentes com a expansão sustentada da atividade econômica.

“Já começa a haver uma preocupaçã­o com a diferença entre a taxa de juros dos títulos de dívida de dois e dez anos no longo prazo. Uma inversão na curva de juros costuma re- presentar recessão nos Estados Unidos”, afirma Braizinha.

A leitura dos economista­s é que, se o Fed acelerar de forma excessiva a alta nos juros, poderia eventualme­nte frear o cresciment­o americano. Ryan Connelly, analista de economia global do Frontier Strategy Group, é um dos que avaliam que esse risco existe.

Apesar de a maioria dos membros do Fed indicar quatro altas neste ano, por exemplo, ele vê apenas um terceiro aumento, em setembro. “Temo que possa haver aumento no preço de ativos que venha a desacelera­r a economia”, diz.

“Se as pessoas acharem que a economia está indo bem, pode levar a taxas de juros mais elevadas, o que pode reduzir a demanda de crédito de empresas e consumidor­es.”

Nenhuma linha do comunicado foi dedicada às recentes turbulênci­as que afetaram emergentes por causa do fortalecim­ento do dólar.

Logo após o anúncio do Fed, o Banco Central anunciou nova intervençã­o no mercado de câmbio, que foi fundamenta­l para conter a valorizaçã­o da moeda no país. O BC já injetou US$ 13 bilhões dos US$ 20 bilhões anunciados na semana passada para diminuir as oscilações bruscas do dólar, segundo a Reuters.

O dólar comercial avançou 0,10% e fechou a R$ 3,7150.

“A faixa entre R$ 3,70 e R$ 3,75 parece ser um ponto de equilíbrio que o BC encontrou”, afirmou Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimen­tos.

A Bolsa brasileira voltou a fechar em queda, mas reduziu as perdas de mais de 2% registrada­s ao longo do dia. O Ibovespa, principal índice da B3, cedeu 0,86%, a 72.122 pontos. No mês, a queda acumulada é de 6%.

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