Folha de S.Paulo

Sesc Avenida Paulista reabre com cerca de 50 atrações gratuitas

Programaçã­o inaugural é estendida até a terça, Primeiro de Maio; entre os destaques, está exposição de Bill Viola

- -Victoria Azevedo Fabio Cypriano Crítico de arte, é coordenado­r do curso de jornalismo da PUC-SP

são paulo Fechado desde 2010, o Sesc Avenida Paulista reabriu as portas para o público ao meio-dia deste domingo (29). A unidade, com 17 andares e um mirante, chega para se somar ao já agitado circuito cultural da avenida.

“Agora temos um grande pretexto para andar de ponta a ponta da avenida Paulista. Do IMS até aqui”, disse a roteirista Marta Nehring.

No começo da tarde, havia filas para ver a programaçã­o de inauguraçã­o, que é estendida até a terça, Primeiro de Maio.

Até às 18h, cerca de 12 mil pessoas haviam passado pela unidade e pelo palco externo. A expectativ­a é receber 18 mil pessoas a cada semana.

“Aqui, o dinheiro público volta para o público. Fico até arrepiado dizendo isso”, comentou o músico Tom Zé. O Sesc faz parte do Sistema S, que inclui ainda Sesi, Senai e Senac e é mantido com contribuiç­ão sindical compulsóri­a.

A estudante de jornalismo Amanda Sousa quis conhecer a unidade em seu primeiro dia. “Precisamos ter mais intervençõ­es culturais na cidade. É preciso respirar arte.”

Um dos pontos mais lotados durante do dia, o mirante, com vista panorâmica de SP, foi o local escolhido para as selfies e um dos mais elogiados por quem passava por ali.

Atrações ocuparam os diferentes espaços da unidade. Hermeto Pascoal e seu grupo, por exemplo, tocaram para público animado no 13º andar.

Outro atrativo da inauguraçã­o foi o palco montado na rua Leôncio de Carvalho. Ali, deve ser construído um bulevar permanente, em parceria com o vizinho Itaú Cultural.

Nele tocaram a Orquestra Sinfônica Heliópolis com Vanessa da Mata; Tulipa Ruiz, com espetáculo que misturou música e leitura; e expoentes do rap, como Emicida e Rael.

A empresária Vani Bayerlain estava andando na via quando descobriu a estrutura. “É legal ver esse movimento democrátic­o que está acontecend­o com a Paulista”, disse.

Acompanhad­o de sua esposa, seu filho e seu cachorro, o professor Luiz Alberto Parra se programou para acompanhar a abertura. “Eu vejo a unidade inserida no contexto da Paulista aberta.”

Às 11, antes da abertura para o público, houve cerimônia oficial. Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, recebeu nomes como Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP, Alberto Beltrame, ministro do Desenvolvi­mento Social, e Romildo Campello, secretário­estadualde­Cultura.

“O nosso prédio se vestiu de sua melhor roupa. São as pessoas, com seus usos e apropriaçõ­es e sua enorme diversidad­e, que darão vida a essa roupa. A paisagem humana é a que de fato embeleza a cidaci, de”, disse Santos de Miranda.

O prefeito Bruno Covas (PSDB), em agenda oficial, foi representa­do por secretário­s e prefeitos regionais. A Folha não encontrou o secretário de Cultura, André Sturm, em sua visita. Contatado, ele disse que esteve no Sesc no início da tarde e que voltaria para conhecê-lo melhor.

Bill Viola - Visões do Tempo

Sesc Avenida Paulista, av. Paulista 119, tel. (11) 3170-0800. De ter. a sáb., das 9h às 22h; dom. e fer., das 10h às 19h. Até 9/9. Grátis Há pelo menos duas décadas, o pioneiro da videoarte Bill Viola, 67, vem desacelera­ndo o tempo em suas obras.

Enquanto o padrão da vida cotidiana é cada vez mais ditado pelo ritmo voraz e inebriante da velocidade da tecnologia, os trabalhos do budista Viola apontam como cada instante conta e merece atenção.

A mostra apresenta 12 trabalhos criados a partir do ano 2000, desde “O Quinteto dos Silencioso­s” até um dos mais recentes, a instalação “Mártires”, uma das duas peças vistas de forma permanente na catedral de St. Paul, em Londres.

No Sesc, “Mártires”, de 2014, é apresentad­a no que Kira Perov, mulher de Viola e curadora da mostra com Juliana Braga de Mattos e Sandra Leibovi- chama de “estudo”, versão menor, mas não impactante, da videoinsta­lação.

Nela, quatro pessoas passam por alguma provação, seja uma tempestade de vento, seja uma violenta enxurrada.

São os tempos das adversidad­es, que parecem se espalhar pelo mundo. Como nas demais obras na mostra, o tempo desacelera­do serve de elemento dramático, em uma coreografi­a precisa de corpos lentos, e também como elemento detonador de reflexão.

É essa a estratégia do díptico “Homem em Busca de Imortalida­de/Mulher em Busca de Eternidade”, projeções de duas pessoas idosas nuas, que se investigam com fachos de luz, observando a passagem do tempo no próprio corpo.

Projetadas em granito preto, como se fossem lápides, as imagens apontam para o fim inevitável de toda vida.

A obra mais impactante da exposição, no entanto, é “Nascimento Invertido” (2014), pela dimensão que ocupa quase todo o pé-direito duplo do andar. Nela, um homem submete-se a correntes de distintos líquidos, de leite a um óleo escuro e viscoso como petróleo.

Mas a mostra não contém apenas infortúnio­s. Em “Capelas de Ações Frustradas e Gestos Fúteis” e “Estudo para o Caminho” ações se repetem de forma infinita, como a indicar que intempérie­s fazem parte de qualquer caminho.

O importante é seguir adiante, sugere o artista, com otimismo mais que necessário nos dias de hoje.

 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Vista do palco externo na rua Leôncio de Carvalho, montado para a inauguraçã­o da unidade (à esquerda); visitante diante de obra do pioneiro da videoarte Bill Viola, em cartaz na unidade até setembro (acima)
Adriano Vizoni/Folhapress Vista do palco externo na rua Leôncio de Carvalho, montado para a inauguraçã­o da unidade (à esquerda); visitante diante de obra do pioneiro da videoarte Bill Viola, em cartaz na unidade até setembro (acima)

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