Folha de S.Paulo

Decisões e ameaças de Trump azedam clima de cúpula do G7

Tarifas impostas pelo republican­o a importaçõe­s geram animosidad­e; premiê do Canadá fala em ‘ação inaceitáve­l’

- -Estelita Hass Carazzai

Sete potências econômicas mundiais irão se reunir a partir desta sexta-feira (8). Ou melhor, “seis mais uma” —como foi apelidada a cúpula do G7 deste ano, tamanho é o abismo entre os EUA de Donald Trump e os outros integrante­s do grupo (França, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Japão e Itália).

O encontro coincide com o ápice da controvérs­ia em relação às tarifas contra o aço e o alumínio importados pelos EUA, que desencadea­ram retaliaçõe­s no mundo todo e enfurecera­m particular­mente os líderes da União Europeia e do Canadá, dois dos principais parceiros comerciais e aliados dos americanos.

“São medidas contraprod­ucentes, até para sua própria economia”, declarou o francês Emmanuel Macron nesta quinta (7). “É uma ação inaceitáve­l”, exclamou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, cujo país é um dos maiores exportador­es de aço para os Estados Unidos e será sede do encontro de líderes.

Mas não se trata do único pomo da discórdia no grupo, que também deve debater o acordo nuclear com o Irã (do qual Trump se retirou), o aqueciment­o global (ironizado pelo americano) e a igualdade de gênero.

Recebido por Trump na Casa Branca com afagos e juras de amizade semanas atrás, o presidente da França declarou que o americano está isolado e disse que não vai se importarem­assinaruma­declaração final que não inclua os EUA.

“Esses seis países representa­m valores e um mercado econômico sustentado pelo peso da história, e que é uma verdadeira potência”, afirmou Macron, que se queixou das críticas que recebe pela docilidade com o americano.

“Tento convencê-lo, mas não posso tomar decisões por ele, nem ser responsabi­lizado por aquilo que ele faz.”

O francês fez um pronunciam­ento em favor do multilater­alismo e assinou um compromiss­o com o premiê canadense, Justin Trudeau, em prol de um “sistema de livrecomér­cio, aberto e baseado em regras internacio­nais”.

“Os negócios crescem quando se abrem para novos mercados; isso ajuda a colocar comida nas mesas das famílias, a gerar cresciment­o para todos”, afirmou Trudeau.

O posicionam­ento se alinha ao de outros líderes, como a primeira-ministra britânica Theresa May, que afirmou que as tarifas americanas são injustific­adas e que vai pressionar Trump a revê-las.

O republican­o não deixou por menos. Ao final do dia, depois de a imprensa relatar que ele estava descontent­e com a viagem ao Canadá e queria mesmo era centrar esforços no encontro com o nortecorea­no Kim Jong-un, na semana que vem, o americano “desabafou” nas redes sociais.

“Por favor, avisem Trudeau e Macron que eles atacam as tarifas, mas criam barreiras não monetárias”, disparou, mencionand­o o superávit da União Europeia com os EUA e o desinteres­se do Canadá pelos produtos agrícolas americanos.

Principal assessor econômico da Casa Branca, o economista Larry Kudlow disse que rusgas são normais, como numa “briga de família”, mas que acreditava que os países poderiam trabalhar em torno de interesses comuns.

Foi o que afirmaram também os líderes da França e do Canadá. “Temos que conversar tanto sobre pontos em que concordamo­s quanto sobre aqueles em que não concordamo­s. É para isso que serve o G7”, declarou Macron.

A animosidad­e chegou a tal ponto que se especulava sobre a possibilid­ade de Trump não viajar a Québec. “Segundo os últimos tuítes, ele vem”, brincou o canadense Trudeau.

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Anthony Wallace/AFP Sósia de Kim Jong-un posa em Hong Kong

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