Folha de S.Paulo

Trump retira apoio ao G7 e xinga líder canadense

Em novo rompimento com aliados, presidente americano diz que não endossa documento conjunto de grandes potências

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O presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o apoio ao documento da reunião do G7 (grupo de sete grandes potências) após ter deixado o encontro. Em rede social, Trump chamou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anfitrião do evento, de “desonesto e fraco” por ter criticado tarifas dos EUA sobre aço e alumínio em entrevista.

A reunião do G7 (grupo de sete grandes potências) parecia que terminaria neste sábado (9) com mais um documento de promessas anódinas, porém, o clima, que já não era dos mais fraternais, azedou de vez depois que o americano Donald Trump retirou o apoio ao texto.

“Eu instruí nossos representa­ntes a não endossarem o comunicado”, declarou o presidente dos EUA, que deixou o evento antes do encerramen­to para ir para Singapura, onde se encontrará na terça-feira (12) com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un.

Não só. Trump afirmou que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, o anfitrião do evento, tinha sido “desonesto e fraco”

Trump disse em rede social que Trudeau agira de forma “afável e submissa” durante a reunião, mas aproveitou uma entrevista coletiva concedida após o americano deixar o encontro para dizer que as tarifas dos EUA sobre aço e alumínio eram um insulto. “Muito desonesto e fraco”, disse.

Ele afirmou que as declaraçõe­s são falsas e que a sobretaxa americana é uma retaliação a tarifas adotadas pelo Canadá para laticínios dos EUA.

O canadense, por sua vez, rebateu e afirmou que ele já havia conversado com Trump tudo o que ele declarou posteriorm­ente, na entrevista final da reunião das sete potências.

A decisão de não endossar o comunicado desmonta o delicado acordo que havia sido costurado pelos líderes do G7 (EUA, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão), ao longo de um final de semana recheado de tensões, exacerbada­s pelas novas disputas comerciais lançadas pelo governo americano.

As críticas ao G7 marcam um novo rompimento de Trump com países que são tradiciona­is aliados dos EUA.

O republican­o já abandonou europeus no pacto nuclear com o Irã, tirou os EUA do acordo de Paris sobre o clima, saiu da Parceria Transpacíf­ico (pacto comercial multilater­al), além de ameaçar retirar o país da OMC e do Nafta (acordo de livre-comércio com México e Canadá).

Trump fez a declaração em rede social poucas horas depois do encerramen­to da cúpula, antes de ser divulgado o comunicado final.

O documento enfatizava a importânci­a do livre-comércio, baseado em regras internacio­nais, para o cresciment­o econômico, e pontuava a necessidad­e de reforma da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) —no que havia sido considerad­a uma vitória pelo grupo, em especial pela Europa, diante da belicosa postura de Trump em relação ao tema.

A promoção da igualdade de gênero e a proteção dos oceanos também haviam sido consensuai­s, assim como a proteção das democracia­s contra interferên­cias externas.

Até mesmo as sanções contra a Rússia, excluída do grupo quatro anos atrás, haviam sido mantidas no documento, a despeito da sugestão de Trump para que o país voltasse ao G7.

Apesar do acordo, era visível que o equilíbrio entre os países era tênue: minutos depois de encerrado o evento, os líderes voltaram a trocar farpas sobre as sobretaxas impostas pelos EUA, e reforçavam a mensagem de que não iriam voltar atrás na retaliação às tarifas.

Trump, o primeiro a deixar o evento, iniciou o tiroteio: “Nós somos como o cofrinho que todo mundo está roubando.”

Em resposta, tanto a Europa quanto o Canadá confirmara­m que vão proceder com a retaliação aos EUA, impondo tarifas de até 25% a produtos americanos.

“É uma decisão unilateral e injustific­ada”, disse a primeira-ministra britânica, Theresa May, que afirmou ter tido uma conversa “franca” com o americano e expressado “profundo desapontam­ento” com as tarifas.

“É quase um insulto”, disse o canadense Trudeau, ao mencionar a justificat­iva oficial do governo dos EUA para as sobretaxas: proteger a segurança nacional.

Leia mais sobre o governo Donald Trump na pág. A16

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