Folha de S.Paulo

‘Oito Mulheres e um Segredo’ tem sabor de coisa requentada

Versão feminina de famosa franquia de filmes de assalto consegue distrair o público, caso ele não espere muito

- -Inácio Araujo

Oito Mulheres e Um Segredo

(Ocean’s 8) EUA, 2018. Dir.: Gary Ross Elenco: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway. Em cartaz. 14 anos. O que se espera de “Oito Mulheres e Um Segredo”, no primeiro momento, é um decalque de “Onze Homens etc.” anteriores em versão feminina. É isso que o filme entrega, aliás.

Mas, se o espectador não sucumbe ao sono, é porque ele consegue nos introduzir a um mundo de falsidade. Isso já na primeira cena: após cinco anos na prisão, Sandra Bullock, diante dos juízes da condiciona­l, representa o papel da boa moça. Pode parecer um pouco falsa, mas o que não é falso nessas circunstân­cias?

O certo é que consegue. Estamos, pois, diante de Debbie Ocean, irmã de Danny, com um mirabolant­e plano de roubar um raro colar de diamantes de US$ 150 milhões. O plano não é tão diferente dos anteriores envolvendo a família Ocean. Trata-se de juntar várias pessoas, mulheres no caso, com variadas habilidade­s.

Há de hackers a batedoras de carteira, com todas as tecnologia­s imaginávei­s, que conhecemos de outros carnavais.

A vantagem é que a circunstân­cia do roubo, uma festa no museu Metropolit­an, nos coloca diante de um universo de falsidade. Dinheiro, celebridad­es, valores, joalheiros, até as imagens: tudo cheira a falso.

Eis então a vantagem do filme: num momento em que tantas produções se preocupam em encenar o fim de um fim de mundo que apenas super-heróis muito super podem salvar, “Oito Mulheres” observa esse mesmo periclitan­te mundo por outro ângulo.

E não raro isso incide mesmo sobre as atrizes. Não é só maquiagem: há momentos em que aquilo parece uma máscara. O tom está dado. É claro, o roteiro tem sabor de coisa requentada. Como não ser depois de todos aqueles “Onze Homens etc.” e suas sequelas?

Se isso passa, se o filme se oferece como uma boa diversão dominical, é por esse tipo de investimen­to, graças ao qual torcemos para que o roubo dê certo. Afinal, ele é a única coisa verdadeira ali.

Se, ao mesmo tempo, o voo é curto, isso se deve em parte ao fato de faltar um vilão para animar a trama. Uma das coisas que agitam o primeiro exemplar da série é o fato de a vítima ser um cassino e seu representa­nte um malvado de primeira (como se espera de um cassino, afinal).

Aqui, a imaginação frequenta terreno tão esgotado que parece até ter perdido o entusiasmo necessário para encontrar um inimigo à altura.

É, enfim, um longa capaz de distrair o espectador, desde que ele não espere muito. Senão corre o risco de, como eu, de repente pilhar-se a lembrar do fabuloso roubo em “Femme Fatale”, de Brian de Palma. É quando pensamos no que distancia um filme de De Palma de um de Gary Ross.

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Divulgação Cate Blanchett e Sandra Bullock interpreta­m assaltante­s no novo filme ‘Oito Mulheres e Um Segredo’

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