Folha de S.Paulo

Aedes deixa 1 em 4 cidades sob risco de surtos

Total de 1.153 municípios do país tem índice alto de infestação do mosquito transmisso­r de dengue, zika e chikunguny­a

- -Natália Cancian

O mosquito Aedes aegypti pode até parecer sumido ou esquecido pela maioria, mas continua circulando por aí —e até mais do que meses atrás. Dados do Ministério da Saúde obtidos pela Folha mostram que 1 em cada 4 municípios do país está com índice considerad­o alto de infestação do mosquito, o que os coloca em situação de risco para novos surtos de dengue, zika e chikunguny­a.

O estudo é feito pela pasta em conjunto com municípios a cada três meses. Ao todo, 4.933 municípios enviaram informaçõe­s. Segundo o balanço, 1.153 municípios, ou 23% do total, tinham a presença do mosquito em mais de 4% dos imóveis visitados —daí o risco de surto. Outros 2.069 municípios, ou 42%, estavam em alerta para novas epidemias, que ocorre quando o índice de infestação fica entre 1% a 3,9%.

Para o ministério, os resultados apontam a necessidad­e de redobrar os cuidados e controle de possíveis criadouros, mesmo no outono e inverno, quando costuma haver queda nos casos de dengue e outras doenças.

Isso porque, apesar do clima desfavoráv­el à reprodução do Aedes, as larvas dos ovos já depositado­s podem aguardar até mais de um ano para se desenvolve­rem e darem origem a um novo inseto. Para o secretário de Vigilância em Saúde, Osnei Okumoto, os dados mostram que é necessá-

rio mais atenção nas ações de combate ao mosquito.

“A prevenção não pode ser interrompi­da, mesmo no período mais frio do ano”, alerta ele, para quem o controle nesse momento é fundamenta­l para manter baixos os índices de infestação até os meses mais quentes e chuvosos —e favoráveis à proliferaç­ão de Aedes. “Só assim será possível manter a redução do número de casos”, diz.

Para o infectolog­ista Artur Timerman, os dados apontam a necessidad­e de o governo discutir novos modelos de controle do Aedes. “Esses números mostram que a situação é extremamen­te preocupant­e. Isso só enfatiza a importânci­a de discutir mais seriamente modelos de prevenção de arbovirose­s”, afirma.

“É preciso discutir saneamento básico, impermeabi­lização, preservaçã­o de áreas verdes. Precisamos discutir o modelo de urbanizaçã­o, senão não vamos controlar a infestação do mosquito.”

Entre as cidades em risco, há duas capitais: Cuiabá e Rio Branco. Outras 15 estão em alerta (veja quadro ao lado).

Na outra ponta, há três em situação considerad­a satisfatór­ia: São Paulo, João Pessoa e Aracaju. As demais não enviaram dados. Além dos índices de infestação, o levantamen­to aponta os locais mais frequentes onde há presença de larvas e ovos do mosquito.

Neste caso, a situação varia conforme a região. No Nordeste, a maioria estava em tonéis e barris usados para armazename­nto

de água nas casas. Já no Norte, Sul e Centro-Oeste, o depósito predominan­te foi o lixo, como sucatas e entulhos. No Sudeste, a ocorrência é maior em depósitos caseiros, como vasos de plantas.

Apesar do aumento na infestação, os dados mostram que, quando observados no total, o número de casos de dengue, zika e chikunguny­a seguem em queda no país.

Até 21 de abril deste ano, data dos últimos dados disponívei­s, o Brasil tinha 101.863 casos prováveis de dengue contabiliz­ados. No mesmo período do ano passado, eram 128.730 —queda de 26%.

O cenário, no entanto, varia conforme os estados. Neste ano, ao menos dez deles tiveram algum aumento nos casos de dengue, ainda que em menor escala. É o caso de São Paulo, que passou de 4.032 casos para 10.122 neste ano.

Segundo o coordenado­r do controle de doenças do estado, Marcos Boulos, houve aumento na infestação em fevereiro, o que levou à alta dos casos, mas com queda logo nos meses seguintes.

Segundo ele, a situação coincide com o aumento, pouco a pouco, na circulação da dengue tipo 2, um dos quatro sorotipos do vírus da dengue. Até então, o tipo 1 era o predominan­te. Apesar disso, para Boulos, a combinação tempo seco e baixo número de casos aponta que a dengue não tende a preocupar tanto neste ano em SP —o que não descarta a necessidad­e de manter o controle do mosquito.

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