Sesc Avenida Paulista reabre com cerca de 50 atrações gratuitas
Programação inaugural é estendida até a terça, Primeiro de Maio; entre os destaques, está exposição de Bill Viola
são paulo Fechado desde 2010, o Sesc Avenida Paulista reabriu as portas para o público ao meio-dia deste domingo (29). A unidade, com 17 andares e um mirante, chega para se somar ao já agitado circuito cultural da avenida.
“Agora temos um grande pretexto para andar de ponta a ponta da avenida Paulista. Do IMS até aqui”, disse a roteirista Marta Nehring.
No começo da tarde, havia filas para ver a programação de inauguração, que é estendida até a terça, Primeiro de Maio.
Até às 18h, cerca de 12 mil pessoas haviam passado pela unidade e pelo palco externo. A expectativa é receber 18 mil pessoas a cada semana.
“Aqui, o dinheiro público volta para o público. Fico até arrepiado dizendo isso”, comentou o músico Tom Zé. O Sesc faz parte do Sistema S, que inclui ainda Sesi, Senai e Senac e é mantido com contribuição sindical compulsória.
A estudante de jornalismo Amanda Sousa quis conhecer a unidade em seu primeiro dia. “Precisamos ter mais intervenções culturais na cidade. É preciso respirar arte.”
Um dos pontos mais lotados durante do dia, o mirante, com vista panorâmica de SP, foi o local escolhido para as selfies e um dos mais elogiados por quem passava por ali.
Atrações ocuparam os diferentes espaços da unidade. Hermeto Pascoal e seu grupo, por exemplo, tocaram para público animado no 13º andar.
Outro atrativo da inauguração foi o palco montado na rua Leôncio de Carvalho. Ali, deve ser construído um bulevar permanente, em parceria com o vizinho Itaú Cultural.
Nele tocaram a Orquestra Sinfônica Heliópolis com Vanessa da Mata; Tulipa Ruiz, com espetáculo que misturou música e leitura; e expoentes do rap, como Emicida e Rael.
A empresária Vani Bayerlain estava andando na via quando descobriu a estrutura. “É legal ver esse movimento democrático que está acontecendo com a Paulista”, disse.
Acompanhado de sua esposa, seu filho e seu cachorro, o professor Luiz Alberto Parra se programou para acompanhar a abertura. “Eu vejo a unidade inserida no contexto da Paulista aberta.”
Às 11, antes da abertura para o público, houve cerimônia oficial. Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, recebeu nomes como Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP, Alberto Beltrame, ministro do Desenvolvimento Social, e Romildo Campello, secretárioestadualdeCultura.
“O nosso prédio se vestiu de sua melhor roupa. São as pessoas, com seus usos e apropriações e sua enorme diversidade, que darão vida a essa roupa. A paisagem humana é a que de fato embeleza a cidaci, de”, disse Santos de Miranda.
O prefeito Bruno Covas (PSDB), em agenda oficial, foi representado por secretários e prefeitos regionais. A Folha não encontrou o secretário de Cultura, André Sturm, em sua visita. Contatado, ele disse que esteve no Sesc no início da tarde e que voltaria para conhecê-lo melhor.
Bill Viola - Visões do Tempo
Sesc Avenida Paulista, av. Paulista 119, tel. (11) 3170-0800. De ter. a sáb., das 9h às 22h; dom. e fer., das 10h às 19h. Até 9/9. Grátis Há pelo menos duas décadas, o pioneiro da videoarte Bill Viola, 67, vem desacelerando o tempo em suas obras.
Enquanto o padrão da vida cotidiana é cada vez mais ditado pelo ritmo voraz e inebriante da velocidade da tecnologia, os trabalhos do budista Viola apontam como cada instante conta e merece atenção.
A mostra apresenta 12 trabalhos criados a partir do ano 2000, desde “O Quinteto dos Silenciosos” até um dos mais recentes, a instalação “Mártires”, uma das duas peças vistas de forma permanente na catedral de St. Paul, em Londres.
No Sesc, “Mártires”, de 2014, é apresentada no que Kira Perov, mulher de Viola e curadora da mostra com Juliana Braga de Mattos e Sandra Leibovi- chama de “estudo”, versão menor, mas não impactante, da videoinstalação.
Nela, quatro pessoas passam por alguma provação, seja uma tempestade de vento, seja uma violenta enxurrada.
São os tempos das adversidades, que parecem se espalhar pelo mundo. Como nas demais obras na mostra, o tempo desacelerado serve de elemento dramático, em uma coreografia precisa de corpos lentos, e também como elemento detonador de reflexão.
É essa a estratégia do díptico “Homem em Busca de Imortalidade/Mulher em Busca de Eternidade”, projeções de duas pessoas idosas nuas, que se investigam com fachos de luz, observando a passagem do tempo no próprio corpo.
Projetadas em granito preto, como se fossem lápides, as imagens apontam para o fim inevitável de toda vida.
A obra mais impactante da exposição, no entanto, é “Nascimento Invertido” (2014), pela dimensão que ocupa quase todo o pé-direito duplo do andar. Nela, um homem submete-se a correntes de distintos líquidos, de leite a um óleo escuro e viscoso como petróleo.
Mas a mostra não contém apenas infortúnios. Em “Capelas de Ações Frustradas e Gestos Fúteis” e “Estudo para o Caminho” ações se repetem de forma infinita, como a indicar que intempéries fazem parte de qualquer caminho.
O importante é seguir adiante, sugere o artista, com otimismo mais que necessário nos dias de hoje.