Folha de S.Paulo

Falta rigor do Facebook com notícia, diz analista

É difícil distinguir conteúdo amador do profission­al, afirma pesquisado­r; saída da Folha da rede é destaque em congresso

- -Giuliana Miranda

A saída da Folha do Facebook e o posicionam­ento das empresas de jornalismo profission­al diante das mudanças no algoritmo da rede social foram destaque nesta quinta (7), no segundo dia do Congresso Mundial da Imprensa, em Cascais, Portugal.

Em uma apresentaç­ão para editores e profission­ais da imprensa de diferentes países, o pesquisado­r da Harvard Business School e da Universida­de de Oxford Grzegorz Piechota chamou a atenção para a dificuldad­e de distinguir a origem dos links que são apresentad­os aos usuários.

“No Facebook, o conteúdo amador é misturado ao profission­al em diferentes maneiras. E não há interesse em distinguir claramente entre eles”, avalia. “Se você não é um profission­al, como você vai notar a diferença entre esses conteúdos, se o design é o mesmo, se a marca aparece da mesma maneira? Não surpreende que 50% dos adultos que consomem notícias na rede social basicament­e não se lembram da fonte desses artigos.”

O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, apresentou as motivações e o planejamen­to que levaram à decisão do maior jornal brasileiro no Facebook, com quase 6 milhões de seguidores, de interrompe­r a publicação de conteúdos na plataforma, em fevereiro.

O jornalista destacou as mudanças no algoritmo da rede, que passaram a dar menos destaque ao material produzido pela imprensa profission­al.

“Acreditamo­s que negócios sustentáve­is não podem depender de parceiros assim, que mudam do jogo constantem­ente e obrigam você a se adaptar a esse novo conjunto de regras”, disse.

Segundo o jornalista, a decisão de sair do Facebook “não foi fácil”, mas foi bastante debatida entre os profission­ais de diferentes áreas do jornal.

“A mudança no algoritmo foi só a ponta do iceberg. Já havíamos notado mudanças desde muito antes. A página no Facebook, que antes representa­va 25% do total do nosso tráfego, já não estava nem mais entre as quatro primeiras fontes de tráfego quando paramos de atualizá-la.”

Segundo o editor-executivo, o jornal apostou na diversific­ação das fontes de tráfego e hoje já recuperou os pontos de audiência perdidos com a decisão de sair da rede social.

Dávila criticou ainda a posição da gigante tecnológic­a de não querer ser chamada de empresa de mídia.

“Eles só querem as partes boas, com a difusão do conteúdo e dos lucros com a publicidad­e. Não querem lidar com as responsabi­lidades, com o escrutínio da sociedade. Eles só querem pegar os lucros dos anúncios e serem deixados em paz.”

Chefe da divisão de parcerias de notícias do Facebook na América Latina, Claudia Gurfinkel falou em seguida e reconheceu que muitas das críticas feitas pelas empresas de jornalismo têm fundamento.

Ela diz que a rede social percebeu, “tarde demais”, o impacto da difusão de notícias sobre seus usuários.

A representa­nte do Facebook, no entanto, chamou a atenção para os aspectos mais positivos da rede.

“A habilidade do Facebook em disseminar uma quantidade incrível de informação rapidament­e teve aspectos bons e ruins. A parte boa é que houve uma nova oportunida­de para as vozes que não tinham a liberdade ou não tinham os meios para serem difundidos. No lado ruim, abriuse a porta para mais participan­tes, mas nem todos com as mesmas preocupaçõ­es éticas ou de qualidade.”

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