Folha de S.Paulo

A desgraça de Del Nero

Mais que seus malfeitos, a covardia pessoal levou ao banimento o cartola da CBF

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que perdi” DST Q Q S S Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho, Tostão | Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho | Tostão | Juca Kfouri | Mariliz Pereira Jorge

O fim de Marco Polo Del Nero começou quando ele abandonou a mulher de José Maria Marin, em Zurique, na manhã do dia 27 de maio de 2015.

Ao receber aflito telefonema dela no mesmo hotel Baur au Lac em que estava hospedado, dando conta da prisão do marido pela polícia suíça, o cartola disse que iria socorrê-la, mas preferiu ir para o aeroporto e voltar para o Brasil, de onde nunca mais saiu.

Neuza Marin, então com 77 anos, monoglota e abandonada, jamais o perdoou.

Dela partiu a maior pressão para que Marin não poupasse Del Nero em seu depoimento.

A deslealdad­e e ingratidão cobraram o alto preço que culminou com o banimento dele, apesar de com tempo suficiente para manter seus apaniguado­s na Casa Bandida do Futebol por meio do “golpe Caboclo”.

A multa de R$ 3,5 milhões que a Fifa impôs é apenas para inglês ver, porque não há motivo algum para pagá-la alijado do mundo do futebol.

Provavelme­nte Marin o poupasse não fosse a covardia da inesquecív­el manhã em Zurique. Paraquemqu­isercomemo­raro banimento dele só há um argumento: Del Nero não teve um minuto de paz em sua vida na CBF.

Tomou posse no dia 16 de abril de 2015, 41 dias depois teve de fugir da Suíça e nunca mais pôde viajar, nem com a seleção, nem a passeio, além de ter mais amargado a passagem de Dunga como técnico do que festejado a de Tite, além dos períodos em que esteve licenciado ou afastado por força maior.

Se tivesse pego dona Neuza pelo braço, e a trazido com ele para o Brasil, talvez pudesse contar com a omertà de Marin, o código de honra e voto de silêncio ensinados pela máfia napolitana que, por outro lado, não perdoa traições.

Ricardo Teixeira, ao que se sabe, não teve o nome mencionado por Marin. Bastaria um gesto cavalheiro, amigo, leal, ou, noutra palavra, de homem, para ter um futuro, aos 77 anos, menos indigno. Porque a comédia humana é assim. São os pequenos gestos que definem quem são as pessoas, o caráter delas.

Faltam, agora, as respostas que valem milhões e são três, embora possam ser resumidas numa só: por quanto tempo Rogério Caboclo, 45, ao assumir o posto em abril do ano que vem, aceitará ser visto, a exemplo do folclórico e octogenári­o coronel Nunes, como mero pau mandado de Del Nero? Sua caneta terá as impressões digitais de quem assumirá as calças que veste ou se limitará ao triste papel de laranja?

Na história da humanidade é comum os apadrinhad­os virarem as costas para os padrinhos. E depois de ter feito o que fez com dona Neuza, que moral tem o Marco Polo que não viaja para exigir lealdade de quem quer que seja?

Ferro no trio

Emoções não faltaram. Da torcida corintiana torcendo para o time não sofrer o gol que o Galo fez no fim, no Horto, depois de criar pelo menos cinco ótimas chances para fazer: 1 a 0 mais que justo.

Da torcida são-paulina torcendo para o time aumentar a vantagem de 1 a 0 no jogo em que o Fluminense, no Maracanã, acabou por empatar e que pode ser chamado de o jogo das traves, tantas vezes a bola as encontrou dos dois lados.

E da torcida do Palmeiras, em casa, torcendo para a pressão contra a Chapecoens­e virar ao menos um golzinho, o que acabou por não acontecer.

Três maus resultados para o Trio de Ferro neste Brasileiro que em sua terceira rodada já não tem mais ninguém 100%, o que revela aquilo que o campeonato tem de melhor: equilíbrio.

Equilíbrio que leva às emoções vividas pelas três torcidas, todas com motivos de sobra para se preocupar com as campanhas de seus times. O hospital alvinegro, a reação que tarda tricolor e a irregulari­dade alviverde.

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Divulgação/IFFT Calderano em vitória contra a República Tcheca

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