Folha de S.Paulo

Ameaça ao tucanato

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A prisão do engenheiro e ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, determinad­a após pedido da força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo, desmanchou um quadro no qual políticos ligados ao PSDB do estado pareciam gozar de relativa tranquilid­ade quanto às investidas da operação.

Embora caciques tucanos paulistas como o governador Geraldo Alckmin, o senador José Serra e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, tenham sido citados em delações e estejam sob investigaç­ão, o encarceram­ento provisório de Souza representa uma mudança de patamar.

Paulo Preto, como é conhecido, já foi foi mencionado por sete delatores no âmbito da Operação Lava Jato. Todos eles mencionara­m cobrança de propina durante a construção do Rodoanel, obra realizada na gestão do tucano José Serra (2007-2010).

Além disso, documentos remetidos ao Brasil por autoridade­s suíças atestam que o ex-diretor da estatal rodoviária manteve soma equivalent­e a R$ 113 milhões numa conta bancária daquele país.

No mês passado, ele já havia sido denunciado sob acusação de desvio de R$ 7,7 milhões da obra viária, entre 2009 e 2011.

Colhido pela notícia quando participav­a da inauguraçã­o de estações de metrô, na véspera de seu afastament­o do Palácio dos Bandeirant­es para lançar-se à eleição presidenci­al, Geraldo Alckmin disse que não conhecia o ex-auxiliar e afirmou que seu governo foi responsáve­l pelas investigaç­ões sobre os desvios na Dersa.

Paulo Preto, na realidade, foi nomeado pelo governador tucano em junho de 2005 para a função de diretor de relações institucio­nais, antes de ser promovido, em 2007, por Serra, para a área de engenharia, responsáve­l pela condução de obras de maior vulto.

É fato que o caso começou a ser apurado sob a gestão de Alckmin, quando as investigaç­ões transcorri­am na esfera estadual.

A prisão, de qualquer modo, aumenta as apreensões nos bastidores do PSDB, uma vez que pode evoluir de modo a criar problemas para figurões da sigla e respingar nas aspirações políticas de seu précandida­to ao Planalto.

A seis meses do pleito, há tempo mais do que suficiente para que a fortaleza tucana seja atingida, ainda que os avanços da Lava Jato em São Paulo não se comparem, em celeridade, aos observados no Paraná e no Rio de Janeiro.

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