Folha de S.Paulo

Analistas projetam dólar a R$ 4 até eleição presidenci­al

Com peso do cenário político e na contramão mundial, moeda sobe para R$ 3,839

- -Anaïs Fernandes

Após um pregão com forte influência do cenário externo, os investidor­es se voltaram mais para a situação fiscal e política do Brasil nesta quarta-feira (6) e, receosos, levaram o dólar a subir e a Bolsa a cair pelo segundo dia seguido.

Apesar da intervençã­o do Banco Central no câmbio, o dólar comercial registrou alta de 0,7%, para R$ 3,839, renovando o maior nível desde 2 de março de 2016 (R$ 3,889). O dólar à vista avançou 1,1%, cotado a R$ 3,822.

No dia, a moeda chegou a R$ 3,85, e analistas não descartam que até outubro vá a R$ 4 —nas casas de câmbio, o dólar turismo já ultrapassa esse patamar (leia abaixo).

O Ibovespa, índice que reúne

as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, caiu 0,68%, para 76.117,23 pontos.

Além do real, apenas 4 das 31 principais divisas do mundo se desvaloriz­aram em relação à moeda americana nesta quarta. Nos Estados Unidos e em boa parte da Europa, as Bolsas fecharam em alta —o Dow Jones, principal índice de Nova York, subiu 1,4%.

“Mas isso não quer dizer muita coisa no Brasil, já que a situação se deteriora a partir da paralisaçã­o dos caminhonei­ros”, escreveu Alvaro Bandera, economista-chefe da Modalmais, em seu relatório.

O vaivém das autoridade­s nas decisões relacionad­as ao movimento dos caminhonei­ros expôs fragilidad­es do governo, ao mesmo tempo em que as medidas anunciadas para subsidiar o diesel gera-

ram receios sobre o impacto nas contas públicas e na política de preços da Petrobras, apontam analistas.

“Temos um governo que vai tirar dinheiro de áreas como saúde e educação para arcar com as reivindica­ções das manifestaç­ões. Enquanto isso, o rombo na Previdênci­a aumenta e não há perspectiv­a de votação da reforma no Congresso”, afirma Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da Ourominas.

Soma-se a isso a eleição presidenci­al de outubro, que parece ter voltado para o radar do mercado.

“O dia foi de questionam­entos em relação ao cenário econômico. Até recentemen­te existia uma percepção de que o próximo presidente tocaria um processo de reformas, mas agora começa a ser levantada a possibilid­ade de o futuro eleito não ser reformista”, diz Sérgio Goldman, analista da Magliano Invest.

Levantamen­to do DataPoder3­60 divulgado na terça (5) mostrou Jair Bolsonaro (PSL) liderando as intenções de voto e Ciro Gomes (PDT) na segunda posição. Geraldo Alckmin (PSDB), candidato tido como de perfil reformista e com boa aceitação no

mercado, ainda não decolou, segundo os dados.

“Começamos a ver, de forma mais clara, pesquisas eleitorais influencia­ndo nos mercados locais. Até aqui, em nossa opinião, grande parte dos movimentos [...] deve-se ao cenário internacio­nal. A partir de agora, parece-nos que, de forma crescente, as eleições de outubro ganharão espaço”, escreveu a Guide Investimen­tos em seu relatório.

Na tentativa de conter a alta do dólar, o Banco Central tem atuado com mais força no mercado cambial. Na terça, chegou a fazer intervençã­o adicional com leilão de até 30 mil novos swaps cambiais tradiciona­is (equivalent­es à venda futura de dólares), injetando US$ 1,866 bilhão, mas não vendeu tudo.

“O Banco Central não está conseguind­o estancar a sangria com os swaps. O mercado está testando o BC para ver até onde ele consegue chegar com esses leilões para que ele entre mais pesado ainda, talvez com um leilão de linha mais curto, com vencimento em 30 dias”, diz Cavalcante, em referência a leilões em que a autoridade monetária vende dólares à vista com compromiss­o de recompra.

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