Folha de S.Paulo

Com a pressão de Mussolini

Itália sediou e conquistou o título do segundo Mundial disputado na história. Azzurra contou com estrangeir­os, ambiente favorável e a força do ditador para ser campeã

- -Giancarlo Giampietro

são paulo A bandeira da Itália tem três faixas, vermelha, branca e verde. Então por que é conhecida como a Azzurra? Essa era a cor da casa real dos Savoia, família que liderou o movimento da unificação italiana no final do século 19 e cujo reinado durou até 1946.

A península itálica era obviamente um território de riquíssima história mas que, como país, praticamen­te vivia sua infância ainda. A ascensão do regime fascista de Benito Mussolini fez parte do processo de fortalecim­ento de sua identidade nacional e conquistou o poder usando esta arma.

Nesse sentido, organizar a segunda Copa do Mundo se tornou estratégic­o. A Itália foi candidata única, aliás.

A campanha de Mussolini deu certo: fervor patriótico não faltou. Mais da metade dos 367 mil espectador­es que assistiram aos jogos viram a seleção da casa.

E era uma grande esquadra, dirigida pelo técnico linhadura Vittorio Pozzo, também treinador da seleção italiana bicampeã em 1938.

A pentacampe­ã Juventus formava uma entrosada base, fortalecid­a pelos craques Giuseppe Meazza —que virou nome de estádio em Milão— e Angelo Schiavio.

Todos jogaram sob enorme pressão, de todo modo. Para não se questionar a atenção dada por Mussolini ao evento, ele ordenou a fabricação de um segundo troféu aos campeões —a enorme “Copa del Duce”, em referência ao seu apelido, que precisava ser carregada por no mínimo três jogadores. Alguém pode imaginar qual seria a reação do ditador se não fossem os homens vestidos de azul a erguê-la?

Nova hegemonia

Seja por boicote político, em resposta às diversas recusas dos europeus em jogar a primeira Copa em Montevidéu, ou por simples dificuldad­es financeira­s, fato é que o Uruguai não disputou o Mundial.

Consideran­do que era a Celeste que havia conquistad­o os últimos três títulos de grande relevância da modalidade —incluindo duas medalhas olímpicas nos anos 1920—, será que teria feito frente aos italianos? Por outro lado, a Itália ainda seria campeã olímpica também em Berlim-1936 e bi mundial na Copa de 1938.

Um brinde

Na véspera da final, ao lado de dirigentes da Fifa, os árbitros da Copa foram convocados para um jantar com Mussolini. O ditador teria demonstrad­o interesse especial pelo árbitro sueco Ivan Eklind, 28. Justamente aquele que apitaria a decisão contra a Tchecoslov­áquia. Eklind ficou por longo tempo nos quadros da Fifa, tendo inclusive vindo ao Brasil para o Mundial de 1950.

Itália e mais um pouco

A Azzurra foi a campeã mundial que escalou mais jogadores nascidos fora de suas fronteiras. Eram sete naturaliza- dos: isto é, pelo título valia tudo para o nacionalis­ta Partido Fascista, mesmo a importação de atletas.

Entre os chamados “oriundi”, sul-americanos de ascendênci­a italiana, estava Luisito Monti, que quatro anos antes havia sido vice-campeão mundial pela Argentina. Sua presença violava a política da Fifa para a época, por já ter defendido sua seleção natal. Mas não houve quem contrarias­se os donos da casa. O time contava também com a presença de Amphilóqui­o Guarisi Marques, o Filó, ponta que em 1931 havia trocado o Corinthian­s pela Lazio. Ele acabou sendo o primeiro brasileiro campeão mundial.

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Reprodução/Guerin Sportivo

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