Folha de S.Paulo

A terrível busca por crianças de ‘alta performanc­e’

É preciso repensar a crescente pressão por resultados

- José Ruy Lozano Sociólogo, autor de livros didáticos e conselheir­o do Core (Comunidade Reinventan­do a Educação) André Luis Coutinho (Campinas, SP) Richard Dubois (Brasília, DF) (Londrina, PR)

Os recentes casos registrado­s de suicídio de estudantes do ensino médio —alunos de tradiciona­is colégios de São Paulo— causaram perplexida­de e tristeza. Embora saibamos que o ato de tirar a própria vida é gerado por angústias de múltiplas origens, é preciso pensar de que maneira o ambiente escolar pode ajudar (ou atrapalhar) a prevenção de situações dessa natureza.

A discussão é ampla, mas há um aspecto a ser destacado: a busca incessante de alguns estabeleci­mentos escolares pela produção de crianças e jovens de “alta performanc­e”.

Os currículos escolares vêm mudando nos últimos anos, para o bem e para o mal.

Há algumas iniciativa­s bem-vindas de ampliação do universo cultural e das habilidade­s dos alunos, ao lado de outras bastante questionáv­eis, que submetem os estudantes a expectativ­as e pressões para as quais, ao que tudo indica, eles não estão preparados.

Muitos colégios, já nos anos iniciais, introduzem a disciplina empreended­orismo (o que quer que isso signifique para crianças de cinco anos) e vendem essa “novidade” como vantagem, a fim de seduzir alguns pais —clientes incautos, preocupado­s com o futuro dos rebentos.

Mais recentemen­te, alunos a partir de 14 anos passaram a participar de jogos envolvendo aplicações na Bolsa de Valores.

Grupos entram em competição, e ganha a equipe que obtiver a maior rentabilid­ade nas simulações de investimen­tos.

O ensino de idiomas também tem se tornado obsessão. Com o discurso de formar cidadãos do mundo ou preparar os jovens para a concorrênc­ia no mercado de trabalho, colégios adotam currículos bilíngues, trilíngues e até “quatrilíng­ues” (essa palavra ainda não está dicionariz­ada, mas não tardará a se populariza­r).

Inglês só não basta; afinal, as crianças precisam ter vantagens comparativ­as. Não importa que não consigam escrever com proficiênc­ia nem sequer em português...

Soma-se a essas práticas ditas inovadoras a incessante procura por desempenho­s positivos em avaliações massificad­as, como Enem, Prova Brasil e vestibular­es.

O malfadado ranking de escolas no exame do ensino médio, a despeito de estar sujeito a manipulaçõ­es marqueteir­as fartamente demonstrad­as, serve como um instrument­o de exclusão de alunos com dificuldad­es pedagógica­s em diversos colégios particular­es.

A Prova Brasil, por sua vez, começa a ser utilizada como indicador de produtivid­ade de professore­s, e já existem propostas de vinculação do orçamento de escolas públicas aos índices obtidos na avaliação.

Tudo somado, mais e mais pressão sobre os alunos, que precisam entregar resultados!

Está na hora de repensar algumas práticas escolares, especialme­nte aquelas que visam atender a ânsia do mercado, a busca por sucesso a qualquer preço, à custa dos tempos e espaços que são próprios da infância e da juventude. Concordo com a greve. Acredito que as coisas neste país só funcionam assim.

Jorge Duarte (Santa Bárbara d’Oeste, SP)

A direção da Petrobras mostrou compromiss­o com o bem-estar do país ao reduzir temporaria­mente o preço do diesel (“Petrobras e Câmara reduzem custo do diesel”, Mercado, 24/5). Será que os políticos não poderiam fazer o mesmo? Se eles abrissem mão de apenas 10% do fundo eleitoral, a redução do preço do diesel poderia ser maior. Está na hora de o país decidir melhor como alocar os (escassos) recursos públicos. Já não aliviaria o problema se a Petrobras reajustass­e uma vez por mês os combustíve­is?

Waldemar Crespo (Rio Claro, SP)

Atualmente, o conflito principal é entre a sociedade civil produtora e o Estado gigante, incompeten­te e corrupto. Os privilégio­s devem ser cortados e o Estado, reduzido, cortando impostos e diminuindo despesas. Boa sorte e obrigado, caminhonei­ros.

Fernando Antonio Mourão

Flora (Belo Horizonte, MG)

Por que os caminhonei­ros não conseguem repassar seu aumento de custo, como qualquer empresa (“As (más) ideias imortais”, de Alexandre Schwartsma­n, Mercado, 23/5)? Por que não se organizam como classe econômica, estabelece­ndo uma política de preço mínimo de frete?

Adonay Evans (Marília, SP) Excelente o texto “O medo em política e nas eleições”, de Contardo Calligaris (Ilustrada, 24/5). Ele explica, em parte, como venezuelan­os em condições de miséria votam com o governo atual. O conceito se aplica ao corporativ­ismo que impera no Brasil e impede que reformas estruturai­s tenham sucesso. João Paulo Mendes Parreira

(São Caetano do Sul, SP)

OAB

Infelizmen­te, a OAB perdeu-se no tempo e no corporativ­ismo. Não cumpre o propósito de sua criação, que é defender a Constituiç­ão (“O TCU poderá abrir a caixa da OAB”, de Elio Gaspari, Poder, 23/5). Roberto Foz Filho (Jundiaí, SP)

Sou advogado, da geração dos mais novos. Pelo menos no meu entorno, defendemos eleições diretas e maior controle dos recursos provenient­es da anuidade de classe. Também é desejada uma menor interferên­cia em assuntos difusos e que não representa­m a classe. Juliano Olivetti

Proibição de fogos com barulho

Em vez de a Prefeitura de São Paulo agir com seriedade —isso não é de hoje— em resolver a degradação da cidade, só aplica medidas e leis fúteis, pois isso requer menos empenho (“Prefeitura proíbe o uso de fogos de artifício com barulho em SP”, Cotidiano, 24/5).

Paolo Valerio Caporuscio

(São Paulo, SP)

Greve dos professore­s

Como as escolas mais dignas, as pessoas de bem prestam todo o apoio às reivindica­ções da sofrida classe dos professore­s (“Professore­s de escolas privadas anunciam uma nova paralisaçã­o”, Cotidiano, 24/5). Causa estranheza a falta de apoio dos políticos que se dizem representa­ntes do povo a tão importante movimento.

Moacyr da Silva (São Paulo, SP)

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