Os privilégios das minorias
TENHO ESCUTADO por aqui e por acolá, com alguma frequência, grupos e indivíduos defendendo a ideia de que as minorias estão cheias de privilégios e que isso tem afetado a melhoria da vida da maioria das pessoas, que precisam estar sempre cedendo a esses reclamões de “mala suerte”.
Tentei examinar com calma e atenção quais seriam essas benesses que minha condição aleijada me traria e que me trouxe ao longo da vida. Estendi o raciocínio aos pretos, aos gays, aos velhos, aos índios e demais desafortunados de poder, de representação e até de empatia com a sorte, com a inteligência e com a sagacidade.
Na infância, somos nós, as minorias, reféns de nossos dramas físicos e emocionais que fazem doer a carne. Somos hostilizados por sermos gayzinhos, por andarmos devagar e prejudicar o ritmo da classe —quando existe uma classe—, isso, sermos tão piolhentos. canto se você ficar quieto, quando o médico acerta um diagnóstico que pode otimizar sua vida, quando a patroa da mãe te manda o resto do ovo de Páscoa que a família não aguentou comer, mas que, por piedade, mandou para você.
A coleção de frustrações de ser um pequeno longe dos padrões dos seres comuns ou vira carapaça tão resistente que aguenta as pedradas por sua resistência em busca de transformação social ou faz da gente feioso, perdedor, sem vontade.
Mas nada se equivale ao tempo de juventude e da vida adulta das minorias! Aí começam os tapas na cara, os tiros na fuça, as acusações de afronta à ordem por se querer ter direitos, ter acesso, ter os consagrados méritos reconhecidos. Comunistas! Chicólatras! Vagabundos!
Por outro lado, incrementam-se também os privilégios, preciso ser justo. Existem cotas para todos os identidade sexual, devidamente ultrajada por dogmas e ranços de mil séculos atrás.
Tem-se a grita por ocupações de espaços de poder, de decisão, de mídia, imediatamente calada com a força de acadêmicos altivos que dizem que tudo isso é besteira politicamente correta, que a sociedade já está devidamente antenada das necessidades “dessas pessoas”.
Mas, enfim, chegamos à velhice, unidos em nossas cores, nossos gêneros, nossas raças e nossas desgraceiras físicas, sensoriais e intelectuais. Agora somos muitos, mas, assim mesmo, minorias que atrapalham as filas, que ocupam vagas, mínima. É péssimo saber que se está levando vantagem no jogo, mesmo não entrando em campo.
Acolhe-se a quirera com a esperança de algum dia a noção de igualdade não perca tanto terreno para o retrocesso a valores primitivos, individualistas e hipócritas. jairo.marques@grupofolha.com.br