Temer discute carreto, país vai ao brejo
Efeitos do caminhonaço detonam novas crises, juros e dólar sobem sem controle
O governo passa o tempo a discutir o preço do carreto, de frete de caminhão. Tenta criar seus fiscais do Sarney do tabelamento do diesel.
Enquanto isso, o país vai para o brejão, talvez o “Brejal dos
Guajás”, obra do emedebista emérito José Sarney que trata
de casinhos da política da roça.
As taxas de juros estão em alta, todas, a ponto de o mercado negociar dinheiro a um preço que sugere uma alta da Selic (os “juros do Banco Central”) já neste mês, um novo disparate neste país desembestado.
Por enquanto, o céu é o limite para o preço do dólar.
A nova morte do governo
de Michel Temer, sequestrado
e atropelado pelo caminhonaço, soltou o resto dos demônios represados no mercado financeiro. Isto é, medo de farra no que restou da política econômica e de clima mais propício à eleição de um presidente disparatado.
Sim, o problema de fundo são
ou eram os Estados Unidos, a alta mais rápida de juros por lá e a política econômica do
Nero Laranja, sabor fantasia,
Donald Trump. Essas pressões, no entanto, nos esmagam tanto quanto oprimem
países em crise externa grave,
como Turquia e Argentina, ou
México, que respira a fumaça tóxica do vizinho gigante.
Nosso problema é muito
doméstico, um governo zumbi e uma sociedade refém de uma casta política podre, em
tamanho desespero social e
econômico que passa a aceitar ideias mais disparatadas que as de costume.
A percepção de risco de colocar dinheiro no Brasil sobe
desproporcionalmente mais. A ameaça de tumulto maior adiante, quem sabe pelos próximos anos, provoca fuga de ativos brasileiros, fuga da dívida pública e de empresas sujeitas a intervenções estúpidas do governo.
Então sobem os juros e baixa o preço das ações, das estatais em particular, como a Petrobras, rejeitada em massa por estrangeiros. É mais um impulso para a alta do dólar.
O povo dos mercados enfim passou a colocar nos seus preços o efeito Temer, como se
precisasse do paradão caminhoneiro para perceber o problema. Sob pressão de lobby bem-feito ou ameaça de violência, o governo abre as burras e ainda preenche o cofre vazio do Tesouro
com besteira, com apoio da maioria dos parlamentares,
seus bons companheiros.
Foi assim com o reajuste dos servidores, com os perdões de dívidas para empresas e agora, com a rendição
incondicional ao sequestro
do país pelo paradão caminhoneiro, para ficar em casos notórios. Outros trens
da alegria vêm aí.
O caminhonaço revelou revolta popular ainda maior do que a evidente nas pesquisas de opinião. É o sofrimento econômico causando mais crise. Mesmo sob ameaça de desabastecimento de bens e serviços essenciais, 9 de cada 10 brasileiros apoiaram a
paralisação. Para os donos do dinheiro grosso, pelo menos, isso é sinal de que se tornou mais provável a vitória de um programa lunático em outubro.
Há ainda outras mumunhas
no mercado, ainda difíceis de
entender. Ainda assim, a ideia
que circula por aí de elevar a
Selic é outro disparate, ao menos por agora, quando não
há sinal de fuga de capitais.
Querem aumento da Selic
com o objetivo de segurar a taxa de câmbio? Vão jogar a
política monetária fora? Vão
chutar a Selic para cima em
um país com inflação muito abaixo da meta por tanto tempo? Em uma economia agora sob risco de recaída em recessão, sob choque
provável de confiança e juros em alta na praça do mercado? Em uma miséria em que é difícil repassar a alta do dólar para os preços?